O gato e o papel

alfredo
Numa hora mansa da tarde, o meu gato Alfredo – que os meus amigos homónimos não levem a mal, mas o nome decorre de o bichano miar com arte e sentimento – dormia, com aquela beatitude que só os gatos conseguem, esparramado sobre a passadeira que se estende até à entrada da casa, iluminado pela luz que se filtrava pelo vidro da porta. De repente, a paz é interrompida por uns ruídos quase imperceptíveis – para nós, não para um gato – vindos do lado de fora da entrada. Alfredo ergue a cabeça e fica alerta. E eis que um colorido panfleto surge, como que disparado, por baixo da porta, fazendo um voo raso de mais de meio metro. Em menos que leva dizer “sape gato lambareiro” o corpanzil de um indignado gato caiu sobre o papel e desfê-lo em tiras. Entretanto eu tinha acudido, não fosse algum documento importante, tentando salvar alguma coisa. Peguei nos pedaços que restavam – perante o olhar de censura do meu gato – e consegui ver nos destroços fragmentos dos malogrados rostos e troncos de Paulo Rangel e Nuno Melo e o que restava de algumas das suas patranhas propagandísticas. Alfredo tivera razão. Pedi-lhe desculpa e constatei, orgulhoso, que tinha um gato com convicções justas.

Comments

  1. Há gatos muito inteligentes. 😀

  2. José Vitorino says:

    Alfredo anda aos melros. Lindo gato!

  3. Isabel Matos says:

    Adoro gatos. Animais inteligentes e com capacidade crítica 😀

  4. José Peralta says:

    Parabéns ao Alfredo, José Gabriel !

    E, como eu não tenho gato, quando encontrei o mesmo panfleto na minha caixa de Correio, fi-lo em tiras e lancei-as, raivosa e ostensivamente na rua de modo a que se vissem as carantonhas dos celerados!

  5. João Soares says:

    Aqui há gato !!!!

  6. A felicidade do Alfredo só durará até se acabar o dinheiro do dono. Nessa altura o folheto dos ratos do largo também marcha.

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