Beleza nacional

american beauty
Beleza Americana é um filme sobre as aparências, na forma como o vejo. O casal perfeito, o emprego perfeito, o másculo perfeito. Tudo uma perfeita aparência, até que o verniz estalou. Lester Burnham, interpretado por Kevin Spacey, decide mudar de vida e, no processo de transformação, sobressaem as fraquezas dos que o rodeiam, até aí encobertas numa moral vitoriana – se não se falar no assunto, pode-se fazer de conta que nada se passa. Lester acaba vitima desta metamorfose, como se se tratasse dum anti-corpo que precisa de ser expulso.

Portugal também tem a sua beleza americana e, no meio político-jornalístico-comunicacional, Fernando Moreira de Sá acabou de cometer um pecado mortal. Falou do que os partidos fazem, mas sem o admitirem. Nos partidos, no jornalismo e na bloga o assunto não é surpresa para ninguém. Mas não se pode falar nisso, ai! Jornalistas e cronistas que ora estão nas redacções, ora são assessores. Bloggers que ora são assessores ora são… bloggers.

O filme é este. Mas concretizemos um pouco, para não ficarmos nos créditos iniciais. O Corporações já é sobejamente conhecido, com os seus autores fantasma, como a própria Fernanda Câncio confirmou. Há o caso Hugo Mendes que supostamente era blogger, onde defendia independentes opiniões sobre os destinos educativos do país, até que se descobriu que era “Adviser to Minister of Education“. Depois houve aquela manobra da conferência de Sócrates com alguns bloggers, supostamente aberta a quem tenha querido participar mas que, na verdade, funcionou em regime de convite (para o caso de haver reclamações quanto a este aspecto, na altura documentei e guardei o histórico das inscrições que demonstram o que afirmo). E há  a questão da ‘central’ de propaganda do anterior governo.

Só num breve parágrafo, aqui estão exemplos, no campo PS, de identidades falsas(*), acesso a informação privilegiada, manipulação na blogosfera e uso de dinheiro público para propaganda partidária. Com a entrevista do Fernando, as manipulações PSD e do CDS também ficaram claras. Não deixam, portanto, de constituir um coro de hipócritas esses que agora se fazem de novas perante o que todos sabiam.

Aproveito para incluir um boneco de há tempos, deixando a questão: o que é que é real? Na actualidade, onde a informação está à distância de uns cliques, já não se consegue bloquear o acesso às fontes, como acontecia no tempo pré-Internet. Nessa altura era fácil. Quem controlasse a redacção, controlava o que viria a público. Mas agora qualquer um pode publicar factos, constituindo um problema para os aspirantes a censores. É neste contexto que entra a contra-informação. Se se bombardear a audiência com larga quantidade de informação, verdadeira ou não, como é que se consegue distinguir o que é que é real do que seja ficção? Os factos perdem força. Foi esse o papel da central de informações que entrou em funcionamento no primeiro governo Sócrates. Foi a mesma técnica usada para levar Passos Coelho ao poder. E agora estão desmascaradas. Parabéns, Fernando!

a alegoria da caverna dos mediaSombras de notícias ou realidade?

(*) Sim, identidades falsas. Propositadamente foram usados nomes plausíveis para dar a ilusão de que de facto era alguém com esse nome que estava a escrever. Isto é manipulação grosseira e difere, muito, do uso de nicknames. Valupi, do AspirinaB, é um nickname. Miguel Abrantes, do CC, é uma fraude. Contrariamente ao que dizem a Câncio, o Ferreira Fernandes e demais correlegionários, pseudónimos são para a literatura; na política política servem para esconder a(s) identidade(s). E o plural aplicado ao CC está muito correcto. Nunca se tornou público quantos é que usavam aquela identidade falsa mas eram vários, o que se comprovou a determinada altura com a troca de identidades de quem assinava os posts. O 31 da Armada documentou isso, é uma questão de se procurar.

Comments

  1. O “pecado mortal” do FMS não foi falar do que os partidos fazem sem o admitirem.

    O “pecado mortal” do FMS foi ser ele próprio a fazê-lo. Se tivesse ido parar ao governo como os seus correligionários trollistas o foram, estava agora caladinho que nem um rato. Mas resolveu sair do esgoto, vangloriar os seus talentos, vingar-se de o não terem promovido. No reino da vale tudo até uma ratazana tem direito ao seu minuto de celebridade.

    • j. manuel cordeiro says:

      Se ele falasse sem conhecimento de causa, estaria a mandar bitaites. E como imagina, os partidos não andam propriamente a falar na praça pública sobre as suas práticas. Logo, só com inside infornation.

      Lança processos de intenções. Sabe do que fala ou é mais um a mandar bitaites, escondido a trás de um nickname? Pois é…

      O que eu vejo é alguém que reflectiu sobre o estado das coisas, com conhecimento de causa e que publicou um trabalho académico dentro das normas da instituição onde estudou. O resto são azedumes partidários.

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