A malta mais liberal do género, deixa comer o dinheiro ao povo para fazer crescer a minha fortuna, tem sublinhado que as crises são momentos para novas oportunidades. No caso deles, dos ladrões, a crise é uma excelente forma de experimentar novos tipos de caviar, para fazer novas viagens e outro tipo de coisas manifestamente de pobre.
Para o resto das pessoas, para o cidadão contribuinte, sobra a fila do desemprego ou a caridade da sopa quente na noite fria.
Neste contexto, tenho assinalado com agrado o desenvolvimento de estruturas sociais de respostas múltiplas às dificuldades, cada vez mais generalizadas. A caridade à volta da Igreja tem sido a mais visível por atender às necessidades mais básicas, nomeadamente a alimentar, mas há outras respostas a crescer de forma sustentada.
Os clubes e as associações são um bom exemplo. Descobri, há pouco tempo, em Canelas, a freguesia mais central do concelho de Gaia, uma associação fantástica e que serve de exemplo para o que vos quero transmitir: a Associação Desportiva e Cultural de Santa Isabel.
Fizeram recentemente 88 anos e têm várias secções: Academia Sénior, Cavaquinhos, Folclore, Concertinas, Futsal, Dádiva Benévola de Sangue. Têm desde o início do ano uma nova secção de Todo o Terreno e vão iniciar em breve mais duas actividades: Teatro Juvenil e Voleibol Feminino.
Têm todas as semanas em actividade mais de 300 pessoas, dos mais pequenos aos mais crescidos – há crianças com 3 anos no Futsal e senhoras com mais de 90 na Academia Sénior. No Futsal têm uma escolinha de formação e todos os escalões de competição nos regionais do Porto. O Rancho Folclórico de Canelas, uma das secções da Associação, é dos mais dinâmicos do Concelho e procura ser muito activo na preservação das memórias de Canelas. A Dádiva Benévola de Sangue esteve na génese do movimento a nível nacional e tem uma participação absolutamente singular, organizando uma recolha semanal nas freguesias do concelho. Há ainda os cavaquinhos e as concertinas. A Academia Sénior tem diariamente em aulas de Inglês, de informática, de natação, de artes e de outras actividades mais de 50 pessoas num exemplo único de entrega e dedicação.
O que mais me surpreendeu foi a disponibilidade de tanta gente em colaborar com a Associação a custo zero. Monitores, treinadores, ensaiadores, dirigentes, enfim, um conjunto muito grande de pessoas que dão parte do seu tempo para os outros, apenas e só pelo bem comum, pela comunidade no seu sentido mais nobre.
São um exemplo a seguir com muita atenção. Parece-me que esta dimensão da nossa sociedade merecia um pouco mais de atenção da Comunicação Social.
Sociedade Civil, ora aqui está uma área com um potencial imenso. Tem potencial cada vez maior, mas sem actos correspondentes.
.
Há tempos, para efeito de filiação, fui visitar uma Associação Cultural e Desportiva, logo à entrada um grande cartaz tinha escrito; é favor não discutir, nem política nem futebol.
Há limites para tudo, e quando esses limites forem ultrapassados, há que ter liderança e argumentos, para impor a ordem e a disciplina. Então qualquer cartaz deste tipo, deixa de fazer sentido. Enquanto ele lá estiver não me inscrevo. Mas quando chegar a altura não, vou ficar em casa. Há mais de quarenta anos que aturo a minha mulher!