*Afonso Brandão
Acabei de chegar do Largo do Carmo.
Tenho 16 anos.
Esperava ter visto um largo em luta, mas vi um largo em festa, com milhares de pessoas e não consigo entender.
Do 25 de Abril – uma época que adorava ter vivido – não posso esquecer que nos trouxe várias coisas de importância extrema como o Salário Mínimo Nacional, o Serviço Nacional de Saúde, a Liberdade de Expressão, o fim da Censura, o fim da Guerra Colonial, o fim das Prisões Políticas, um Poder Local Democrático, mais Direitos das Mulheres.
E numa altura em que todas estas conquistas estão a ser “assassinadas”: com um SNS que não serve a nossa saúde, onde os nossos avós vivem com pensões de fazer corar de vergonha quem lutou para nos dar a liberdade, com um ordenado mínimo que não permite pagar uma casa e meter comida na mesa, todos os dias, pergunto-me: que razões há para fazer a festa?
Para lutar, sim, temos todas as razões. A indignação não a vi lá. E não entendi! Tal como não entendi porque estavam lá tão poucos jovens. Mas entendi e curvo-me de respeito por todos os de “idade maior” que lá vi. A luta e a indignação, espero ver amanhã quando for descer a Avenida da Liberdade!
25 DE ABRIL, SEMPRE!
Pois, pergunta que hoje me fiz e me fizeram também: que razões há para fazer a festa?
Pois… eu tenho 61, também lá estive, e faço a mesma pergunta…
Só podias ser filho de quem és!!
Será que ainda não acham o “estado a que chegámos”,, com se referiu Salgueiro Maia em 24 de Abril, suficientemente mau para mostrar a indignação?
Que vergonha! Grande festa de Noite de Santo António antecipado…
Olá
Percebo o conteúdo do artigo. Percebo a «desilusão», contudo também não considero «luta» seja uma procissão a gritar palavras de ordem gastas numa avenida. Penso que o estar no largo do carmo não foi assim tão importante. O mais importante foi chegar ao largo do carmo. O mais importante foi como é que os vários grupos se organizaram internamente e entre eles para chegar ao largo do Carmo. Isso é importante. É um passo bem grande em termos de organização autónoma das pessoas, grupos, colectivos, associações, enfim do povo que participou, não só no rio, mas na organização do seu rio e dos rios.
Estou de acordo com Girandra. E digo que, muitas vezes, a festa pode ser a preparação para a luta, na noite de 24 houve gente unida, solidária, indignada, eu estive lá, fiz festa, claro, porque passaram 40 anos e estamos vivos, quando é o nosso aniversário também há festa, mesmo que estejamos doentes. Só tive pena que não houvesse mais gente. Na manhã seguinte voltei lá e também desfilei na Avª da Liberdade. Rosadanjo
Pois é verdade, mas felizmente são jovens como tu que me dão esperança num mundo melhor.
Parabens pá que escreves como gente grande! Quer dizer mais velha! Igualmente parabens pelos teus conhecimentos, pois não és nenhum dos zezinhos que nada sabem sobre o 25A! É muito raro ver pessoal com a tua idade, e até mais velhos, com uma bagagem como aquela que demonstras ter. Não desanimes, pois eu creio que ainda vai haver uma revolução e tu vais lá estar como pilar ou quiçá talonador. Um grande abraço (tem que ser, com um caparro desses…)