Quando?

 Maria Helena Loureiro

tempo
Um miúdo berra de uma ponta do restaurante e o outro guincha da ponta oposta. O casal à nossa frente olha para toda a gente menos um para o outro num silêncio ampliado pelo raspar dos talheres nos pratos. “Já te disse que o Caetaninho morreu?” “Já mamã. Fui eu que lhe disse. Há meses…” Uma excursão de espanholas de meia-idade entra de rompante e instala-se a confusão geral, com os miúdos a gritar em uníssono, as espanholas cada uma para seu lado, os empregados uns para os outros, em correria, a tentar controlar as espanholas e a mulher do casal a implicar com a empregada porque é comida a mais. “Já te disse que o Caetaninho morreu?” “Já mamã. Há 2 minutos…” Uma das espanholas, alta, musculada e de peruca ruiva, sobe e desce as escadas à procura da casa de banho, no rés-do-chão. Outra espanhola, leque numa mão, corre atrás dela e tenta, em vão, tirá-la das escadas. Um terceiro miúdo junta-se aos outros dois que se calam por segundos, mas recomeçam a chinfrineira desta vez a três tempos. “Já te disse que o Caetaninho morreu?” “Não mamã. Quando?”

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