A extrema-direita

Em dia de mentiras, vou-vos contar umas verdades. A extrema direita vai-se instalando pela Europa, trazendo, das ruínas do século passado, os males que se julgavam enterrados. Le Pen em França, uns populistas na Áustria e na Alemanha, Turquia e a censura.

O que é que define estes movimentos? Alimentam nas pessoas a ilusão de poderem ficar em porto seguro se alguns grupos de pessoas desaparecerem. Mentem, manipulam, procuram bodes expiatórios. Apontam soluções fáceis e falsas. Praticam o culto do líder E assolapam-se no poder.

Proponho-vos agora o seguinte exercício: relerem o anterior parágrafo mas como se estivessem a ler sobre Portugal.

espera

Já está? Continuemos.

O actual governo, continuando a política do anterior, demonizou a função pública, apontando-a como a causa dos problemas do país. A seguir virou gerações contra gerações, perseguindo os pensionistas. Agora acusa os doentes de consumirem medicamentos a mais.
O actual governo passa no teste nº1 da extrema-direita: virar grupos contra grupos e encontrar bodes expiatórios.

A mentira tem sido recorrente neste governo, também. O caso de sexta-feira passada, em que um ministro, Marques Guedes, mentiu descaradamente sobre a conferência de impressa de que tinha conhecimento, acusando a comunicação social de manipulação, é grave demais para ficar em branco. Não houve erro, como pretendeu Paulo Portas. Houve, sim, o descuido de deixar escapar os verdadeiros planos num momento inconveniente. Mas se esta mentira vos parece coisa pouca, recorde-se que toda esta governação se tem baseado na mentira. É o emprego que aumenta, apesar da emigração; são os cortes temporários até serem definitivos; é toda uma acção governativa em absoluta contradição com o programa eleitoral. É o desvio dos impostos para salvar a banca. E todo este lodo de mentiras consentido pelo Presidente da República, transformado numa inutilidade institucional.
O governo PSD/CDS passa com distinção no segundo teste da extrema direita: mentir.

Por fim, toda a comunicação política dos últimos anos, e Passos Coelho não é excepção, foca-se na imagem do líder, dos seus grandes planos, no seu rumo autoritário. Alípio Dias definiu-o com clareza: “o Pedro está convencido de que o divino Espírito Santo o iluminou.” Apenas o Tribunal Constitucional o vai impedindo de virar, ainda mais, o país de pantanas.
Sem dúvida que o presente governo passa no terceiro teste da extrema-direita: ter um líder autoritário, que se colou ao poder.

Perante esta verificação de factos, resta a natural conclusão de a extrema-direita já se ter instalado em Portugal, antes de, eventualmente, o mesmo vir a acontecer no restante continente.

Povos da Europa, olhai para nós e vejam o que vos espera.

Comments

  1. Fernando says:

    A direita só avança se a esquerda for incompetente e deixar. Por outro lado, se a esquerda for incompetente e não deixar a direita instalar-se, então estaremos perante uma ditadura de esquerda.
    Já pensou nesta situação ?
    O mal – na minha imberbe opinião – não esta em esquerdas ou direitas. Eles bebem todos o mesmo vinho, mas por vasilhame diferente.
    Acabe-se com o mito ou bau-bau da esquerda ou da direita. O mal esta em todos nos.
    Repare que quando o PS era governo o «povo» queria-o fora. Agora quero-o «dentro»!
    Da para entender este reviralho de politica?
    Politicamente o português esta ancestralmente atrasado . Acredita em tudo. E quanto mais mentiroso mais ele acredita. Desde que não lhe toquem na carteira…
    O Medina Carreira diz isto há muito tempo.
    Parecemos um bando de gaiatos que não sabe qual o «brinquedo» que quer.
    NB não tenho cor politica, nem simpatia por qualquer politico, mas sou visceralmente exigente seja num regime de esquerda ou de direita.

    • j. manuel cordeiro says:

      Os extremos unem-se no infinito e são, por isso, duas caras para o mesmo fenómeno.

      Há, no meu entender, razões diversas para o presente lodo político- que dura há décadas, note-se: falta de memória por parte de quem vota; listas de deputados definidas pelos partidos; jornalismo muito centrado apenas nos “casos”; os partidos como locais extensamente controlados – ninguém fora dos partidos consegue aceder à política; etc.

  2. Não me parece que a extrema-direita pratique hoje o culto da personalidade. É mais a meu ver um discurso populista que encontra bolsas descontentes na sociedade. Até agora, mesmo nos sítios onde encontram maior adesão, não ameaçam chegar ao poder. Em matéria de populismo são mestres, mas longe de terem o exclusivo…

  3. Onde é que os aventar situam Bagão Félix ??

    • j. manuel cordeiro says:

      Uma boa questão. CDS e no entanto com um discurso socialista. É preciso olhar para o passado do homem…

      • É preciso ver que estes maravilhosos seres de Bagão Félix, a Sócrates, Manuelas Ferreiras Leites, Marcelos, só querem ficar bem vistos, e fazer com que as pessoas se esqueçam que são uns canalhas da pior espécie.

  4. O PSD sempre quis este rumo, portanto, não se transformou agora. E outro ponto, o PSD sem o PS não fazia nada disto. É tal e qual o comportamento que o PSD tinha quando não estava no governo, votava-se e abstém-se. Que é para a malta pensar que se está a fazer oposição.

    • j. manuel cordeiro says:

      Um pouco como os hambúrgueres; mete-se a grelhar, vira-se, grelha mais um bocado, vira-se, …

Trackbacks

  1. […] ao se defenderem deixam de mentir. Não é “verdadeira“? Deixem-me rir. E depois de terem passando uns anos com o tema pinócrates vêm agora queixarem-se mesmo de […]

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