Alexandra

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© Miguel Manso

Conheço a Alexandra Lucas Coelho há muitos anos, somos mais ou menos da mesma geração de jornalistas, creio que ela mais nova. Recordo uma viagem que fizemos juntas há muitos anos pela então recém-inaugurada rede de bibliotecas públicas. Creio que trabalhava então para a Antena 1. Conheço-a mal, não somos amigas, há anos que não a vejo, mas conheço o que escreve e gosto do que leio – há um entendimento entre nós que passa pela escrita, pelo jornalismo que olha para as sociedades de hoje, mas talvez, e sobretudo, pelo jornalismo literário, pelos melhores escritores, editores, livros, pelo amor pelas belas letras que formam o poema (e o poema pode não ser poesia), para falar disso que me une a umas esparsas pessoas, que por vezes mal conheço mas que habitam essa parte incerta onde também sou.

Li o discurso que a Alexandra Lucas Coelho proferiu na cerimónia de atribuição de um dos mais importantes prémios literários do País, que este ano a contemplou a ela. Dou-lhe os meus parabéns, tenho a certeza de que o seu livro o merece. Lucas Coelho escreve muito bem, há muito que reconheço nela uma escritora. Hei-de ler o seu livro seguramente. Dou-lhe também os meus parabéns pelo discurso que fez. Numa altura em que praticamente não se ouve ninguém, em que os escritores se calam, num silêncio de chumbo que pessoalmente me pesa (como a muitos mais, tenho a certeza), é muito bom haver alguém que se chega à frente para dizer o que muitos gritam mas ninguém ouve. Talvez tenham medo que Jorge Barreto Xavier os censure por serem «primários».

Lamento este Secretário de Estado, chegado do anterior Governo do PS (foi director-geral das Artes e administrador do Fundo de Fomento Cultural do Ministério da Cultura entre 2008 e 2010) e do lugar deixado vago por Francisco José Viegas para fingir que há Cultura com o PSD, lamento o seu pensamento sobre a liberdade de expressão, o seu fascismozinho enfiado lá dentro com a profundidade de uma mentalidade que não arreda, o seu papaguear do discurso nauseabundo de Pedro Passos Coelho sobre os portugueses pobres e mal-agradecidos, lamento o que representa: o gestor de pequenos fundos que gosta de fazer parecer suficientes, enquanto manda os artistas arranjar patrocínios e os exorta a alinhar com a «Europa criativa» das indústrias, em vez de ajudar a mobilizar vontades (políticas, financiamento, etc.) em torno do que verdadeiramente deveria preocupá-lo: a criação artística (em que se inclui a Literatura), e o acesso das populações a outra coisa que não ao entretenimento que gera os abstencionistas que tornam possível governos que prescindem – sem estados de alma e «chave na mão» – de um Ministério da Cultura.

Comments

  1. O que eu vi no discurso da Alexandra foi um continuado de Eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, eu, os colegas, eu, eu, o meu país, o meu país, o meu país, depois ainda tem a ousadia de dizer que o Cavaco é dono do país. Goste-se ou não se goste da figura, é um bocadinho puxado chamar-lhe salazarista, não acha? Enfim. Depois acha que o PR está associado a um partido, como se fosse o primeiro, será que acordou agora para estas coisas da política ou está claramente a tomar uma posição política e militante que tinha jurado não ser? Diz que vive num regime salazarista, mas ainda não foi presa, nem impedida de dizer fosse o que fosse, ao contrário do SEC que até foi interrompido pelo publico (coisas normais no Estado Novo). Eu percebo que lhe falte acção e mistério, a luta, aquele sangue na guelra da revolução. São tempos cinzentos, com tanta rede social e gente a apoiar-nos, até perde a piada, mas não se perca na maionese, olhe para si, liberdade é o que não falta, noutros tempos tudo isto daria para muito romance.

    • José Peralta says:

      Alexandra Lucas Coelho, o que disse foi precisamente o contrário do que você tresleu…

      O que disse foi que o “presidente da república” e o partido dele, NÃO são os donos do País.

      O que disse foi que o “presidente da república” (as aspas e minúsculas são minhas porque, na minha opinião, mais consentâneas com a “estatura” política de tão boçal e ridícula personagem…) é “o político que há 30 anos, representa tudo o que associa MAIS ao salazarismo do que ao 25 de Abril” !

      Ele, cavaco, não é o “primeiro” a estar associado a um partido, pois não !
      Mas é o que, sem vergonha, se cumplicia, em “nome do interesse nacional” com o SEU partido, e as acções mais danosas e revanchistas do SEU (des)governo. E assim, ele próprio, “toma uma atitude política e militante” a que está impedido pela Constituição (Ah ! A Constituição ? É para dela fazer tábua rasa…)

      E talvez seja também conveniente não esquecer, as “amizades perigosas” com os “bpns”, e a nebulosa de “favorecimento” muito mal esclarecida que sobre ele paira ! Além de inventonas de escutas no palácio, o “choradinho” da reforma de 1300 € com a “sua senhora” a seu cargo, etc. etc. atitudes que como se sabe, tanto “dignificam e prestigiam” o cargo e a função “do mais alto magistrado da Nação” !

      Por fim, esclareço que não conheço pessoalmente Alexandra Lucas Coelho.

      E “T”…não se perca na maionese !

  2. Gosto da interpretação e memória selectiva, assim até se deve dormir melhor!
    O Presidente da Republica, como figura, não tem partido, nem este nem nenhum, é o meu, é o seu, é o Presidente de todos, representante da Republica Portuguesa. Posso não gostar dele, mas respeito-o, coisa que a Alexandra não faz, alias, pouca gente faz. Confundem o não concordar e não gostar, com o insulto, com a acusação, com o desrespeito, no meio disto tudo ainda fazem soar o alarme da ditadura, que lata! Também sou sério o suficiente para que se quiser colar este a um partido, terei de o fazer com Sampaio e Soares, que ainda hoje mesmo estando afastados não perdem a oportunidade de agitar as águas e defender os seus. Se há máfia em Portugal bem montada, não descurando todas as outras – pois não há inocentes, é esta. E se Cavaco fez isto e aquilo, esteve sempre bem ladeado destas personagens que o texto da Alexandra e o seu bem tentam camuflar.

  3. Vera P says:

    Foi preciso coragem para ela ter dito o que disse. Teria sido ainda melhor se o próprio presidente da república estivesse presente. Mas mesmo assim, teve mediatismo e espero que muitos tenham lido a mensagem (se não toda, pelo menos em parte). A Alexandra faz parte de uma nova geração de bons escritores que devemos elogiar e promover. Ainda ontem passei os olhos por um texto que elogia a cultura pop e ia vomitando. Enfim…
    http://p3.publico.pt/cultura/filmes/11616/cultura-devia-ser-sei-la

  4. José Peralta says:

    Que lata !

    1 – Este não é o meu “presidente da república” !

    2 – Este “presidente da república”, não se dá ao respeito, por isso não me peça(m) que o respeite !

    4 – Este “presidente da república” tem partido, está colado a ele sem escrúpulo nem vergonha ! Quer exemplos ? Veja o comportamento agressivo e conflituoso com Sócrates e o seu governo, o seu discurso de posse de vingança reles e mesquinha, de raiva destemperada, impróprias de um Presidente da República (com maiúsculas…).

    5 – E compare agora o comportamento “voz do dono”, cúmplice, com os coelhos deste (des)governo, com as suas políticas de desmembramento e destruição de um País !

    6 – Ninguèm pode negar que a figura de um Presidente da República, é apoiada por um partido de onde é originária.
    Mas nunca Mário Soares, Sampaio ou Eanes exerceram os seus mandatos com o comportamento partidário que “este” demonstra ter.
    E se estão “afastados”, não estão impedidos de exercerem a Liberdade, a Cidadania e o direito à indignação por que lutaram, e de que o T e eu disfrutamos !

    7 – Se há “máfia bem montada”, procure melhor ! Todos os dias vamos sabendo onde ela está ? Ou você, “como o outro”, nunca se engana, não lê jornais e raramente tem dúvidas ?

    Com a sua memória selectiva (não será antes “esquecimento” ?), o T deve dormir como um anjo !

    Bons sonhos !!!!

  5. Joam Roiz says:

    “T”, neste assunto, só pode ser “t” de tolice, de tacanho ou de toldado. Mas viva a liberdade de expressão. É sempre preferível a liberdade da tolice do que o silêncio de chumbo da verdade.

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