Portugal e o Sémen da Palavra

Portugal, o País que amo, alberga gente com formas de pensar as mais diversas e o talento, muito ou pouco, para as expressar. Somos fauna de ideias, à procura de analogias, de caminhos e de verdades. Mas há muita dessa fauna, Fauna de Esquerda Mal-Humorada, que não tolera o pensamento diverso dos outros, a leitura diversa dos outros, pois só existe a sua leitura e a sua emissão conceptual, o seu quadro descritivo da realidade, fora do qual outro qualquer ejaculador das palavras poéticas ou poético-analíticas só pode estar doente e deverá ser ou internado ou evacuado da plataforma que usurpa para debitar e debitar-se. É como que o Perigo de Haver Diversos, o Horror de Haver Diferentes. É a teoria dos escreventes malditos. Dos corpúsculos estranhos. Do 8.º Passageiro. Em suma, o Medo do Outro. Não separo a Poética da Poética de uma Poética da Política e é a partir desse meu corpo sexuado do dizer que insemino e inseminarei com Palavras a vagina passenta dos leitores em regime de estrito consentimento. Todo o leitor é um consentidor do diálogo da palavra que afinal busca e busca porque quer. Nenhum texto, postulado ou ideia, invadem o cérebro desprevenido do leitor por penetrar. Nada mais consensual que a leitura e a rejeição da leitura. Os inquisidores proibiam leituras, indexavam-nas. Os comunistas mais petrificados e aterrorizados com o Outro fazem outro tanto. Está inscrito no pensamento único, dogmático e violento como o Islão.

Sou, portanto, pela sementeira permanente e incansável da verdade e pelo confronto das verdades. O meu sémen é a palavra que lanço e insemino incansável aqui e ali. É minha a Palavra. Lanço-a à terra da leitura. Tudo é mais complexo que o ódio simplório a Maria Luís Albuquerque e mais denso que o insulto recorrente a Passos e mais imprevisível que a baixaria robótica para cima de Portas, e mais exigente que os simplismos de Semedo, as bojardas de Jerónimo ou a loquacidade cénica de Catarina. Tudo, pelo contrário, é extremamente mais simples que o insulto justíssimo à rapacidade e à malícia Burlo-Keynesiana 2005-2011. Compaixão a quem a mereça. Moderação para com quem está preso às amarras dos compromissos. Mas não se peça moderação ao Poeta. Isso é impossível. Peça-se moderação aos culpados mediatizados, aos incendiários culpados, aos entrevistados com interesse em dividir, aos merdas moderados, aos gajos que se enganaram quando olharam para ele e disseram que era de Direita, sendo de Esquerda, ao gajo que é mais de Esquerda do que outros membros do PS, que é mais de Esquerda que o Manuel Alegre. Peça-se moderação à Esquerda que não se mede aos palmos, aos gajos da oligarquia do PS, ao chefe democrático que a Direita sempre quis ter, à vítima gay do boato homossexual. Peça-se moderação aos apodadores de bandalho, aos chamadores de estupor, a esses filhos da mãe que chamam aos outros filhos da puta e vice versa, aos filhos da mãe da Direita em Portugal que dão cabo de soluções apenas para ganharem eleições, aos filhos da mãe da Esquerda em Portugal que dão cabo de soluções apenas para anteciparem eleições peça-se moderação à merda de um moderado que insulta bandalhos, estupores e alguns filhos da mãe. A mim, nada mais que um Poeta desempregado, um Professor de Língua Portuguesa, uma rolha boiando na maré de dissipação nacional, não se peça nem silêncio, nem escondimento, nem moderação.

Quem me dera escrever a soldo, ser pago para exercer o meu maior prazer. Escrever. Infelizmente, tudo quanto tenho para viver são 295 euros de subsídio de desemprego, o tecto, o banho e a comida proporcionados pelo meus pais, vida partilhada, e muito jogo de cintura para levar os dias, emendando-os em paz às noites.

O meu sémen da palavra não é de Direita nem de Centro nem de Esquerda, é pela sobrevivência e o caminho mais curto e menos custoso para Portugal, que atravessa o actual caminho já com resultados e cumprimento de objectivos, caminho digno de esperança. Só nessa medida me parece que este Governo deve ser protegido com o máximo das minhas forças, não por ser bom, mas porque nenhum outro pode ser melhor, nas actuais circunstâncias.

Ainda ontem, ouvi — com estas minhas orelhas que o Céu há-de glorificar no Último Dia, no Fim dos Tempos, quando Marx e Lenine ressuscitarem e andarem aos beijos com Pinochet e Franco pelas cristalinas escadarias da Misericordiosa Celestialidade — ouvi, na conferência do Diário Económico/Antena 1, António José Seguro ousar pensar alto na possibilidade ou de saída do euro, ou de reestruturação da dívida, quando a mim ambos um Suicídio Colectivo de Portugal, sucumbindo à Dogmática Catastrofista de Esquerda, como melhores saídas ao empobrecimento prosseguidos pelo Memorando da Troyka e pelo Governo.

Não quero acreditar nisto. Não acredito que Seguro creia serem aquelas duas as únicas alternativas estratégicas para Portugal provenientes do seu Partido Chupcialista, o partido que depois de nos ter dado a Europa nos quer subtrair da Europa ou do Euro, que é quase a mesma coisa.

Uma quarta via, sugerida por Seguro mas sem solo europeu que se pise, fala, é certo, da sustentabilidade com orçamentos comuns na União Europeia, com um fundo de redenção para parte da dívida europeia, com licença bancária para o BCE, com o realismo nas medidas, com o limite à despesa corrente primária, com o compromisso entre gerações e entre políticas públicas, com incentivos reembolsáveis na gestão de fundos comunitários, com prioridade ao emprego, com uma economia verde. Seguro é um Poeta, como eu. E tudo o que apresenta, sonha-bola entre as mãos de uma criança simplesmente não está em cima da mesa.

Não há alternativa à baixa da despesa do Estado, ao empobrecimento circunscrito e temporário dos portugueses, ainda que a Esquerda salive insultos de toda a espécie contra a Corja da Direita, que governa no País e na Europa. No entanto, quem é, pelo amor de Deus, que não sonha, deseja, anela por mais emprego? Mais economia verde? O fim dos sacrifícios? Este Governo, se fosse impaciente e tivesse dinheiro, faria o que fez o anterior, incinerando camiões-TIR dele para a economia dos amigos, das empresas amigas com os mesmos resultados. Zero.

Seguro, enfim, foge da realidade e dos números duros como um Vampiro foge do Crucifixo. Por enquanto, ele é apenas um político só atacável por viver e navegar na mais suave fantasia e no idealismo mais vaporoso. Nada há em Seguro que seja digno de ódio ou de reprovação graves, como o seu abominável antecessor, o anticristo da política em Portugal. Seguro não decide. Não arrisca o pescoço com medidas impopulares. Pode beneficiar da dúvida e da condescendência gerais. São só ideias. Só projectos, palavras, palavras de consolo assentes na nuvem onde Juno não está.

Não percebo qual é a pressa de Seguro em ser odiado como Passos, visto como um bicho peçonhento como Passos, tratado como um cão, como Passos, alvo de toda a espécie de ataques pelo grande espectro de comentadores mediáticos pesados, senadores pançudos, como Passos, olhado e tresolhado de maldoso, cru, incompetente, nocivo, como Passos. Qual é, então, a pressa, António José Seguro?! Tu, mal te metas a caminho para seres o próximo Primeiro-Ministro de Portugal, serás, num pronto, odiado como Passos, visto como um bicho peçonhento como Passos, tratado como um cão, como Passos, alvo de toda a espécie de ataques pelo grande espectro de comentadores mediáticos pesados, senadores pançudos, como Passos, olhado e tresolhado de maldoso, cru, incompetente, nocivo.

Voltaria tudo ao mesmo. É assim. Sempre será assim. Pode sonhar-se com políticas, Tó Zé, mas só se decide com números, com o dinheiro que habita a nossa carteira e chegará ou não graças à boa vontade dos agiotas.

Portugal, visto pela Esquerda, é uma besta que hoje saliva de raiva e espuma muito justamente. Vê-se esbulhada, esmifrada, pelas necessidades de dinheiro do Estado. Há sofrimento, não se negue. Em quarenta anos, tudo aconteceu ao contrário. A dívida e o défice outrora empurrados com a barriga, comprimem agora salários e pensões. O custo de existirmos é muito alto. Mas é preciso continuar, Tó Zé. Ter alegria e procurar a felicidade, não importa o contexto.

Por isso, semeia lá a tua palavra, Tó Zé. O sémen da palavra faz o seu caminho. É delicioso que nos queiram calar por a semente cair no campo hermético das Direitas ou das Esquerdas e este sémen casto ou libidinoso da palavra que ejaculo não respeitar a vagina indisposta da leitura, como se ler não fosse voluntário, sexo consentido da Palavra pela Palavra, acto absoluto de quem vive por ela, como eu vivo, Palavrossavrvs Rex.

Comments

  1. Acho que devia ser proposto para o Prémio Nobel … de qualqur coisa!
    … mas parece que ainda não existe essa categoria.

  2. “Infelizmente, tudo quanto tenho para viver são 295 euros de subsídio de desemprego, o tecto, o banho e a comida proporcionados pelo meus pais, vida partilhada, e muito jogo de cintura para levar os dias, emendando-os em paz às noites.”
    Resume-se a isto, ponto final.

  3. nightwishpt says:

    Ó meu pateta alegre, enquanto não perceberes que a crise nada tem a ver com os gastos feitos não perceberás nada.

  4. Fernanda says:

    Amigo, não podes encurtar os teus postes?

    O “Ler mais” no final, a azul, é um constrangimento ….

    Já experimentei ler só o início e o fim; já andei pela horizontal e vertical.

    Se fosse mais curtinho o que escreves! Mas cada vez escreves mais e mais….

    • Quanto mais o espezinham mais a bosta escreve escreve escreve. A mim até me diverte empurrar esta “coisa” para a escrita, para a “arte literária”. Vamos, à custa deste elogio, mais 3 postes……………

  5. Quando estiver com grande tesão poético-politica faça sexo tântrico com as palavras e ejacule aqui num acto de profunda paixão sobre:

    A negociação da nossa entrada na CEE, as condições em que aceitamos entrar, quem ficou com parte das nossas quotas na agricultura, quem ficou com as quotas das pescas, quem beneficiou com o desmantelamento da indústria metalúrgica, da indústria naval.
    Ejacule sobre a razão de nos pagarem para não produzir, já agora, tantricamente, goze sobre toda a aposta da economia no mercado interno e, os milhões? porque não serviram para dinamizar o sector dos transacionáveis? e, quem ficou com boa parte deles (os milhões e os transacionáveis).
    Ejacule também sobre o modelo de desenvolvimento europeu concebido para Portugal à beira mar plantado e, sobre quem concordou com o modelo e, sobre quem o levou à prática e, a quem importamos 80% do que consumimos, toda a tecnologia, matérias-primas.
    Ejacule também sobre a alavancagem financeira no mercado interno Português até à véspera da crise internacional, ejacule sobre a transferência para o euro da pressão exercida sobre a divisa de referência internacional e pode ser que alcance o nirvana.

    Cumprimentos.

    • joshua says:

      Tenho ejaculado sobre o golpe das mil e uma PPP Rodoviárias BES-MotaEngil-Comissões ao bolso dos decisores, o golpe dos swap, a festa da Parque Chular, a sujeira da Cova da Beira, a miserável Licenciatura Fraudulenta, o Freeport… A bancarrota, o Face Oculta. A BANCARROTA!!!!!!!!!

  6. Este tipo não entende que, em última das últimas instâncias, nada se perde por fazer. Mas o contrário é verdade. Ele pensa que é preciso fazer o que interessa, o que é importante. Mas isso, em última das últimas instâncias, não existe. Nada vale a pena. E tudo vale a pena. O que importa é fazer, porque o fazer satisfaz, o não fazer insatisfaz.

    (uma nota: já leio a encarnação anterior, o palavrorsss), de quando em vez, há mais de 3 anos. Durante esse tempo, esteve sempre desempregado. Ainda recebe subsídio?)

    • joshua says:

      Desempregado 2007-2009. Empregado 2009-2012; Desempregado 2012-2013. «Este tipo» no seu recto.

      • O senhor (está bem assim? para quem trata muitos dos outros abaixo de cão, ficou muito sensível) está a dar um prejuízo ao país muito relevante.
        Mais tempo a receber subsídio do que a trabalhar? E ainda critica o estado social?

        Não seria já tempo de fazer “alguma coisa de útil pela sociedade”?

  7. Um problema intestinal maior do que o de José Rodrigues dos Santos. Uma desconhecida Margarida Rebelo Pinto. Um outro valter hugo mãe a aprender a lavar o sexo próprio e o umbigo mais ou menos próprio, um cérebro sem préstimo, um desempregado que merece sê-lo. O único que conheço e que justiça lhe foi feita. Falta-lhe o Nobel, mas aí o arquitecto Saraiva está à frente. Se alguém cai na esparrela de empregar esta coisa na “escrita”, adeus Paulo Coelho, Peixoto, hugo pai, Rodrigues dos Santos…. O pobre sonha que é Camilo, quero eu dizer, Camilo Lourenço e alguém lhe vem dando guarida. Num tempo em que qualquer verme defeca na fnac, um dia passo lá e deparo com mais um trampeiro. O lixo pulula em nome de “escrita”, um país que fez um Peixoto e um hugo ou um Rodrigues, também pode ajudar esta alma penada. Dêem-lhe bifes.

    • joshua says:

      E no entanto, o Carlos, que é um democrata mais democrata que o cão do meu vizinho, pitbull pachorrento e tolerante se a coisa vai como ele quer, comenta-me com indisfarçável paixão, gastando quase mil caracteres.

      Realmente, eu não tenho préstimo nenhum para si, embora me dedique dez linhas. Você agora é um deputado ou conselheiro ou senador do Aventar para estar sempre a prescrever higienes e depurações ideológicas?! Vá mas é ver se estou ali, grande fóssil!

      • Estou a gostar disto, é que quanto mais apedrejo a bosta mais ela ocupa as páginas deste blogue: a coisa alastra alastra e já é quase o único onanista da casa. Uma metástase de ocupação massiva. Uma pedrada e o “homem” vomita três postes; duas pedradas, valem seis postes, etc.

  8. Bem os drones dos usa mataram 4 mil no Paquistão – rtpinformação – 02:34H e a russia prende os greenpeace – Berlusconi parece que meteu mais uma patada dando 3 milhões de euros a não sei quem – 2006 – mas festejam com champanhe – 3 dias de greve de 3 milhões de estudantes e pais – contra a reforma elitista do sistema que comparam à época do franquismo – Tunisia e al Alqaed – beleza do mundo – mas os meninos aos saltos na rua – que bom ser menino

  9. qualquer economista de meia tigela sabe que a dívida (que ainda agora aumentou) é impagável, portanto por mais austeridade, por mais cortes, não vai mudar, a não ser que os credores o queiram, não querem.

    antes da entrada na cee também havia vida, lembra-se? ao contárario do que afirma, não foi com o 25 de abril que a corrupção assolou o nosso país, mas sim com a entrada na cee, com dinheiros que encheu os bolsos de alguns e que deveriam ter sido aplicados. o 25 de abril permite-lhe escrever o que pensa, escrever com raiva, que muitas vezes (a maior parte) tolda-lhe as ideias, senão já estaria preso ou já teria desaparecido, possívelmente não se lembra disso.

    eu continuo a defender uma discussão séria sobre a saída do euro, analisar e decidir o melhor, mas parece ser tabu. ah, ficamos pobrezinhos, passamos a ser uns atrazadinhos. afinal para quem está desempregado, o que tem a perder, quem vive mal, o que tem a perder?

    viver mal, com o país sem autonomia, sem soberania, mandado por esta gente biltre a chantagearmo-nos, não. haja dignidade.
    sair do euro e voltar ao honesto escudo, potencializar o que portugal tem de bom e tem muito, recuperar o que perdemos na agricultura, pescas, industria, mas sendo nós os portugueses a decidir o futuro do país.

    a europa unida não existe. foi uma utopia. acabou.

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