O cálculo de probabilidades à moda do Cunha

Cunha, já de si, é palavra de significância negativa – viver à custa da ‘cunha’ não é propriamente uma forma de vida louvável, embora o privilegiado saia ganhador; mas caramba!, o jargão estigmatiza mas não é letal.

O pior de tudo é haver os Cunhas, que pela vida fácil que lhes oferecem, ganham um impulso enorme de auto-estima e, sem a menor consciência do ridículo, manifestam-se em pretensiosos raciocínios e conclusões, para os quais a cunha em nada contribui e a estrambólica petulância desmascara.

O Cunha é favorável ao encerramento da MAC. Tem todo o direito a tal opção. O que não é acto de mínima inteligência é o recurso a cálculos de probabilidades enviesados, para defender a sua dama. Aqui, demonstrando falta de conhecimentos de estatística analítica, questiona:

Qual é a probabilidade de 1 de 5,4% dos bebés nascidos num dado ano acontecer no dia 1 de Janeiro entre as 0h00 e as 0h05, em Lisboa e na Maternidade Alfredo da Costa?

Ao impor os 5,4% no cálculo da probabilidade, o jactancioso Cunha começa por distorcer o rigor científico do cálculo. Restringe o universo a uma média estimada de nascimentos na Alfredo da Costa, tendo em conta o número de nascimentos a nível nacional em 2009, 2010 e 2011 – omite os números de 2012 e o facto dos nascimentos em Portugal estarem em queda acentuada (no último ano, a quantidade foi pouco acima dos 90.000, i.e., menos cerca de 7.000 do que em 2011).

O que o Cunha pretendia utilizar, mas pelos vistos não sabe, é o cálculo de probabilidade condicionada P (A/B), ou seja, saber qual a probabilidade de nascer na MAC (A) no dia 1 de Janeiro entre as 0h00 e 0h05 (B). Um problema estatístico complexo.

Mesmo que realizasse o cálculo com acerto, o número jamais serviria para uso no processo de decisão de encerrar ou manter a MAC em funcionamento. Justamente porque está apenas a utilizar um intervalo de 5 m de um único dia do ano; além disto,  o processo deve, igualmente, fundar-se em avaliação qualitativa de serviços prestados.

A MAC, considerada por especialistas estrangeiros, é uma unidade de excelência, onde o Estado investiu enormes somas em equipamentos e especialização de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde.

A decisão deveria ponderar-se de modo divergente: ‘justificar-se-ia o investimento na unidade materno infantil do  Hospital de Loures com o grupo Espírito Santo, existindo já a MAC com equipamentos avançados e sendo uma unidade de neonatologia de excelência?’. Benchmarking a sério e não tendencioso, sabe o que é Sr. Cunha?

Mas esteja descansado que o seu homónimo Cunha, mas Ribeiro, presidente da ARLVT, está a aguardar a partida da ‘troika’, opositora de mais PPP’s, para envolver os dinheiros públicos no Hospital de Todos-os-Santos, justamente em PPP, e encerrar o Hospital da Estefânia – Lisboa ficará sem hospital da mono especialidade de Pediatria.

Negócio. Só negócio. Porém, se lhe entregam a si os cálculos ficarão arruinados. Lamentarei as perdas pelo desperdício de dinheiros públicos, e apenas destes.

Comments

  1. João Paz says:

    Mais uma cunha a favor das desastrosa decisão do governo da troyka (ou seja dos comandados pelos interesses alemães), mais um que nem números sabe aldrabar.

    • Carlos Fonseca says:

      Não sabe e tem o descaramento de se meter por terrenos apertados. Sai humilhado.

  2. Resumindo: O Cunha calçou (digo calçou)
    uma cunha muito alta e deu um trambolhão.Tem que usar sapatos rasos.

  3. Por acaso quando li mais esta anedota com algarismos pensei em ir ver uma coisa bem mais simples: número de nascimentos/ano no S. Teotónio e na MAC. Mas ri-me na mesma, sem ter ido.

    • Carlos Fonseca says:

      João, seria mais simples e exacto, bastando calcular a percentagem em cada unidade ou mesmo a média para diversos anos – 2009/2012., por exemplo. . O cálculo de probabilidades transmite-nos a noção de um resultado provável para determinado fenómeno futuro. Para compor o ramalhete, submeter-se o estudo ao tempo de 5 minutos em todo um ano e aos tais 5,4% que ele cita, realiza-se um exercício falso de cálculo de probabilidade de nascimentos na MAC ou seja onde for. O Cunha tem de ir estudar ‘Estatística Analítica’ a sério. Até lhe servirá para cálculos de sondagens, sabendo o desfecho que o governo suportado pelos “Blasfémicos” tendencialmente atingirão.

  4. portela says:

    No tempo de vacas magras não sei como será. Mudam-se os tempos mudam-se as vontades, já dizia o Guterres; é a vida.

    No tempo de vacas gordas quando cavaquistão exibia todo o seu fulgor, o Júlio de Matos escapou por uma unha negra.
    O *Expresso chegou a publicar uma maqueta dum condomínio de luxo. Mas que Beleza de condomínio!
    .
    * foi o Independente do Portas que investigou e lançou o alerta. Vejam lá como as coisas são!

  5. nightwishpt says:

    Discutir a realidade com fanáticos é inútil.

    • Carlos Fonseca says:

      Mas vale a pena amesquinhá-los. O fabiano emudeceu.

  6. Pedro Martins says:

    Esta correcção, tendo em conta a intenção da publicação original é, simplesmente, parva!

    • Nunca deixes que a realidade estrague uma boa ficção, diz este chico-burro bem intencionado.

    • Carlos Fonseca says:

      Ó Martins, o seu comentário é simplesmente imbecil. A intenção da publicação é ser isenta de correcção do original de grossa asneirada, acaba vc. por dizer…ahahahah. O seu amigo Cunha é pura e simplesmente um ignorante em matéria de ‘Análise Estatística’ e você outro burro que o acompanha na caminhada da ignorância. Onde chega a vossa falta de vergonha? Nem leis científicas, universalmente provadas, vos inibe do recurso à estupidez. Vão aprender!

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  1. […] de quem pega num algoritmo complexo sem saber a tabuada, e a sabedoria de quem na semana passada demoliu o cálculo de probabilidades tal como era conhecido na véspera, Vítor Cunha quer a Padeira de Aljubarrota metida ao barulho, e manda um doutorado tomar chá de […]

  2. […] de Vítor Cunha, garboso cavaleiro de causas perdidas, que veio à liça em defesa desta dama: do cálculo de propriedades à História, passando pela demografia e terminando em gráficos que saltitam da Matemática e das […]

  3. […] fotografia e tudo. Quero desconfiar que quem escreveu barbaridades a este nível, ou este, ou se espalha na matemática desta forma, a ensinar engenharia electrotécnica das três uma: ou não foi avaliado, ou o ensino […]

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