A juventude dos cábulas

cabula

A peregrina ideia de reduzir  a escolaridade obrigatória tem sido criticada por ser um apelo à ignorância. Também é, mas vinda da sua jota tem um objectivo preciso: conquistar o apoio, e aos 18 anos o voto, dos que se sentem obrigados a frequentar a escola quando lhes apetecia moinar à vontade (trabalhar não estou bem a ver onde).

O cábula é um público-alvo como qualquer outro e havia aqui um nicho de mercado que arregaçou as mangas aos moços, num vamos a eles que os outros já não acreditam em nós. Estamos entendidos, e desde que não misturem com mentiras factuais, tudo bem: fiquem com os cábulas, mantendo de resto a sigla JC, Juventude dos Cábulas fica a matar.

Quanto à ignorância como lema de vida, também se entende; vejamos o exemplo de Vítor Cunha, garboso cavaleiro de causas perdidas, que veio à liça em defesa desta dama: do cálculo de propriedades à História, passando pela demografia e terminando em gráficos que saltitam da Matemática e das Ciências Sociais para o desenho livre com a mesma velocidade que o pé direito do Eusébio imprimia a uma bola de futebol quando vislumbrava uma trajectória para a baliza adversária, é toda uma vida que ficaria muito facilitada se os restantes portugueses não tivessem 12 anos de escolaridade.

É natural esta defesa corporativa dos seus pares ainda agrilhoados à escola embora já pudessem disparatar livremente no Blasfémias. Embora eu, em defesa do emprego dos meus, aproveite para lamentar o homicídio de que foi vítima o ensino recorrente em Portugal, em tempos chamado ensino nocturno: presentemente quem precisa de regressar à escola não tem nem novas nem as velhas oportunidades. Está mal, como se vê há malta que precisa.

Comments

  1. nightwishpt says:

    Não sei, pode ser que não consigam ler os boletins de voto.
    De resto, para ser desempregado ou operador de call center, que é o que que resta no país, não é preciso escola. Sempre me pareceu um passo demasiado grande para o que temos.

  2. José Pinto says:

    Não sei porquê tanta polémica, depois de presenciar o “sucesso” de Sócrates, Passos Coelho, Relvas, etc… Estudar para quê? Estudar o quê?! Quarta classe antiga chega e sobra.

  3. O analfabetismo tende a desaparecer, mas infelizmente vivemos a aliteracia…
    Temos «ignorantes» diplomados!

  4. Hugo says:

    Acho que esta proposta se inseriria mais na estratégia de reduzir custos do que numa qualquer artimanha eleitoral. Se o ensino não for obrigatório, será de esperar que o número de alunos diminua, logo todos os custos associados também diminuem.

    No entanto, creio que esta proposta nunca passará disso mesmo. Reduzir a escolaridade obrigatória seria um enorme retrocesso civilizacional. É certo que a diminuição da despesa pública é uma necessidade, mas uma medida deste género faria muito mais mal que bem.

    Mais importante que andar a propor medidas destas seria reformar o sistema de ensino no sentido de ensinar os miúdos a fazer qualquer coisa, pois muitos deles saem do secundário sem saber fazer nada e quando porventura saem da faculdade nada sabem fazer. Depois queixam-se que não têm emprego.

    • Joaquim Amado Lopes says:

      Portanto, permitir que os jovens deixem 3 anos mais cedo um sistema de ensino de onde saiem “sem saber fazer nada” seria “um enorme retrocesso civilizacional”.
      É interessante que algumas pessoas defendam que o Estado limitar a liberdade dos indivíduos, mesmo que reconheça que dessa limitação não resulta qualquer benefício para os próprios, é um “avanço civilizacional”.

  5. Hugo says:

    Se com 12 anos de escola não sabem nada, com nove saberão menos ainda.

  6. pretor says:

    Eu acho que a escola deveria ser só até à 4ª CLASSE e quem quisesse avançar só com dinheirinho à vista ou se fosse familiar de alguem de bem.

    Isto da educação é caro e não há dinheiro.
    Os pobres são umas bestas sem educação.

    Educação só para quem pode e é realmente inteligente, tipo alguem que tenha no sobrenome dois TT ou dois NN seguidos.

  7. doutor em arrumação de prateleiras de supermercado?sei que isto é um assunto em que ambos argumentos são válidos.o que é preciso é não “cortar as pernas” a quem quer progredir.aora 12 anos de escolaridade e depois a “esferográfica” é uma picareta….

    • Hugo says:

      E qual é o mal do instrumento de trabalho ser a picareta? É desonesto? Mais importante é o jovem saber manejar a picareta como deve ser.

  8. isso aprende-se em 5 minutos.o pior são as patranhas que lhe meteram na cabeça.não esquecer o maldito nivelamento por baixo da escola pública.quem quer progredir está lixado.

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