A História dos últimos 39 anos em Portugal

É de enaltecer que Mário Soares tenda cada vez mais para uma sinceridade que chega a ser comovente. Que viva muitos anos e mais episódios sejam contados, completando a História do empreendedorismo à portuguesa, sempre alapado aos governantes e ao estado.

O oportuno vídeo é do 31 da Armada, que se enganou no título: são 39 e não 40 anos. Vindo de quem comemora com tanto afinco o 25 de Novembro foi um deslize indesculpável.

Comments

  1. Orvalho says:

    E disse mais, muito mais. Interessante ver todos os depoimentos: http://www.rtp.pt/play/p1516/e165592/linha-da-frente

  2. coelhopereira says:

    Se a sinceridade inusitada do dr. Mário Soares é comovedora , ela não traz, por outro lado, nada de novo ao seu esboço biográfico. Já todos sabíamos da sua incontinente queda para o fabrico de imorredouras amizades com homens cujos percursos falam por si: de Hassan II, a Jonas Savimbi, passando por Carlucci, o decano fundador do PS sempre teve o condão de apostar em gente que corria em sentido contrário ao sentido da História, ao mesmo tempo que deixava (essa gente) atrás de si um rasto de sangue, morte e destruição.
    No caso do incentivo do dr. Soares à família Espírito Santo para, com um empurrãozinho aqui, um empurrãozito ali, retomar a posse do seu banco tão maleficamente nacionalizado pela vil comunagem, e no actual desfecho de tal pretérita retoma, não houve, nem poderia haver, felizmente, nem sangue, nem morte. Mas ainda estamos para ver quão destrutivas serão as ondas do magno terramoto provocado pela derrocada de mais este caso de sucesso do sector privado que foi o BES. Eu bem compreendo as actuais angústias do dr. Soares: deve ser horrível constatar que tudo o que pensava vir a dar certo – da entrada na UE à crença na excepcionalidade moral do “Amigo Americano, da esperança do advento de um Mundo de leite e mel trazido pelo desabar do Muro de Berlim à aposta no espírito “patriótico” de piratas financeiros – ter dado errado e, o que é pior, já não haver tempo nem condições para dar remédio a tão extenso e tão profundo falhanço.

  3. Reblogged this on O Retiro do Sossego and commented:
    Porque só agora diz a verdade? Porque aldrabou durante tantos anos o povo português?

  4. Vamos por partes:
    1-Porquê 39 e não 40? Tudo começa a seguir ao 25 de Abril de 1974 e não apenas depois do 11 de Março ou 25 de Novembro. Não vivi nenhuma destas datas apaixonadamente, porque era criança, esclareço desde já. Mas pelo que consegui ler, é impossível dissociar os acontecimentos. A maioria dos personagens são os mesmos, uns de forma mais coerente, outros mais errantes, ao sabor das circunstâncias.
    2-Quanto a Mário Soares. Votei nele à primeira volta de 1986. Na segunda votei Freitas do Amaral. A razão na altura tinha a ver com ideologia. Afastar a mínima possibilidade de aproximar Portugal do império do mal (a felizmente já extinta ex-URSS), como olhava na altura para o mundo, era um desígnio. Obviamente que olhando hoje, à distância para os 80’s, muita coisa me parece excessiva, absurda e surreal. E nesse tempo Mário Soares estava do lado certo da História, desde a Alameda.
    3-Acontece que hoje vejo Mário Soares por outro prisma. Primeiro tratou de eliminar ou acantonar possíveis rivais ou adversários à esquerda. Mais tarde acentuou uma clivagem esquerda vs. direita, muitas vezes desnecessária.
    4-Mário Soares protagonizou também momentos patéticos. Do tristemente célebre “ó sr. guarda, desapareça, não precisamos de polícias”, dirigido a um militar da GNR, na altura em que por inerência de funções era comandante supremo das F.A., à canalhice que fez a Manuel Alegre, oferecendo à esfinge (em tempos fui apoiante de Cavaco Silva, mas isso são outras contas…), a primeira eleição presidencial numa bandeja, sem faltar o ódio e ressabiamento que se consegue perceber a cada entrevista ou intervenção do homem que já não estando na política activa não se conforma que actualmente só tem lugar na RTP memória…
    5-Quando falamos em credibilidade do sistema político e confiança nos políticos, para o actual estado de coisas muito terá contribuído tal protagonista. Não será o único obviamente, mas será um dos piores ao longo dos últimos 40 anos.
    6-Obviamente que desejo que Ricardo Salgado fale, no mínimo terá direito a um julgamento justo. Mas infelizmente penso que não dirá tudo e ficaremos tão esclarecidos quanto estamos hoje. O que Mário Soares diz não se pode levar a sério. Das questões com Angola, começando pelo nunca explicado acidente aéreo que quase vitimou o filho, às alianças e cumplicidades improváveis que foi tecendo. Do nunca totalmente explicado episódio de retirar o apoio a Ramalho Eanes ao ódio que destilava no 2º mandato a Cavaco Silva, habituei-me a reconhecer em Mário Soares a coluna vertebral que tem uma enguia. Ao contrário do seu rival de sempre Álvaro Cunhal, insuspeito que sou de admirar, mas a quem sempre reconheci coerência e verticalidade.
    Mário Soares para mim não passa de mais um tonto, procurando sair do esquecimento. Porventura não será o principal culpado, muito menos o único, mas muito do estado a que isto chegou tem mais que a sua assinatura, tem também o seu adn…

    • O que este depoimento revela não tem nada que ver com o PREC, mas sim com a recuperação posterior do mesmo capitalismo, neste caso e em quase todos com as mesmas famílias, à boa maneira portuguesa, por benesse dos governantes.
      Isto é o 25 de Novembro em todo o seu esplendor, não é o 25 de Abril que precisamente nacionalizou esse capitalismo encostado ao estado, onde as grandes fortunas não se fizeram por outro mérito que não fosse o do favorecimento de quem governa por sua vez retribuído com os financiamentos cada vez que necessários.
      Quanto a Mário Soares, que quase sempre tive como adversário (mereceu o meu voto uma vez, e sem espinhas), é um senhor. Merece o lugar na história que vai ter.

  5. Orvalho says:

    Pois, pois … o “pai da democracia”, como muitas vezes o intitularam, não deixa margens para dúvidas sobre quais eram as “regras da democracia” que tanto apregoava. Além do mais, deixa uma bela pista para um seu correlegionário, agora tão interessado em ´”separar a política dos negócios” a propósito das actuais eleições internas no partido de ambos.
    Na minha maneira de ver, outro aspecto fascinante do vídeo é a justificação que aí se encontra para o permanente ar de órfão do funcionário do BES, de cujo nome não me recordo, agora delegado sindical nacional.
    Todos gente da esquerda, obviamente …

  6. In senectute veritas. Mai’ nada!

  7. Reblogged this on || and commented:
    e é este tipo e esta gente que faz jeitos … e de jeito em jeito ainda respiram….

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