A História é o que a malta quiser

manuel_fernandes_tomaz

As seitas; religiosas, futebolísticas ou políticas, são pela sua natureza um perigo para a espécie humana. Começa por enfrentá-lo quem lá entra, acaba a levar com ele quem está de fora.

Solidário com um correlegionário defensor do homicídio por especulação com medicamentos, Mário Amorim Lopes decidiu brindar-me com a peculiar noção da História dos insurgentes, uma seita que alimenta este governo e é sua vanguarda ideológica. Sentem-se, que já vi gente a cair ao chão por menos do que ler isto:

Em 1789, principiado na Revolução Francesa e perpetrado durante o Reino de Terror, os jacobinos e os proto-socialistas em formação ideológica acercavam-se da vida dos outros através da guilhotina.

Deixemos os atentados básicos à língua portuguesa, principiados e intermináveis, fiquemos por esta mirabolante definição da primeira revolução liberal europeia, onde pelos vistos abundavam os “proto-socialistas”, conceito eventualmente encontrado no cérebro de um protozoário mal disposto em dia de diarreia mental. Como qualquer português que tenha concluído o 8º ano de escolaridade com mais de 1 a História sabe, o liberalismo entra em Portugal pela mão francesa, napoleónica e não só, mas de súbito Manuel Fernandes Tomás, o primeiro mártir do liberalismo português, poupemos ao Mário uma ida ao google, fica entalado entre o jacobinismo e o proto-coiso.

Em política o método experimental tem a sua eficácia, mesmo que roubado aos iluministas, esses proto-marxistas, diz o tico para o teco no cérebro do Lopes quando encontram uma sinapse. E gostei deste resultado, mais uma concretização do óbvio: os ditos neoliberais portugueses de hoje no séc. XIX fariam felatios ao Miguel usurpador da coroa, e século fora estariam ao lado da velha aristocracia que resistia à chegada do capitalismo. Esta aparente contradição, que os ora fervorosos defensores do capitalismo no fundo sonhem com um regresso ao feudalismo, o esclavagismo está um bocado fora de moda, não é contradição nenhuma: há uma constante histórica na ideologia das classes dominantes em Portugal, que nunca larga o seu miguelista sonho perdido. A constante da permanente traição à pátria, tanto se esforçaram para que fossemos castelhanos, espanhóis, ingleses e ora alemães, o desprezo pela vida humana, e a estupidez congénita que as ancestralidades incestuosas da aristocracia num país pequeno provocaram.

Juntem a isto o funcionamento enquanto seita, e ao pé destes novos cruzadas o alqaedismo é para meninos.

Adenda: esta fotografia:

Korea Hidden History

com que o Mário Amorim Lopes ilustrou a sua inventariação de crimes onde lhe apeteceu incluir-me, corresponde ao massacre de Bodo League, ocorrido em 1950 e no qual entre 100 000 e 200 000 comunistas coreanos foram purificados pelas armas do que mais tarde viria a ser a Coreia do Sul. Foi tirada pelo Major Abbott, do Exército americano, não se percam os créditos, e devolvo-lha com amor, carinho, ternura e votos que um informático tão incompetente seja rapidamente enviado para o mercado do desemprego.

Comments

  1. O proto escarreta Menino Mário nem merecia um post nem o meu comentário. Mas, pôrra, é Natal. Que o menino Jesus te olvide de todos os teus pesadelos húmidos de sangue.

  2. sinaizdefumo says:

    Boa, cacetada neles, caterva de ignaros.

  3. H.l. says:

    Nunca ouviu falar do despotismo jacobino? O Terror é liberal? Uma contradição nos termos…
    Quanto ao que escreve “e século fora estariam ao lado da velha aristocracia que resistia à chegada do capitalismo” – a esmagadora maioria da alta aristocracia portuguesa era liberal.
    O amante da Severa, o Vimioso? Diria que era “marialva” e miguelista? Pois, mas desembarcou no Mindelo para, pela força das armas, derrubar D. Miguel. Ele e centenas de outros, das grande Casas de Portugal, do Marquês de Castelo Melhor ao que depois foi Duque de Palmela, passando pelo Marquês de Fronteira.
    Aprenderam na prisão, às ordens do corruptíssimo Pombal, a detestar o despotismo.

    • Tanto disparate junto. Os jacobinos eram liberais, tão ou mais que os girondinos, a revolução francesa foi uma revolução liberal com um contributo decisivo para o desenvolvimento do capitalismo em França. Qualquer manual de História do 8º ano lhe explica isso.
      Quanto ao facto de parte da nossa aristocracia ter sido liberal, a começar no Pedro IV, qual é o espanto? Nuno Álvares Pereira também pertencia à nobreza. O facto é que a maioria dos morgados e a nobreza mais poderosa em alturas de crise sempre preferiu a união dinástica, incluindo vários reis que a prepararam. E deixe lá o Marquês em paz, foi o segundo liberal português, iluminista e mercantilista qb, o despotismo iluminado era banalidade na época.
      Essa mania de limpar a História dos terrores que conduziram ao capitalismo, nem com lixívia lá chegam.

      • E já agora, grandes “Casas de Portugal” é algum arranha-céus?

        • H.I. says:

          Assim à mão Casa: 14. Família pertencente à nobreza ou à realeza (ex.: casa de Bragança)

          “casa”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/casa [consultado em 16-12-2013].

          • Ah, a aristocracia e suas terminologias herméticas. Bem me parecia que não se tratava de um edifício, essa coisa tenebrosa construída por maçons…

          • H.I. says:

            A maçonaria e a aristocracia ou o clero não se excluem em Portugal, muito pelo contrário, e desde o séc. XVIII. Houve até quem reunisse as três qualidades. De Costa Cabral a Miguel Relvas, passando por António Arnaut, ou o chefe nominal do Estado Novo, o Marechal Carmona, todos eles foram e são maçons.

          • H.I. says:

            Caso tenha a obsessão da última palavra pode deixá-la, infra.

      • H.I. says:

        Não tive a dita de ter História do 8º.
        Como saberá, o liberalismo funda-se em Locke.
        Quanto aos jacobinos, aconselho a leitura de Échec au liberalisme, Les Jacobins et l’État do Lucien Jaume, que lhe trará umas luzes sobre o assunto e lhe explicará o que divide um jacobino de um liberal.

        Ah, e que “união dinástica” preferia, então, a aristocracia quando desembarcou no Mindelo?

        Quanto ao Pombal ser liberal anoto com gosto, assim como aquela de que o “despotismo iluminado era banalidade na época”.

        • A escolaridade ora obrigatória faz falta. Comede por aí, incluindo o Português para não tresler o que escrevi, a História é uma ciência com uns seculozitos de existência. Já as “ciências” políticas do seu Jaume nem por isso. A mania de separar a História das Ideias da História Económica a Social tende para muito para o disparate fácil.

          • H.I. says:

            A questão é histórica. Trata-se de estudar o regime do terror de estado do jacobinismo sobre a população civil francesa e procurar explicá-lo.

          • A população civil francesa teria uns 10% de nobreza e clero. Foi sobre esses, e alguns adversários políticos, sem dúvida, que mui justamente se exerceu o tal de terror.

          • H.I. says:

            Os revolucionários franceses cometeram o 1º genocídio da idade contemporânea, sendo muita gente assassinada apenas por pertencer a determinado estrato social. No entanto, as vítimas atingiram as muitas dezenas de milhares, sendo a maioria camponeses.
            Numa só tarde foram canhonados em Lyon 200 homens, mulheres e crianças.
            Pretender que as mortes fossem da aristocracia e do clero ou é pura ignorância ou má fé.

            Quem quiser ficar com uma noção da dimensão do horror:
            http://fr.wikipedia.org/wiki/Terreur_%28R%C3%A9volution_fran%C3%A7aise%29
            http://fr.wikipedia.org/wiki/Soul%C3%A8vement_de_Lyon_contre_la_Convention_nationale

          • Genocídio? fantástico. Quer uma amostra do que matou a monarquia francesa antes, ou o massacre da Comuna de Paris chega?
            Tanta conversa para misturar História com propaganda monárquica. Claro que houve mortos, mas de parte a parte. Quem vai à guerra dá e leva. E a Revolução Francesa é só o fundamento do mundo contemporâneo ocidental, a começar no próprio capitalismo que ali se libertou. O resto é defender ideologias desculpando-as com uma versão deturpada da História, uma coisa também conhecida por propaganda.

          • H.I. says:

            A economia moderna não começou em França, mas com a Revolução Industrial, em Inglaterra, por mais que isso tivesse contrariado as teses do marxismo, quando estas estiveram em moda, anos atrás.
            Quanto ao genocídio cometido pela revolução francesa, está reconhecido e ninguém o nega.
            Dentro e fora de França.
            “Os fusilamentos do 3 de Maio” de Goya servem de ilustração desses crimes.

          • Nem sei como tenho paciência para aturar um analfabeto que confunde fuzilamentos ocorridos em Espanha no ano de 1808 com a Revolução Francesa de 1792. Daqui a bocado o Napoleão também era jacobino, revolucionário e cometeu “genocídios”.
            Não vale a pena explicar-lhe que a Revolução Industrial inglesa tem atrás de si outra revolução, ocorrida no séc. XVII. É que para os talassas essa não conta, manteve a monarquia… enfim, propagandas.

          • H.I. says:

            Ninguém foi a guerra nenhuma: os jacobinos apoderaram-se do governo e, criminosamente, mataram que se fartaram impondo um regime a que eles mesmos orgulhosamente intitularam de Terror.

          • Defenda lá o absolutismo do Luis XVI, um excelso pacifista, e toda a sua legitimidade governativa por via da jurisprudência divina, esse sacrossanto mandato popular, esbanjador como pouco enquanto a populaça morria de fome.
            Era mesmo aí que eu o queria ver chegar. O algodão com as seitas monárquicas nunca engana. O pseudo-liberalismo também não.

        • H.I. says:

          Seria interessante saber em que é que a existência de um parlamento (desde 1649) ou a chamada revolução de 1688 contribuiu para a revolução industrial. Há medidas sobre as enclosures desde os Tudor e ao contrário do que era geralmente afirmado, a população colaborou activamente nelas. Estão desmentidas, também, as consequências demográficas.
          No séc. XVII e XVIII, a Holanda tinha condições políticas muito semelhantes às inglesas e, em França, 20 anos de governo de Colbert – com grande progresso industrial – tinham posto a França à frente da Inglaterra em muitos domínios.
          A “gloriosa” não traz qualquer explicação para a revolução insdustrial numa terra onde o poder político foi detido efectivamente pela aristocracia até bem tarde no séc. XIX.

          A história é uma fonte de desgostos.

          Sobre o 3 de Maio: matar gente fora de França é legal? O exército francês não ia levar o ideário da revolução aos povos? Junto foi recebido em Sacavém pela delegação da maçonaria como trazendo as ideias “novas”.
          E o mação “Rei” José Bonaparte não foi fazer o mesmo a Espanha? Os fuzilados do 3 de Maio defendiam os Bourbons.
          Seja consequente e defenda os fuzilamentos.

          • Invadir povos é contra os meus princípios, em qualquer época da História. Defender Napoleão Bonaparte ainda mais.
            Eu sei que lhe dava jeito, mas eu nem sou liberal (com uma costela libertária sim, mas na velha tradição anarquista), e apenas registo o facto de as tropas francesas terem espalhado o liberalismo pela Europa, provocando depois da sua passagem aquilo a que se chama, com propriedade, Revoluções Liberais.
            Eu da Revolução francesa apenas guarda a sagrada República (que o NB espezinhou) e os princípios de Igualdade, Liberdade e Fraternidade.
            Terrores há muitos, tiveram os jacobinos com quem aprender na velha tradição absolutista e anti-burguesa.

  4. Aventar de dezembro – leituras de pré-Natal – deitar fora o lixo para um “novo sol” ?? Cá espero

  5. UI10 says:

    João José Cardoso, ajude-me a perceber uma coisa. Então a pessoa que não se importava de comprometer a possibilidade de muitos dos seus compatriotas acederem a um medicamento capaz de prevenir um AVC ficou ofendido por alguém dizer que ele merecia um? Essa mesma pessoa é capaz favorecer os negócios em relação à saúde dos outros, mas distorce a história quando lhe dão a provar do próprio veneno?

    Já que estamos em maré de analogias foleiras (mais ou menos “inventadas”, como as tradições do Hobsbawm), essa pessoa faz-me lembrar o Mao e o seu salto em frente. O chinês queria desenvolver o país a todo o custo e as famílias foram forçadas a derreter os woks para garantir a duplicação da produção de aço. O português quer garantir o direito ao lucro a todo o custo e não tem vergonha de ser um canalha.

    • Considerando que nem uma linha, entretanto, por aqueles lados se escreveu defendendo o crime farmaceûtico, e voltando a Mao, a diferença entre um neo”liberal” e um maoísta é simples: não praticam a auto-crítica e chutam para a frente como nos campeonatos distritais.
      Compreende-se: o maoísmo levou a tradição católica da confissão para o seio do partido, esta seita não precisa, vai ao pároco de confiança, reza umas lengalengas, e volta sossegada para o local do crime.

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  1. […] vivem-se tempos agitados, com direito a um momento História-DIY, mas sem terem previamente lido o livro de instruções. A linha retórica consistiu em enumerar umas quantas desgraças, numa perspectiva maniqueísta de […]

  2. […] pergunta: eu acho que a vida do Mário Amorim Lopes não tem preço. Mais que não seja, perder um idiota tão útil seria um […]

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