Abstenção e liberdade

Com o respeito possível por quem pensa o contrário, estou farto de justificações para a abstenção que culpam “os políticos” de não satisfazerem os sofisticados critérios de exigência dos eleitores ou não encontrarem preliminares suficientemente excitantes para os conquistar para o voto. Os comentadores acariciam, assim, o ego dos contumazes ausentes, retirando-lhes a culpa e, mais ainda, a responsabilidade. Somos livres. Estamos condenados a ser livres, como ensina o velho Sartre. Isso significa que, postos em situação, a vida não permite abstenção. As eleições também não. A abstenção como total demissão de intervir – e não ignoro que muitos dos que se abstêm têm plena consciência disto e não procuram desculpas, pois que a sua decisão é pensada – é uma ilusão, posto que, pensando que não estamos a escolher, escolhemos de facto, já que as nossas omissões pesam, aqui, tanto como as acções. Não podemos viver fora da realidade, logo, temos de assumir a responsabilidade das nossas decisões. Sob pena de a própria ideia de Democracia, ou mesmo a sua possibilidade, serem uma miragem. Somos cidadãos, não clientes face à oferta. Temos de estar à altura da nossa liberdade. Da nossa essência.

Comments

  1. antonio simão says:

    a abstençao em mim é uma escolha premeditada para retirar “legitimidade” aos políticos que sequestraram a nossa soberania,até alguma pessoa com poder se aperceber e fazer o definitivo enterro deste regime corrupto e putrefacto.

    Um dia destes, quando mais de 50% das pessoas com capacidade eleitoral não votarem mais,vamos ver quem representarão eles senão a eles mesmos.

    A abstenção é como ir a um supermercado e não haver o produto que eu escolho, um chocolade específico, e ser obrigado a levar um sabonete.

    • caro amigo, para isso é que existe o voto em branco. retira legitimidade, dá a noção de bacoquismo ao político e cumpre um dever de cidadania. abstenção é desinteresse ou falta de informação ou desleixo. quem se abstém, merece que o governo se abstenha também de cumprir o “contrato social”.

    • amarelo submarino says:

      Os abstencionistas á são mais de 50%, são até mais de 60% … retiraram o quê? Os deputados eleitos estão de malas feitas !

  2. Compreendo o que quer dizer. Mas também somos livres, para não votar. Votar numa corja de corruptos, não obrigado. E não me interessa a camisola que cada um veste, porque infelizmente nenhum deles veste a camisola do povo.

    • E eu a pensar que liberdade implica responsabilidade mas afinal liberdade é muito mais coisas do que penso e, assim,, não votar é ser livre e eu a pensar que é muitas outras coisas – liberdade de dizer disparates – de se drogar – de se matar etc – ontem na messa de que fui escrutinadora uma senhora muito velhota não pela idade que se percebia mas certamente pela vida que lhe andavam a consumir foi votar – velha e andrajosa mas responsável – não podia falar com ela claro mas pela cara pareceu-me que ía votar com esperança de que o seu voto fosse importante para que “o povo fosse ouvido” pelo voto – tinha ela a mesma ilusão que eu tenho e nem sei se a consciência dela é superior à minha – talvez seja – não usou da tal liberdade irresponsável de não votar para que fosse mais claro o ganhador – há anos que ando nas mesas e o que eu vejo na cara de cada um – silêncios que falam tanto – quando se confundo liberdade com estar-se nas tintas para os que mais precisam de definição de quem é eleito parece-me de cariz demasiado urbano intelectual e vazio o que é natural – hoje a cidade nem é varrida no chão quando mais nas mentes – não votei apenas por mim – votei também por ela mas não, claro, nos ARCOS do poder – até seria capaz de votar no partido em que nunca votaria só para que contassem (se é que contam e o que lhe fazem depois de saírem lacrados da Junta de freguesia) mais um voto definido e não um branco nem sequer nulo – porque não já que não vi outra opção- eu sei que tem sido mais ou menos inútil/inutilizado já que os senhores estrangeiros que ontem se deliciaram em Sintra a fingir que se importam com os europeus do sul, fizeram o seu número de circo e eu fiz o que entendi dever fazer . voto expresso – votar não é livre – é um dever de cidadania – ser livre é ser responsável não é falar e escrever ao calhas – como diz Marinho um novo 25 abril pelo VOTO – mas em muitas aldeias não se votou nem dinheiro havia para transportes certamente nem se sabe quem não votou e onde e porquê – uns com toda a razão e impossibilidade e muitos outros só por total irresponsabilidade – etc – não sei o que é liberdade onde só há irresponsabilidade e individualismo bacoco – de facto a maior irresponsabilidade será URBANA e se calhar nem sequer nas franjas – hah já abrem 1954 vagas para educadores de infância – mas continuam a fazer eperar doentes em desespero e que esperam meses por tac que não foi a tempo e o doente morreu por terem dado tarde demais assistência e o porem na rua -miseráveis e há quem se ache livre de NÂO VOTAR – pois é – eu chamaria outra coisa já que nem os maus eleitos são chamados a trabalhar – são apenas EMPREGADOS daqui e dali – quanto mais universitários PIOR – valha-nos santo António

      • E depois em geral os piores chamados a lugar de decisão mesmo que tenham a pior e mais irresponsável decisão, têm lugar garantido em Bruxelas – que desgraça – não há actualmente lugar melhor do que estar na política até porque já contribuíram para fechar escolas e empresas e postos de saúde e premiados com medalhar presidenciais – ainda ontem vi alguns que conheço e o lixo que fizeram nas paisagens que lhes pertence ocupar da melhor maneira e de acordo com a aptidão natural, ou outra, em autarquias do interior que tratam da pior forma, mas agora nem vão para gestores de empresas que ajudaram a fechar ou deslocalizar, pois é muito melhor, ainda, ir para Bruxelas – pois é está cheia dos piores – que friso vi ontem – pois é mesmo com o meu voto que nunca lhes dei, estão sempre os piores – é assim natural que como escreveu o grande senhor José Gil, a Europa está a auto-devorar-se dcvfr

        • E se entretanto não tiverem sucesso na UE ainda terão oportunidade de ir para a ONU e para o Banco Mundial – safam-se sempre – um deles já foi – um Arnault reio que para o FMI – emigram bem

  3. Gotlieb says:

    Gabriel, o pensador iluminado, grande educador do povo em geral e da classe bloguística em particular, incompreendido de aquém e além mar, decreta que merda são os 2/3 do neo lumpem povo.

    Viva Marx, Engels, Lenine, Estaline, Mao Tse Tung, Enver Hoxha.

  4. Sarah Adamopoulos says:

    «Os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais parvos», como diz uma senhora que eu conheço. A abstenção não escolhe nada a não ser mais do mesmo, mudança alguma, nada, zero, é a demissão do povo. 66% de abstenção não impede a eleição dos deputados, não impede as declarações de «vitória histórica», nem impede a legitimidade de quem governa – vide Portugal e França depois das eleições de ontem. A «liberdade» de não votar não significa nada no quadro do sistema eleitoral vigente. Nenhuma análise dessa abstenção resultará em algo de concreto, com significado para a vida concreta dos povos. Apenas os votos expressos (nem abstenção, nem votos brancos nem nulos) são válidos para mudar ou manter tudo na mesma.

    • Gotlieb says:

      Este seu post é uma enormíssima parvoíce.

      Se a intelligentsia não dá mais que isto, não admira que o povo não vá votar.

      É do caraças. Não conseguem analisar onde erram, a culpa é dos outros todos, e lá vamos cantando e rindo cometendo os mesmos erros à espera de um resultado diferente. A insanidade no seu pior.

      Xissa penico !!

      • Sarah Adamopoulos says:

        E eu digo «irra que é demais!» Como pretende mudar o sistema pela abstenção? Não percebe que o sistema só pode ser mudado pela participação, de modo a fazer governar forças e pessoas que possam fazer votar políticas de ruptura (e não de reforma) ao sistema que está em falência? e designadamente do sistema eleitoral (mas não só)? Mas talvez prefira um Estado repressivo, que é o que está a acontecer nos países europeus que para conterem a revolta (dos abstencionistas nomeadamente) batem nas pessoas que vão às manifestações.

      • Você, Gotlieb, lê o que não está no texto. Esgrime contra fantasmas, com o toque de insulto que lhe convém. Lamento, mas as minhas limitadas competências têm dificuldade em explicar melhor o que quis dizer. O meu texto não é sobre o direito à abstenção nem julga quem se abstém, mas sobre o facto da abstenção ter consequências e corresponder a uma decisão de que resultam efeitos, ao contrário do que se tem dito. Falo sobre responsabilidade e autonomia, sem as quais nenhuma democracia é possível. E que cada um faça o que entende com ela. Mas sem desculpas nem alibis. Considero simplesmente que todas as pessoas são responsáveis pela sua liberdade – sei que tal pode ser optimismo, mas não há outro caminho – e não podem deixar de a exercer, mesmo que seja por omissão. Não pretendo ser educador de ninguém, apenas escrever o que penso. O que parece ser suficiente para me valer o insulto de espíritos sem dúvida mais subtis e dotados que o meu.

  5. Paulo Paiva says:

    Muito bom.

  6. Fernanda says:

    Estou ainda a pensar no chocolate que não há no supermercado e no sabonete e na abstenção….

  7. Bento 2014 says:

    Eu anulei o voto desenhando no boletim um campo para abstenção escrevendo a palavra e aí colocando a respectiva cruz (X)
    Que alguém me esclareça sobre um tema que tenho entalado na caixa dos pirolitos, e que não vejo nem sequer debatido onde quer que seja. Cá para mim a ausência nas mesas de voto não tem nada a ver com abstenção mas sim com absentismo, seja qual for o motivo da não comparência, e podem ser muitos. Precisa-se uma explicação para a razão pela qual não é criado um campo para abstenção em cada boletim de modo a ser considerado voto validamente expresso. Não sei porque não, mas se calhar até sei. Se não obtiver nenhum esclarecimento continuarei a pensar que confundir propositadamente absentismo com abstenção não passa de uma grosseira fraude descaradamente repetida.
    Se o dicionário não é suficientemente esclarecedor no estabelecimento da diferença altere-se o dicionário.
    Tão simples como isto:
    Absentismo=Ausência
    Abstenção=Acto presencial
    Politicamente basta pensar nos nossos deputados que para se abster tem que estar presentes e se não poem lá os pés tem falta justificada ou não. Note-se que esta posição não pretende defender de modo nenhum o voto obrigatório.
    Campanhas eleitorais, uma inutilidade para comer papalvos. Uma única frase servia para todos se apresentarem: Olhem para o que eu fiz e meçam bem como faço ou o que seria capaz de fazer se me dessem rédeas.
    Sai uma proposta:
    Que o parlamento europeu funcione com delegações dos parlamentos nacionais (de forma continuada ou não) na proporção dos votos recolhidos por cada agremiação politica nas legislativas caseiras. Eleições específicas para o parlamento europeu só se justificariam no caso de ser necessário recorrer a marcianos.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading