O Porto tem uma coisa nova, arraçada de praça, dizem, e que dá para as traseiras dos prédios que foram reabilitados, e ainda bem que o foram, para que “os jovens” venham viver e procriar na baixa. “Os jovens”, sempre a puxar para a subversão, viram os preços das casas e fugiram antes para as ruas velhas, com prédios em ruínas, mas com rendas que lhes permitem manter luxos como três refeições por dia. Ficou a coisa arraçada de praça lindamente decorada para o Natal, com luzinhas, toda fechadinha sobre si mesma como uma couve-penca, com muitos cartazes de T0, T1 e T2 para venda, e uma arvorezinha nua, estilizada como deve ser uma árvore chique. Às janelas dos prédios ainda não se assoma ninguém, nenhuma mãozinha pequena a acenar cá para baixo, nenhuma velhota a despejar alpista no prato do canário, nenhuma peça de roupa no estendal (co’ horror, estendais).
A coisa arraçada de praça fica no quarteirão de um hotel de luxo e esconde debaixo dela um parque de estacionamento. É um espaço privado, tem portões, os portões fecham, coisa que “até para a segurança é uma coisa positiva”, disse o antigo presidente da câmara quando foi inaugurá-la. É sabido que o povo, quando começa a usar de mais um sítio, estraga-o. Senta-se em cima das coisas, mexe no que não deve, cospe pastilhas elásticas para as belas lajes de granito, haveria de certeza algum fedelho a pendurar-se nos ramos raquíticos da árvore, e era um crime estragar uma coisa tão bem feitinha.
Que se fechem os portões à noite, ou que aquilo seja feio como os trovões, ou que a árvore, tadinha, pareça a sobrevivente do rebentamento de uma bomba, não me chateia nada, que eu não tenciono adquirir nenhum loft nas redondezas. Agora, que lhe chamem Praça irrita-me como o caraças.
Chama-lhe ‘La Grande Place’ como em Bruxelas. O que é que o Porto é menos do que a capital dos eurocratas? Brincadeira à parte, só escreve assim quem tem a imaginação e a capacidade de observação próprias dos muito, muito talentosos – talentosa no teu caso e em respeito pelo feminino.
Tomara Bruxelas ser como o Porto, Carlitos.
Um abraço
Não me canso de dizer que, fora Lisboa, gosto muito de Guimarães, do Porto, de Coimbra (uma paixão de origem paterna) e de Évora. Bruxelas é a ‘Grande Place’, o menino a mijar e acabou-se. Além disso, é habitada por uma corja de múltiplas origens, que detesto.
Um abraço minha amiga!