Crónica do Mundial [Portugal/Alemanha]

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Ponho o lenço com a bandeira nacional que comprei no chinês em 2004 e vou ser portuguesa com os portugueses, sofrer com eles por causa de um jogo de futebol, ser uma igual, apesar do olhar deles pousado na minha excentricidade de mulher amalucada naqueles preparos, a portugalidade por um fio, a estrangeirice toda à mostra, que as mulheres verdadeiramente portuguesas da minha idade não são bem assim, nem vão sozinhas ver futebol para os bares a meio da tarde. Peço uma mine da marca Sagres pois parece-me ser mais portuguesa. Sento-me na obscuridade, quero lá saber da  luz da tarde, e preparo-me para ter a cabeça quente. Lá fora na rua não há vivalma, a semana ainda agora começou e já parece no fim.

Ponho o lenço, bebo a mine, como tremoços, enquanto 50 e tal mil pessoas numa arena no Brasil se transformam em selvagens, ali à minha frente, no écran gigante do Sérgio. Estou em Roma a beber uma Sagres e a comer tremoços enquanto os bárbaros rosnam. Um homem chamado Mueller (ou talvez seja Müller) marca três golos, dois sem glória, só sorte macaca e um árbitro subjectivo. Outro homem, um Hummels ubíquo, desmultiplica-se nesses todos do seu nome plural e faz o resto. Quatro golos. Já não quero mais nenhuma mine e até me apetece tirar o lenço. Talvez tenha dado azar, sabe-se lá. Saio para a luz do fim da tarde que parece ter ficado suspensa, e é outra vez Segunda, apesar dos homens desolados com quem me cruzo na rua, a semana ainda mal começada e eles já tão tristes.

Comments

  1. Marquês Barão says:

    Porque é que todo o cão e gato andou a endeusar os nossos eleitos, fazendo de Ronaldo o senhor todo poderoso? Curioso é que num estalar de dedos as ronaldeiras deram em carpideiras.
    Agora a minha carta aberta a Paulo Bento:
    Acabo de ver na TV o sermão foleiro e oportunista de Rui Santos, que de tão rasca e especulativo não vou repetir. De referir que bateu desalmadamente em tudo o que cheirava a seleção, desde dirigentes a selecionador passando pelos jogadores e inventado soluções miraculosas. Tudo isto por causa da derrota pesada perante a Alemanha. Este comentador merece uma grande tareia que não podendo ser á paulada, deverá ser dada pelo selecionador e sua equipa ganhando os dois jogos que faltam no grupo e daí continuar uma cavalgada imparável até á final e vencer para se sagrar campeão do mundo. Fica aqui a minha cacetada extensiva a todos os cientistas da bola que viraram o bico ao prego a martelar nos próprios dedos. Como é que esta gente nunca mais aprende que os jogos não se ganham na conversa da treta mas dentro das quatro linhas, e com um distinto descaramento passam num ápice sem se ensaiar da glorificação á excomunhão? Vai uma “mine”.

    • Nightwish says:

      “Como é que esta gente nunca mais aprende que os jogos não se ganham na conversa da treta mas dentro das quatro linhas”
      Isso deve ser um recado para os jogadores e para a FPF…

      • Marquês Barão says:

        É essencialmente para o exército de jornalistas e comentadores que alimentam e se alimentam dessa mixórdia.

  2. Esta foto explica tudo : O Steve Carell expulsou o Pepe… complexo de Scott…

  3. Piorquemao says:

    Lamento dizer-lhe mas na actualidade não há nada de português na sagres, que eu saíba nem o ceo. Quanto ao mundial a única de positivo que observo é a franca possibilidade de ver o bento pelas costas, por péssimos serviços prestados.

Trackbacks

  1. […] 22 de Junho de 2014 não ponho o lenço de ir à guerra. Lá fora na rua passam grupos de rapazes com packs de cervejas na mão, a atmosfera exala a […]

  2. […] como qualquer coisa para mais tarde poder enfrentar o que resta da tarde, e uma vez mais não ponho o lenço de ir à guerra – por medo de não ganhá-la, naturalmente, e de ficar desse modo ainda mais […]

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