Pinda Simão, que se reuniu hoje em Lisboa com o ministro da Educação português, Nuno Crato, afirmou que Angola quer “fazer incidir esforços” na qualidade do ensino, referindo que em três províncias, Namibe, Benguela e Cabinda, há professores portugueses que estão envolvidos na formação de professores, em Língua Portuguesa, Matemática e Educação Física.
O texto é da Lusa, escrito, portanto, segundo o chamado acordo ortográfico. Por acaso, foi publicado no jornal i, que não adopta o chamado acordo ortográfico. Os professores portugueses, em Portugal, são forçados a aplicar, nas escolas portuguesas, o chamado acordo ortográfico.
Alguns professores portugueses estão em Angola, participando na formação de professores angolanos. Angola não aplica o chamado acordo ortográfico, continuando a utilizar a ortografia de 1945. Deduzo, portanto, que os professores portugueses não possam utilizar, em Angola, o chamado acordo ortográfico que são obrigados a utilizar em Portugal, pela simples razão de que não seria aceitável esses mesmos professores imporem uma ortografia portuguesa a uma escrita que é angolana.
A não ser assim, os professores portugueses estariam a comportar-se como “donos da língua”, atitude absolutamente censurável e próxima da assumida por Carlos Reis, o professor português que já explicou que Angola, “mais tarde ou mais cedo, vai ter mesmo de adoptar o AO.” Diante deste incidente diplomático, aguarda-se, a todo o instante, que Rui Machete peça, diplomaticamente, desculpas a Angola, pela ingerência de Carlos Reis na ortografia angolana, que, tal como a nação, já não é nossa.
Para além de se saber que o chamado acordo ortográfico cria desacordos entre os dois países em que está a ser mais ou menos aplicado e para além de se saber que o chamado acordo ortográfico cria desacordos no interior dos dois países em que está a ser mais ou menos aplicado, confirma-se que serviu também para criar desacordo entre Portugal e os outros países que continuam a utilizar a ortografia que o Estado Português resolveu renegar, em nome de uma unificação de direito que é uma desarmonização de facto.
Entretanto, para os responsáveis angolanos este acordo é bom, desde que seja revisto, ou seja, desde que não seja este, o que é o mesmo que dizer que este acordo não é bom. Os caminhos para se chegar a uma conclusão óbvia são, demasiadas vezes, ínvios, mas lá chegaremos todos.
Portugal e Brasil, em toda esta história, portaram-se, afinal, como donos da língua, simulando uma fuga para a frente, enquanto fingem que não ficaram sozinhos. Meia dúzia de académicos, suportados por políticos ignorantes e por muitos cidadãos distraídos, arvoraram-se em donos da ortografia e deram origem a uma das anedotas mais tristes da história da língua portuguesa.
Resta-me imaginar e invejar o alívio dos professores portugueses em Angola, ao serem obrigados a não aplicar o chamado acordo ortográfico.
Está enganado, amigo. O jornal “ii” escreve em acordês e mixordês.
Muito bem. O acordo é bom, porque melhor que o desacordo, mas deve ser revisto. A sua ‘receção’ não tem sido a melhor e tem provocado muitas ‘deceções’. Ó-menos-ó-menos acabem com as divergências que não existiam e… ah… ponham lá o acento no ‘pára’, teimosos do baralho.
Houve um acordo em 1945 que, de facto, unificava a ortografia a 99,5%
Mas, “A ortografia da 1945 foi rejeitada apenas por parecer lusitanizante ( Houaiss em 11 de Maio de 1986, em entrevista ao Folha de S. Paulo).
Xenofobia, portanto.
Mas dessa situação não vem mal ao mundo, a não ser que se prove que a ortografia do Brasil é responsável pelos elevadíssimos índices de analfabetismo (75% da população), indice que aumentou recentemente, em 2012 – algo que não aconteceu em nenhum outro país do mundo.
O inglês não tem qualquer acordo, o que não quer dizer que esteja em desacordo.
Qualquer desacordo entre os dois governos é bom, por outro lado.