Peculiares regularizações de quotas

Voting Dead

De todas as anedotas que vêm marcando a vida do Partido Socialista nos últimos meses, entre as quais se destaca o processo eleitoral interno, existe uma que me deixa particularmente perplexo e que tem a ver com o intenso movimento de regularização de quotas no âmbito das eleições para a distrital de Braga. A malta até anda de cinto apertado por causa da austeridade e tal mas eleições são eleições e se o orçamento não chega para o essencial há que abdicar de uns bifes e pagar as quotas o quanto antes. Na concelhia de Famalicão, em apenas 4 dias, 828 militantes regularizaram a sua situação, 719 dos quais com anos de quotas em atraso o que lhes valeu a suspensão da militância no partido.

Quem paga estas quotas? De onde vêm o dinheiro utilizado para este fim? Quem supervisiona estas movimentações, no mínimo suspeitas? Será que as pessoas a quem são pagas as quotas estão a par desse mesmo pagamento? São questões que vão ficando sem resposta até porque, quem conhece a podridão dos meandros político-partidários sabe bem que, na esmagadora maioria dos actos eleitorais dos partidos, pelo menos nos que constituem o bloco central, há sempre uma quantidade substancial de militantes que, de um dia para o outro, regulariza vários meses ou anos de quotas num abrir e fechar de olhos. Eu tenho um amigo que há mais de 10 anos abandonou na JSD e que ainda hoje recebe em casa uma carta anual do partido a remeter o recibo relativo ao pagamento das quotas que não pagou.

Mas o podre não se fica por aqui. Há duas semanas, o JN contava a história de Olívia Vieira, uma antiga militante socialista falecida no final de 2013, a quem foram pagas as quotas na concelhia de Famalicão em Julho passado. Em declarações ao jornal, a irmã de Olívia afirmava que tanto ela como a irmã nunca pagaram quotas mas estas acabavam sempre por aparecer pagas. Ontem ficamos a conhecer o caso de Fernanda Costa, falecida em Outubro, que tal como Olívia e dois outros casos anteriormente conhecidos, tem também as suas quotas em dia, consta nos cadernos eleitorais e, apesar de obviamente impossibilitada, está apta a votar.

Como podemos confiar em partidos cujos militantes pagam quotas a outros militantes para que estes vão votar? Não seria de esperar que aqueles que se assumem como representantes da Democracia tivessem um comportamento verdadeiramente democrático e deixassem ao livre arbítrio de cada um a decisão sobre pagar quotas ou mesmo votar? Quão absurdo é um qualquer cacique partidário é ordenar ou proceder ao pagamento das quotas de uma militante que já faleceu? Pensem sobre o assunto da próxima vez que votarem PS. Ou PSD, lá não é muito diferente…

Comments

  1. Joam Roiz says:

    É o caciquismo e a fraude a operar em força. Os militantes a quem foram regularizadas (pagas) as quotas nem sequer irão votar. O cacique ou os seus homens de mão que estiverem na mesa vão limitar-se a fazer a descarga na urna dos votos no candidato que previamente escolheram. Estas “primárias” são o exemplo acabado do que, bem no fundo, é a democracia burguesa: a corrupção, a mentira e a fraude.

  2. O cds é igual, e não é bloco central, é união nacional composto por esses três partidos.

    • CDS, PSD, PS… mas não é tudo a mesma coisa?

      • É, mas a união nacional não é bloco central, é extrema-direita.

        • o PS inclui-se no pacote?

          • Sim. Não sei qual é a dúvida. Às custas deles não sei quantas milhares de pessoas não morreram, outras para a miséria…

          • à custa dos socialistas portugueses? agora baralhou-me. quando é que isso aconteceu mesmo?

            P.S. Não quero de forma alguma fazer a defesa de um partido que tanto contribuiu para a desgraça deste país mas dai até serem extrema-direita… então o PNR é o quê?

          • O pnr nem sequer governa. Olhe o ps para começar foi o grande responsável pelos ataques fascistas do Verão Quente, e depois com o seu fmi, e com dinheiro que gamou, e as suas políticas tem deixado milhares de pessoas na miséria, tem morto outras tantas quer por falta de €, de comida, de medicamentos, de assistência médica… penso que não esteja a dizer disparate algum.

          • não está. só não acho que se trate de extrema-direita. Para mim, o PS é um PSD (ou o PSD é um PS, como preferir) que não é absolutamente nada a nível ideológico. apenas um partido oportunista com características camaleónicas…

          • Para mim o que não falta aqui é ideologia. O márocas e outros que mandam nesses partidos sabem bem o que querem, e qual a sua linha política e ideológica. Mas não tem que concordar comigo.

          • Mas eu concordo consigo. só não acho que a etiqueta “extrema-direita” se aplique, that’s it!

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