Papa Francisco e a economia mortífera

Sou agnóstico, opção, a meu ver, não impeditiva de manifestar apoio e concordância a posições políticas de religiosos – o Papa Francisco, no caso.

Nada me estorva, pois, na adesão às ideias de contestação do doloroso e injusto mundo em que vivemos, independentemente do credo ou doutrinas de quem as defende. Distancio-me de opiniões em outras matérias ditas ‘fracturantes’ – aborto, por exemplo – embora reconheça haver progressos em relação a antecessores.

Subscrevo, na íntegra, as críticas do Papa, expressas aqui, ao modelo económico universalmente dominante; críticas essas sintetizadas no 1.º parágrafo de notícia no ‘Público’:

 O Papa Francisco atacou o capitalismo sem limites como “uma nova tirania” e advertiu que a desigualdade e a exclusão social “geram violência” no mundo e podem provocar “uma explosão”, na sua primeira exortação apostólica, divulgada nesta terça-feira pelo Vaticano.

Comparativamente com declarações proferidas na Aula Magna, gostaria de saber a opinião de várias figuras de direita, em especial de Paulo Portas sobre o discurso papal e no que se refere à potencial violência gerada pela crescente desigualdade no mundo – tema excelentemente tratado no artigo ‘Inequality is a Choice’ (‘Desigualdade é uma Escolha’) por Joseph Stiglitz no ‘The New York Times’ em 13 de Outubro de 2013.

De regresso a Paulo Portas, e na certeza de lhe será fácil obter a cooperação do agora mais disponível D. José Policarpo, imagino que o irrevogável revogado vice-PM se empenhará em lançar um movimento para excomungar o Papa Francisco, com o fundamento de se tratar de um perigoso esquerdista infiltrado na ICAR.

A terminar deixo um apelo ao Papa Francisco. Também a Igreja de Roma, através do IOR (Banco do Vaticano) é um histórico pecador de operações financeiras internacionais, semelhantes àquelas que ele agora denuncia – o ocorrido com o Banco Ambrosiano e a fuga do ex-cardeal Marcinkus, entretanto falecido, são apenas duas de múltiplas máculas nefastas no recurso à exploração capitalista agora contestada pelo Chefe da Igreja Católica Apostólica Romana.

O Vaticano terá de dar provas inequívocas de pró-actividade para a depuração do sistema, no sentido do estabelecimento global da ética e do respeito pelos direitos humanos.

Comments

  1. Fernanda says:

    Mais outro perigoso esquerdista e força de bloqueio.

    • AACM says:

      ” Evite falsos profetas, que surgem vestidos de ovelha, e no intimo sao lobos vorazes. ” MATEUS……….cuidado Papa Francisco eles andam ai.

      • Fernanda says:

        O jeito que fazem uns óculos escuros….Eles andam aí! They live!

        Quando a realidade ultrapassa a ficção e deixa de ter piada.

    • Carlos Fonseca says:

      Esqueci-me – e força de bloqueio, claro.

  2. portela says:

    Gostava de saber como o Papa Francisco avalia o procedimento de Inocêncio III, para mim o Papa fracturante cuja corte, segundo Matthew Paris, terá ridicularizado Francisco de Assis em Roma, quando este lhe foi pedir autorização fundar a sua Ordem. A roupa que usava era demasiado pobre. Acho que foi um mau sinal. Pior, Inocêncio III passou a coroar Imperadores, e desde então a moda pegou.

    .

  3. O Papa Francisco tem um bom aparelho mediático a acompanhá-lo e pelos vistos com resultados. Já Bento XVI tinha diabolizado o capitalismo, andava distraído? E pelo menos desde Leão XIII que a Igreja entende que o capitalismo não é próprio de um cristão. O Vaticano II chegou ao ponto de dizer: Não se dê aos pobres a título de caridade o que já lhes é devido a título de justiça.

    • Fernanda says:

      Deve ser mesmo uma diferença no aparelho mediático.

      • Carlos Fonseca says:

        Fernanda, há cada comentário! O Papa Francisco tem um bom aparelho mediático que o adormece ao som do tango. Bento XVI servia-se de uma ‘Telefunken’ dos anos 20, sempre avariada. Nos tempos modernos, tudo se resume a diferenças tecnológicas.

    • nightwishpt says:

      O Bentinho falava baixinho a ver se ninguém reparava nos pecados da igreja.

    • Bento XVI foi muito mais vago na sua condenação do capitalismo. Francisco foi radical e teve a ousadia de não medir as palavras. Bento falou, propositadamente ou por escrúpulo diplomático, de maneira a poder não ser ouvido; Francisco não esteve com diplomacias e declarou sem ambiguidades de que lado está.

  4. Obrigado por me deixar comentá-lo, Carlos Fonseca, apesar da exclamação. Já agora ature-me outro, talvez ganhe o céu.
    Bento XVI escrevia e escreve, sobre o que pensa. Dá trabalho ler, mas vale a pena.

    • Carlos Fonseca says:

      Também o li, mas fez parte da cavalaria ‘ultramontana’ à volta de João Paulo II, com Marcinkus e outras tenebrosas figuras da ICAR que tem no IOR o instrumento de apropriação e gestão de negócios financeiros abjectos que o exemplo do Banco Ambrosiano demonstrou. Mesmo sobre o Papa Francisco, e lembro que sou agnóstico, espero para ver o efeito prático das teorias que defende, embora lhe conceda o benefício de opinião favorável quanto aos princípios e críticas que acaba de publicar.
      A morte de João Paulo I é outro acontecimento que os ultramontanos evitam discutir, quanto mais explicar.

  5. Entre todos os males que afligem o mundo, o Papa dedicou especial atenção aos “focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio duma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado”.

    Num momento em que a Europa debate formas de ultrapassar a crise, o Sumo Pontífice denunciou “as ideologias do liberalismo radical e da tecnocracia” que insinuam “que o crescimento económico se deve conseguir mesmo à custa da erosão da função social do Estado, […] bem como dos direitos e deveres sociais”. Considerando que “o direito ao trabalho é um dos mais ameaçados”, Bento XVI pede “novas e ousadas políticas” que reconheçam o emprego “como bem fundamental para a pessoa, a família, a sociedade” e não como “uma variável dependente dos mecanismos económicos e financeiros”.
    http://www.publico.pt/mundo/noticia/papa-denuncia-capitalismo-desregrado-como-uma-ameaca-a-paz-1579135

  6. O Papa chumba de facto esta economia de exclusão e de inequidade e diz claramente: mata.
    Mas também diz que a causa desta economia está numa crise antropológica que “reduz o ser humano a uma só das suas necessidades: o consumo”
    Uma crítica direta a quem defende a saída da crise pelo despesismo para alimentar o consumo.
    Fala igualmente da idolatria do dinheiro, da falta de ética, da ganância, etc.
    São muitas dezenas de página onde quem for de esquerda ou de direita escolherá o que lhe interessar para defender a sua tese, pois não é uma exortação ideológica.
    Tanto a direita, como a esquerda se colocassem a ética e o bom-senso (mesmo sem trazer o fator teológico do documento) veriam que nem a ditadura financeira, nem via do consumo para o crescimento económico são vias justas e sustentáveis para o ser humano.

    • Carlos Fonseca says:

      Cefaria, onde está no meu texto a defesa da sociedade de consumo? Dê as voltas que der, a publicação “EVANGELII GAUDIUM” não se pode furtar à condição de ideológica (Ideologia = sistema de ideias, valores e princípios que definem determinada visão do mundo…). Naturalmente, em face das concepções e do contexto do mundo globalizado e desigual, dominado por “tiranos financeiros”, obviamente de direita, o Papa Francisco privilegia o ideário de esquerda, na argumentação utilizada. De resto, a respeito dos riscos de violência potenciados pelo sistema dominante, o discurso papal ainda foi muito para além das declarações de Mário Soares que, recorde-se, não beneficia da mesma escala de audição universal.
      Compreendo, e porque lhe convém, a direita se tente envolver na mesma cama com a esquerda, nesta aventura. É um artifício sem rigor nem destreza. Falso e inábil mesmo! Coisas da direita, o que é que se espera?

      • E onde está no meu texto uma referência ao que pessoalmente defende?
        Eu falo, cito o documento e junto outras referências que também constam da exortação apostólica, não tenho complexo, como católico que esteve ligado à doutrina social da igreja, em criticar a tirania financeira da direita ou a insustentabilidade do consumismo endeusado para sustentar a economia (aspeto que também critico pela minha visão ambiental) que a esquerda que não se revê em ditaduras do proletariado defende.
        E antes de Mário Soares que fala interesseiramente e do socialismo nascer já Charles Dickens chamaram a atenção para os extremismos que as injustiças dos dominantes podiam levar:
        http://geocrusoe.blogspot.pt/2013/11/historia-de-duas-cidades-charles-dickens.html ou
        Não me deito na companhia da esquerda, nem da direita e até Victor Hugo falava na ditadura da dívida em que nos meteram políticos de esquerda e de direita que agora falam como se fossem inocentes.
        Mantenho: a exortação de Francisco é religiosa, fala de questões políticas à luz da fé mas não é um manifesto de esquerda ou de direita.

        • Para a oligarquia financeira, a exortação de Francisco é de esquerda. Porque quem não está com eles está contra eles. Francisco não se deixou intimidar pelo rótulo que sabia que lhe iam colar, e fez muito bem.

    • Cefaria, a última coisa que eu esperava era que alguém visse nas palavras de Francisco uma crítica às teorias de Keynes. O “despesismo” é um mito inventado pela oligarquia financeira para encobrir o facto óbvio de haver boa despesa e má despesa, e assim justificar a destruição do Estado. Quanto às propostas – correctas – de resolução da crise pela via da procura, só por muito má fé se podem confundir com uma defesa do consumismo. O consumismo é, como toda a gente reconhece, parte do problema e não da solução; mas a satisfação das necessidades básicas das pessoas não é consumismo.

  7. AACM says:

    OPERAÇÃO LAVAGEM da Aula Magna…..colar as palavras do Papa Francisco, ir a missa no próximo Domingo, na próxima aula ir todos vestidos de branco a imitar anjos e apóstolos….mas que grande lata.

  8. MEDO. MUITO MEDO!

    Não tem nada a haver:

    Pode pergutar-se se vão acabar com os homens ou o seu membro sexual vai ser descartado?

    Repare-se:

    Sony entra com patente para «peruca inteligente vibratória»

    http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=671196

  9. Não sou, nem católico, nem neoliberal. Precisamente por isso, porque estou de fora a olhar para ambas as coisas à mesma distância, é que me dou conta daquilo que muitos católicos e muitos neoliberais não conseguem ou não querem entender: as duas doutrinas são radicalmente incompatíveis. Não se pode servir ao mesmo tempo Deus e o Diabo.

  10. Excomungar Francisco, não digo, mas é natural que João César das Neves já esteja a caminho de Roma para evangelizar o Papa…

  11. An intriguing treatment is couturier interpret. I suppose that you should make many on this message, it might not be a prejudice substance but generally fill are not sufficiency to verbalise on much topics. To the succeeding. Cheers like your 301 Moved Permanently.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading