Vá lá, demitam-se

1976_capa_constituicaoAo contrário de outras, a nossa Constituição resulta de uma Assembleia Constituinte quase (ou seja, menos três partidos ilegalizados) democraticamente eleita. A campanha eleitoral, ao contrário do que acontece hoje, contou com uma razoável independência e igualdade de tratamento por parte da comunicação social, foi bem mais esclarecedora que as palhaçadas mediáticas a que agora assistimos, e nunca mais voltaram a votar tantos portugueses.

A Constituição tem inscritas as condições em que pode ser revista e alterada, naturalmente a partir dos votos de dois terços dos deputados, como em qualquer país civilizado.

A direita nunca gostou desta Constituição. Por um lado envergonha-se dos seus deputados do PPD que a votaram, renegando os tempos em que tinha como ideário a social-democracia à moda nórdica, a ideologia de Sá Carneiro. Por outro, à medida que teve oportunidade  para isso, a direita foi revogando tentando regressar ao passado, ao anterior regime de que se mostra cada vez mais saudosa, em particular reinventando-o como nunca foi. A nossa burguesia, preguiçosa e burra, não está para chatices e gosta de aplicar umas bordoadas em quem incomode.

Aqui chegados, a um governo sucessivamente inconstitucional que mente quando manda repetir a imbecilidade do  chumbo, tentando lançar sobre um Tribunal o que é mera responsabilidade, autoritarismo e incompetência sua, para mais um governo que perdeu toda e legitimidade fazendo exactamente tudo o que disse que não faria incluindo vir a fazê-lo se encontrasse as coisas piores do que se sabiam, resta-lhes uma hipótese: demissão, projecto de revisão constitucional, e a maioria silenciosa que os apoia certamente lhes dará os votos necessários para a mudança de regime.

Se correr mal, paciência, saiam da vossa zona de conforto, não sejam piegas, e emigrem. Vão ver que não dói nada.

Comments

  1. Marquês Barão says:

    Quem tem medo de uma nova constituição referendada?

  2. A actual Constituição é quase tão perversa quanto a de 1933. Evoluiu nos Direitos, Liberdades e garantias, quanto ao resto amarra o país uma escolha ideológica feita em determinado momento histórico. Tão legítima quanto a Monarquia espanhola, aclamada nos anos 70, mas questionada hoje. A Constituição deveria poder ser referendada e alterada por referendo. Votando 50% dos eleitores, obviamente. E não se pense que estou a defender o bando de aldrabões incompetentes que desgoverna o rectângulo. Qualquer tentativa de alterar uma vírgula nos tempos que correm seria um rotundo não. Mas temer o referendo é desrespeitar a soberania dos cidadãos. E não me parece legítimo que uma minoria possa impor vontade à maioria, no caso da Constituição durante décadas…

  3. Tens tanto direito de me chamar fascista, quanto eu de te devolver o mimo…
    Quando leres algo escrito por mim, defendendo qualquer ideologia ou governo ditatorial, presente ou passado, por favor, faz copy-paste.
    Até lá, no mínimo concede o mesmo benefício da dúvida que te concedo…
    Ou explica a diferença entre ser assassinado num campo de concentração soviético ou nazi. Pode ser que faça alguma diferença que na minha ignorância jamais consegui perceber…

    • Maquiavel says:

      Descendo muito até ao nível intelectual do AdA, mostro uma pequena diferença: quem ia para um campo de concentraçäo nazi näo era para morrer. Saía-se… quanto muito pelas chaminés;
      quem ia para um gulag soviético (que de resto acabaram em 1953 com a morte do execrável Estaline) tinha alguma hipótese de sair vivo. Bastante dorido, mas vivo. Alguns até sobreviveram para contar a história.
      Já dos campos de concentraçäo nazis os que sobreviveram foram aqueles que foram libertados… pelo Exército Vermelho!

      Realmente estes fascistas säo a melhor defesa da URSS, caramba! Se os golpistas de 1990 soubessem estariam quietinhos!

      • Maquiavel says:

        Errata corrige: deve ler-se

        quem ia para um campo de concentraçäo nazi era mesmo para morrer.

  4. Pese a Rússia não ser exactamente uma democracia, nunca escreveria que a sua actual constituição tem tanto de perversa como a soviética. Quem não mede as comparações, molha-se.

  5. Para quem goste de exercicios de comparação, basta ir as versoes das constituições anteriores,ver o que se disse na altura das alteraçoes propostas e ver se se confirmou a hecatombe autoritaria ou faciszante que se apregoou. Tambem se pode vers e fosse possivel, acharia que faria sentidorepor as normas retiradas; por exemplo a norma que estabelecia que a reforma agraria …seria bom voltar a constituição? quem iria trabalhar lá e quem iria comprar os produtos e a que preçopara ter viabilidade? è sempre facilser demagogo no vazio mas quando confrontado com a realidade em geralfazem-se muitas marchas atras. Istos e se quer ser serio a falar claro . Se bastapensar que omeu clube é o melhor para quem é baclahau basta.

Discover more from Aventar

Subscribe now to keep reading and get access to the full archive.

Continue reading