Ladrões profiláticos

assalto
Manuel e Maria iam pela rua fora, de braço dado. Iam felizes. Tinham-se oferecido a oportunidade – rara, por estes tempos – de jantar fora e antecipavam momentos agradáveis.

Eis, porém, que das sombras da noite surge um vulto ameaçador empunhando o que parecia uma arma. “Alto! – disse – isto é um assalto”.

Perante o evidente medo do casal, o assaltante explicou-se: “Iam jantar ali, de certeza” – disse, apontando o letreiro do restaurante que já se vislumbrava. “S-s-sim”, assentiu o Manuel.

“Foi o que pensei” – tornou-lhe o ladrão. “Pois fiquem sabendo que o que ali se come é bom, mas faz mal. Os salgados levam sal, os doces levam açúcar, a carne está cheia de proteínas e gordura, os fritos são…enfim, são fritos. Por isso, fico com o vosso dinheiro para vosso bem e na defesa da vossa saúde. Não comem, mas também não aumentam o colesterol nem incorrem em riscos alimentares”.

O casal lá entregou as notas que trazia para o seu serão gastronómico e regressou, entre a tristeza e a raiva, a casa. Sentaram-se desanimados e, já sem apetite, ligaram a televisão procurando evasão para a sua inquietude. Estava a dar o telejornal. Lá ouviram a notícia de que o governo se aprestava a lançar pesados impostos sobre alimentos que, segundo os especialistas, fazem mal à saúde. Sal, açúcar, gorduras, vários alimentos preparados e outras coisas mais. Tudo a bem da saúde dos portugueses com a qual, como sabemos, se preocupam. Concordante, o Manuel saudava as medidas:

“Vês, Maria, nesta tristeza em que estamos sempre é bom saber que o governo se preocupa connosco. É o que vale. Já agora, bem podiam tomar medidas para melhorar a segurança nas ruas. Já não se pode sair sem nos arriscarmos a ser roubados…”

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