Mundial 2014 – Soltas – #2

del bosque

9 – Don Vicente e a Selecção Espanhola – À semelhança de Luis FelipeScolari, aos 63, Don Vicente Del Bosque, é outro dos treinadores capaz de igualar o mítico Vittório Pozzo (no post anterior cometi um erro quando afirmei que Felipe Scolari “poderá tornar-se o primeiro seleccionador a vencer dois mundiais; Vittório Pozzo foi o mítico seleccionador italiano que levou a Squadra Azzurra às duas primeiras vitórias nos Campeonatos do Mundo de 1934 e 1938) com dois títulos mundiais caso consiga levar La Roja à vitória final no torneio brasileiro.

Respeitado por todo o povo espanhol, monárquicos e repúblicanos, este antigo jogador e treinador do Real Madrid, madridista de coração, é, no país de nuestros hermanos, um raro exemplo de consenso e popularidade. Com uma personalidade gentil e afável, o seleccionador espanhol é também ele um exemplo de postura e serenidade no mundo do futebol. Com a potência que tem em mãos, para Del Bosque é tempo de refazer a história.

Todos sabemos decor a força que a Roja tem nos 23 eleitos por Del Bosque. Copy paste ou não do modelo de jogo de Guardiola (mesclado com os convocados dos clubes de Madrid) Del Bosque conseguiu incutir algumas nuances no jogo da selecção espanhola: mais influência dos laterais e dos alas nos processos ofensivos, maior velocidade de circulação, e, com a convocatória (polémica no caso de Diego Costa; eu considero-a uma fraude) de dois dos maiores artistas do Atlético de Madrid (Koke é daqueles jogadores que tem armas técnicas para se adaptar rapidamente ao carrossel de passes do meio-campo da Roja) Vicente del Bosque também irá procurar, como plano de jogo alternativo, replicar a fantástica combinação que Koke e o hispano-brasileiro conseguiram ter durante esta temporada no Atlético de Madrid, com o primeiro a procurar de vez em quando a ala direita para colocar bolas teleguiadas para o segundo finalizar no coração da área. Outro dos méritos que deverá ser atribuído a Vicente Del Bosque e à sua equipa técnica é a forma física com que a selecção espanhola costuma apresentar-se nas grandes competições internacionais, factor que só por si é sinal de meia vitória. Assim se apresentou nas últimas 3. Creio que é assim que a Roja se irá apresentar no Brasil Numa equipa onde a maior estrela que se apresenta para defender o título mundial conquistado na África do Sul é:

10 – Andrés Iniesta

andrés iniesta

Indubitavelmente o maior produto da história do futebol espanhol. Aos 30 anos, o médio ofensivo do Barcelona é para mim o melhor jogador do mundo da actualidade. Relembro que há 4 anos atrás, Iniesta deu o título mundial à Espanha naquela final contra a Holanda. Dono de um delicioso toque de bola, de um sentido posicional do melhor que vi até hoje, de uma qualidade de passe, 1×1, passe e corte em desmarcação absolutamente surreais, é nele que os espanhóis depositam claramente a liderança da sua selecção no Brasil. Numa época muito conturbada do clube da cidade condal, na qual à falta de um Messi em forma (sucessivamente atacado por lesões) Iniesta levou literalmente a turma catalã às costas com hipóteses de vencer o título até à última jornada (seria bem entregue ao lutador Atleti de Simeone), pode-se dizer que um mundial excepional da parte deste trintão poderá finalmente granjear-lhe o título de melhor jogador do mundo.

11 – O caso Diego Costa – Diego Costa foi naturalizado a poucos meses do Mundial. Considero a naturalização do brasileiro, jogador que alinhou em 2 amigáveis pela selecção do Brasil no passado uma autêntica fraude à luz das claras leis da FIFA na questão. Compreendo perfeitamente que Costa sentisse medo de não ser convocado por Scolari (facto que não iria acontecer pois Felipão escancarou as portas da selecção brasileira quando começaram a surgir os primeiros rumores que o brasileiro pretendia mesmo jogar pela selecção espanhola) mas, o que a meu ver pesou imenso na decisão de Costa foi a possibilidade que Del Bosque lhe deu de entrar no Mundial do Brasil pela porta grande (no onze da Espanha de caras visto que um dos calcanhares de aquiles desta selecção espanhola são os avançados; apesar de Alvaro Negredo ter sido descartado por Del Bosque depois da interessante época que fez em Manchester ao serviço do City) com possibilidade de realização de uma grande campanha e, está claro, o estatuto comunitário. Ou seja, se Diego Costa fizer um grande mundial (entra no mundial a contas com uma grave lesão contraída no final da época de clubes), visto que já é cidadão europeu, poderá rumar onde quiser e não entrar nas terríveis contas que os clubes tem de fazer entre os seus jogadores extra-comunitários. Nas grandes ligas, o passaporte europeu faz toda a diferença na hora do mercado de transferências.

12 – As ausências – Com tanta qualidade no lote de elegíveis, Del Bosque deixou de fora jogadores como Gabi, Raúl Garcia, Alberto Moreno, Álvaro Negredo, Dani Carvajal e Jesus Navas. O primeiro tapado pelo fenómeno Xavi Hernandez, a cumprir provavelmente a sua última aparição com a camisola da Roja. O 2º bem que poderia ter sido uma boa opção para Del Bosque pela fantástica adapção que cumpriu durante a temporada no Atlético de Simeone (atrás dos pontas-de-lança, mostrando um até então desconhecido poder de finalização) em detrimento por exemplo do intermitente Juan Mata. Dani Carvajal foi preterido no primeiro estágio por Juanfran, premiando uma maior regularidade do pêndulo do Atlético de Madrid bem como a forma em como combina bem pela ala com Koke ou como consegue servir com qualidade Diego Costa. Del Bosque não se atreveu a tocar na fórmula de sucesso de Simeone com a convocação deste trio. Já Jesus Navas disputou até à última uma vaga com Santi Cazorla. Prevaleceu a polivalência do médio ofensivo\extremo do Arsenal, jogador que consegue incutir muita velocidade, fantasia e tiro exterior ao jogo da equipa. Já o jogador do City é um extremo vertical que sabe ganhar muito bem a linha em velocidade ou em drible e centrar para a referência de área que tiver.

Álvaro Negredo foi a grande surpresa desta convocatória ao ser preterido pelos veteranos David Villa e Fernando Torres. Del Bosque deixou a fera de fora, apostando na experiência destes dois históricos da selecção espanhola. Ambos realizaram uma época medíocre nos respectivos clubes e a bom da verdade, Negredo não só consegue abrir muito espaços para os homens da linha média entrarem na área com bola (através das suas tabelas) como é um avançado que gosta de ter bola nos pés, fintar e atirar a baliza sempre que puder.

13 – Um dos grupos da morte

É efectivamente este grupo B. Espanha, Holanda e Chile irão dar grandes festas logo na fase-de-grupos. 2 estilos de jogo similares (Espanhol e Holandês) em conjunto com uma selecção chilena que se apresenta no Brasil com uma selecção hiper talentosa, provavelmente a melhor da sua história. Pelo meio, as 3 ainda terão que se bater com a Austrália, selecção que a partir de 2006 (32 anos depois da primeira presença em Mundiais) tomou o gosto à presença na prova (mesmo apesar da sua federação se ter mudado em 2006 de Federação Regional, passando desde esse ano a Austrália a disputar a qualificação Asiática; toda a gente previa com esta mudança que a selecção australiana teria imensas dificuldades para se qualificar novamente para um Mundial; o que é certo é que os australianos não falharam 2010 e não irá falhar 2014) e promete dificultar as contas visto que costuma ter um conjunto de jogadores incapazes de deitar a toalha ao chão nos grandes palcos.

14 – Uma laranja amarga…

van gaal

O Mundial 2014 deveria servir para que esta geração holandesa se apresentasse no Brasil no auge da sua maturidade. Com Robben a entrar na casa dos 30, Sneijder com 29 anos, Robin Van Persie nos 31, esperava-se que este trio chegasse ao brasil no pico da sua validade futebolística.

As notícias que temos ouvido do estágio da Laranja Mecânica não são positivas. Louis Van Gaal (entretanto anunciado como o novo treinador do Manchester United) está pela 2ª vez no comando da sua selecção natal, 12 anos depois de ter fracassado na qualificação para o Mundial de 2002, eliminado precisamente aos pés da nossa geração de ouro (ou terá sido dos cabelos de Nuno Gomes naquele penalty cavado pelo então avançado da Fiorentina naquele nervoso Portugal 2×2 Holanda disputado em 2001 no Estádio do Dragão no qual estávamos com meio-pé fora do mundial 2002 a 5 minutos do fim?). Van Gaal é um daqueles treinadores que não pode agradar a gregos e a troianos. Não é propriamente aquele agente do mundo do futebol que passa paninhos pelas costas de jogadores, adeptos e jornalistas. Não é muito dado a cortesias. Do estágio holandês já surgiram os primeiros relatos que afirmam que o seleccionador e Wesley Sneijder arrastaram as desavenças desenroladas durante a fase-de-qualificação, com o treinador a apelidar o seu número 10 de preguiçoso. Do treino de sexta-feira, também surgiu a triste notícia que narrou uma cena de pugilato a meio do treino protagonizada por Arjen Robben e o lateral-esquerdo do Feyenoord (de origem portuguesa) Bruno Martins Indi depois de uma entrada impetuosa do lateral sobre a estrela da companhia. Todos sabemos o quanto Robben abomina entradas assassinas (entradas que Martins Indi faz constantemente) aos seus débeis joelhos. A juntar a todo este suposto mal-estar, outra das estrelas da companhia, Robin Van Persie, tem passado a vida na enfermaria. Nada bom sinal para a selecção holandesa a poucos dias da estreia, precisamente contra a Espanha, numa re-edição em fase precoce da prova da final de 2010. Jogo que de resto poderá ser de mata-mata para ambas as equipas.

Se os homens da frente jogarem como sabem, Van Gaal poderá estar descansado. O tendão de Aquiles do seleccionador holandês é precisamente a defesa: a defensiva da laranja mecanica, composta pelos laterais-direitos Daryl Janmaat (PSV) e Daley Blind (uma espécie de homem dos 7 ofícios da defensiva; pode ainda actuar como trinco ou como ala defensivo nos 2 flancos), pelos centrais Ron Vlaar, Terence Kongolo, Paul Verhaeg, o jovem Joel Veltman (será um dos grandes centrais do futuro; poderá acusar muita inexperiência neste campeonato do mundo visto que só este ano começou a jogar na equipa principal do Ajax) e Stefan de Vrij (tirando Veltman, um central muito forte fisicamente, fortíssimo na marcação, no desarme e no jogo aéreo, os outros 3 são 3 podões duros de rins e facilmente ultrapassáveis por avançados rápidos; se Diego Costa alinhar frente à Holanda em boas condições, qualquer um deles será um autêntico petisco para o muleque) e pelo lateral-esquerdo Bruno Indi (um lateral que apesar de agressivo, é muito forte a subir pelo flanco e cruza bastante bem) não dão as garantias de segurança que qualquer selecção que se diga candidata necessita.

Nas alas, Van Gaal tem 2 fantasistas e um velocidade (Robben, Memphis Depay; LeRoy Fer) e um velho veterano de outras guerras que raramente dá uma bola como perdida (Dirk Kuyt) para servir as duas referências de ataque da equipa: Klaas-Jan Huntelaar, jogador que teve uma época algo apagada em Gelsenkirchen ao serviço do Schalke culpa das lesões (contudo Huntelaar é um matador nato e a aparente frescura física com que se apresenta no Brasil até pode jogar a seu favor) e Robin Van Persie.

15 – O Chile de Jorge Sanpaoli – Cuidado que há aqui muito perigo à solta. Ofensividade q.b num 4x2x3x1 maluco, agressivo q.b defensivamente. Muito virtuosismo técnico no meio-campo com um fantástico trinco que sabe destruir, construir e adiantar-se com bola em terrenos mais avançados de forma a ensaiar o seu poderoso pontapé de meia-distância (Marcelo Diaz), muita loucura à solta nas alas com Maurício Isla na direita e Gary Medel na esquerda, criatividade técnica nas costas do ponta-de-lança (Carmona, Vidal, Mati Fernandez, Jorge Valdívia; a forma física com que se irão apresentar Vidal e Valdívia é uma incógnita visto que ambos foram sujeitos a intervenções cirúrgicas nos últimos meses) e 3 pontas-de-lança fortíssimos na finalização: Alexis Sanchez, a estrela da equipa, bem secundado por Eduardo Vargas ou o nosso conhecido Maurício Pinilla. Os Chilenos irão dar tudo contra Holandeses e… contra a Espanha, selecção contra a qual todos os jogos amigáveis e oficiais (o Chile esteve a vencer a Espanha no jogo disputado no Mundial de 2010) costumam dar faísca…

16 – Tim Cahill – Não esperemos muito mais dos australianos do que um estilo de jogo similar ao velhinho estilo britânico kick and rush, agora caído em desusto. Os australianos usam e abusam do jogo aéreo, mesmo apesar de já terem gente bem dotada tecnicamente para meter a bola no solo. Tim Cahill é um desses exemplos. O veteraníssimo jogador de 34 anos, actualmente ao serviço dos New York Red Bulls da MLS, é daqueles jogadores que gosta de ter a bola no chão e utilizar o seu drible à entrada da área devidamente acompanhado com a capacidade de finalização que sempre teve. É de relembrar que em 2006 na Alemanha virou sozinho um jogo dado como perdido contra a selecção Japonesa nos 15 minutos finais e levou à Austrália a um histórico apuramento para os oitavos-de-final, fase na qual caiu apenas no prolongamento contra a Selecção Italiana com uma enorme fita do então lateral da Squadra Azzurra Fabio Grosso.

17 – Eixo Cahill-Rogic-Oar-Bresciano-Joshua Kennedy – os 4 primeiros são os artífices desta selecção. Joshua Kennedy, 31 anos, avançado do Nagoya Grampus Eight, semi-desconhecido do futebol europeu (entre 2000 e 2009 alinhou em vários clubes alemães – Wolfsburg, Sttutgarter Kickers, Colónia, Dynamo Dresden, Nuremberga e Karlsruhe – alinhando quase sempre na 2ª divisão alemã nos respectivos clubes – o melhor pecúlio obtido em terras germânicas deu-se entre 2004 e 2006 no Dresden com 16 golos em 60 jogos – no Japão tem sido muito letal – 63 golos em 128 jogos no Nagoya) é um daqueles jogadores que se transcende quando enverga a camisola da sua selecção. Foi da sua cabeça que, a 18 de Junho de 2013 se deu o efusivo golo que deu a passagem directa da selecção australiana para este Mundial, num jogo contra o Iraque que até aos 10 minutos finais estava a ser muito difícil de desbloquear para os socceroos.

18 – Grupo C

A Colômbia de José Pekerman é uma das selecções que toda a gente quer ver neste mundial. Com ou sem Radamel Falcão. A confirmada ausência do craque do Mónaco do campeonato do mundo retirou grande parte do entusiasmo global sentido em relação aos caféteros. Contudo, a selecção colombiana, recheada de grandes jogadores como o são Abel Aguilar, Aldo Ramirez, James Rodriguez, Pablo Armero, Camilo Zuñiga, Juan Cuadrado, Cristian Zapata, Adrián Ramos, Teófilo Gutierrez, Jackson Martinez, Macnelly Torres, Carlos Bacca, Mario Yepes, Edwin Valência ou o velhinho Faryd Mondragón (suplente aos 42 anos de um grande guarda-redes de nome David Ospina) ainda tem muito para ser visto e promete um futebol ofensivo que poderá colocar em pânico as selecções oponentes da Costa do Marfim, Grécia e Japão, naquele que é sem dúvida o grupo mais equilibrado deste mundial.

greece

19 – Karagounis e Samaras, Maniatis e Manolas, Ninis e Holebas – Fernando Santos tem aqui uma grande oportunidade para fazer história no futebol grego. O grupo permite aos gregos sonhar com um apuramento para a fase final e o seu futebol fechado assim como a sua mentalidade defensiva poderá ser bastante difícil de ultrapassar para qualquer candidato ao título mundial. O velhinho jogador do Fulham, antigo jogador do Benfica, ainda é o dono da batuta desta selecção e Giorgios Samaras é aquele special player capaz do 8 e do 80. O jogador do Celtic é simplesmente adorável quando pega na bola a meio-campo e no seu jeito tão peculiar, leva quantos forem precisos à frente para conseguir construir as suas próprias oportunidades de golo. Samaras é um jogador que aprecio bastante pelo seu recorte técnico e sobretudo pela sua vontade (quando quer!!). Fernando Santos aproveitará a estrutura construída por Leonardo Jardim e Michel no Olympiacos, apostando numa defesa composta por Avraam Papadopoulos na direita, Kostas Manolas e Sokratis Papasthopoulos no centro e José Holebas na esquerda (só Sokratis não é do Olympiacos) com um pivot defensivo à frente formado pelos elegantérrimos Katsouranis (PAOK) e Giannis Maniatis. Para o centro da defesa ainda há Dimitris Siovas, o outro central da equipa do Pireu.

Na frente, Kostas Mitroglou, dispensa apresentações. O avançado não chega na melhor forma ao Brasil, no ano em que foi um dos destaques do futebol europeu na primeira metade da época, ainda ao serviço do Olympiacos, com exibições que lhe valeram um bilhete em Janeiro para a Premier League, depois do Fulham ter pago 13 milhões de libras ao clube grego.

20 – Didier Drogba – Sem o brilho de outros tempos, sem uma selecção à altura do seu esplendor (Gervinho, Kolo Touré, Yayá Touré, Max-Alain Gradel, Wilfried Bony, Didier Zokora e pouco mais; e mesmo assim, esta gente toda é capaz de incomodar muita gente com a sua velocidade) mas ainda ávido de mostrar qualquer coisa ao mundo do futebol.

yaya

21 – Consequentemente Yayá – O médio mais completo da actualidade do futebol mundial. Destrói com classe, posicionamento irrepreensível, forte no jogo áereo, capaz de recuperar bolas e endossar com facilidade tanto no passe curto como no passe longo e até de percorrer metros com a bola em autênticas cavalgadas sem nunca perder o sentido de jogo. Este também poderá ser o seu mundial. Ao seu lado terá o seu eterno mestre, Didier Zokora, o eterno maestro do futebol africano.

 

 

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