Obama, Draghi e a pobreza explosiva na Europa

Exclusão de Pobreza e Exclusão Social (% da população total, 2012)

pobreza_eurostat_5-12-2013

Tenho criticado o presidente Obama. A meu ver, relativamente a determinadas expectativas – acção decidida e exemplar contra os ‘paraísos fiscais’, por exemplo – o presidente norte-americano revelou-se mais do que ineficiente. Errou, ao integrar no governo Timothy Geithner (2009-2013), ex-CEO da poderosa e sinistra Goldman Sachs, e outras figuras hediondas que causaram a gravíssima crise financeira e social de dimensão global.

Barack Obama, agora, manifesta-se contra a desigualdade crescente no mundo. “Se não fizermos nada, então o crescimento será mais lento do aquilo que deveria, o desemprego não baixará tão rápido como deveria e a desigualdade em termos de rendimentos continuará em alta (…) Esse não é o futuro que devemos aceitar”, sublinhou o presidente dos EUA em sintonia com a tese da “economia que mata” do Papa Francisco.

Do outro lado do tabuleiro do ‘jogo da economia mundial’, temos adversários paradigmáticos e indefectíveis neoliberais. Um deles é o presidente do BCE, Mário Draghi, outro ex-Goldman Sachs, mestre na intrujice das ‘contas públicas’, como demonstrou na Grécia. Diz a notável figura, desumana e tecnocrática, que vê o regresso de Portugal aos mercados mais próximo.

O nosso regresso aos mercados, diga-se, se interpretado a preceito, é uma maior facilidade de endividamento da Pátria Portuguesa, ainda há dias demonstrada pela “troca” de 6,6 mil milhões de euros a taxas superiores a 4,9% /ano. Isto, não obstante os sacrifícios exigidos desde há dois e meio à população.

A facilidade de aumentar o endividamento (em 2013, os 123% do PIB de dívida pública estimados pelo FMI transformaram-se em 127,8%, ainda em termos de previsão) é um benefício ilusório, interessante para o sector financeiro – bancos e investidores – mas redunda no agravar da economia, das desigualdades e condições de vida dos portugueses – mais de 2,7 milhões de concidadãos viviam em 2012 em situação de pobreza, conforme dados do Eurostat no quadro que se reproduz na imagem acima.

Sabíamos já que grande parte da população vive na pobreza, alguns mesmo na miséria, enquanto outros, poucos, vêm as fortunas aumentadas de 17% desde há um ano – Amorim, Soares dos Santos e Belmiro de Azevedo, entre os demais.

Poderá o País e o mundo continuar a trilhar estes caminhos? Quero crer que, mais cedo do que tarde, e porque não é apenas Portugal a sofrer da patologia, esta terá um fim. Provavelmente doloroso e trágico para a Europa. Tão turbulento quanto decisivo. Infelizmente.

Comments

  1. Fernando says:

    Obama, o tal que mata por controlo remoto e ao mesmo tempo prémio nobel da paz, é tal como os socialistas aqui, pensam porque dizem umas coisas simpáticas o povinho vai-se jogar nos braços deles, isso era noutros tempos quando os democratas/ socialistas fingiam melhor que não serviam interesses ilegítimos.

    A dita esquerda moderada não é mais que uma ferramenta das elites, quando está no poder faz de tudo para agradar aos banqueiros para depois serem recompensada com um qualquer lugar na irmandade do dinheiro, quando está na oposição é oposição controlada, de forma a criar a ilusão que fazem oposição à direita. O jogo está viciado.

    Obama = neoliberal, e sempre o foi, ele vai usar a presidência para depois ir ganhar milhões num qualquer banco que o financiou e ajudou a criar o “fenómeno Obama”, tal como fez o “esquerda” Bill Clinton vai acabar com os bolsos cheios de $$$, enquanto isso, os EUA são hoje um país ainda mais desigual, mais que na era de Bush…

    Obama não é apenas um inocente que não o deixam fazer o que ele queria, ele é um activo da elite extremamente corrupta, talvez a mais corrupta da actualidade, a elite americana…

    • Carlos Fonseca says:

      Começo o texto do ‘post’ assim:
      Tenho criticado o presidente Obama. A meu ver, relativamente a determinadas expectativas – acção decidida e exemplar contra os ‘paraísos fiscais’, por exemplo – o presidente norte-americano revelou-se mais do que ineficiente. Errou, ao integrar no governo Timothy Geithner (2009-2013), ex-CEO da poderosa e sinistra Goldman Sachs, e outras figuras hediondas que causaram a gravíssima crise financeira e social de dimensão global.
      Todavia, desanca-me a valer.
      Há muito que não acredito em Obama. Apenas me servi de uma intervenção pública contra a desigualdade – feita talvez por pressão dos negros e latino-americanos da classe pobre que, agora, se estão a movimentar nos EUA contra os baixos salários. Estive lá há pouco tempo (NY e Boston) e testemunhei manifestações de enorme descontentamento. Citar Obama, neste caso, é como citar o Papa sobre a mesma matéria, sendo eu agnóstico. Na Europa, da CE a um líder no poder, um que seja, nenhum afronta a Madame Merkel contra a austeridade, a pobreza e a desigualdade em expansão. Foi este contraste que tentei salientar, com o mafioso Draghi à mistura. Percebido?

      • Fernando says:

        O papa Francisco não sendo estúpido, e fazendo parte de uma corporação milenar com bastante experiência já terá percebido o que vem por aí, logo, está a preparar a sua corporação para um período de transformação e convulsão social de forma que essa mesma corporação continue a ter clientes no futuro.
        Obama (e os socialistas) não sendo muito esperto e ansioso por encher os bolsos como os antecessores julga porque diz umas coisas fofas mas mantendo o poder ilegítimo das decadentes elites financeiras vai agradar a plebe, não vai. Tanto lá como cá, o poder politico e o poder financeiro não servem os interesses da maioria, e não estão a fazer nada para alterar a situação.
        Em relação a Merkel ser pior que Obama, só digo que os americanos são mesmo muito bons na intrujice.
        Também dá um jeito do caraças ao Obama o Dollar ser a moeda reserva mundial, e ai de quem que não aceite esta realidade, sabemos bem o que lhes acontece…
        Não leve a peito a minha discordância Carlos, ainda bem que voltou ao Aventar, mas há coisas em que não posso concordar consigo.

        • Carlos Fonseca says:

          Desde muito novo, e por educação familiar, que aprendi a respeitar as opiniões de terceiros, mesmo que divergentes das minhas. Sem ressentimentos e apenas na defesa salutar e democrática do respeito por quem pensa diferente. E a invocação de intervenções de Obama e do Papa servem apenas para reforçar a minha contestação do mundo de profundas desigualdades em que vivemos.
          A discordância é um dos aspectos do debate, sobretudo entre quem pensa diferente mas defende o valor supremo da justiça social à escala universal.

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