O punho e a rosa

José Xavier Ezequiel

PS_punho  PS_rosa

A maioria dos cidadãos talvez não saiba, mas o logo-punho-erguido do Partido Socialista foi apenas fruto das circunstâncias. Ao que me contaram, havia várias propostas para um símbolo que, mesmo depois do 25 de Abril, pura e simplesmente ainda não existia. O PREC e a ‘guerra dos cartazes’ obrigavam a tomar decisões, coisa sempre difícil no PS ‘histórico’. Parece que um funcionário do partido, a meu ver com um enorme sentido de humor, escolheu para os primeiros cartazes aquele punho sobre um fundo amarelo-e-vermelho e, tal como na clássica tradução do latim — ‘ite, missa est’. Ou seja, assim ficou.

É certo que o primeiro PS, não sendo propriamente marxista, era, pelo menos, claramente igualitarista. E anti-clerical. Ora, quando um partido assim tão jacobino é assaltado por uma vaga muito mais dada a missas e ladaínhas, havia que mudar de logo. Foi o que o bondoso engº Guterres tentou fazer, ao substituir o velho punho erguido por uma rosa com ‘désainhe’.

O velho PS torceu o nariz a este vistoso reposicionamento, como agora se diz, em marketês. Na verdade, excepto na extensão de marca JS, nunca o punho-e-a-rosa apareceu sem o punho-erguido ao lado. E, com a fuga intempestiva do engº Guterres para Nova York, o desgraçado foi mesmo caindo em desuso, desaparecendo da comunicação do partido a partir o consulado socrático.

Pode parecer-vos assunto de ‘lana caprina’, este dos símbolos do PS. Mas olhem que não é bem assim. Basta lembrar que, até àquela triste ideia da rosinha-em-cor-de-rosa-desencarnada, os militantes e/ou simpatizantes do PS eram conhecidos por ‘xuxas’. Agora, são conhecido por ‘rosas’. A meu ver, chama-se a isto um downsizing da marca PS.

António José Seguro, aka Tózé Seguro, aka Tózero, aka Punk Rural, é claramente um produto desta tentativa de transmutação do PS em rosa-cruz. Talvez já não se lembrem, mas este jovem, que fez o liceu no Externato de Nossa Senhora do Incenso, em Penamacor, foi líder da ‘juventude’ entre 1990 e 94. Melhor ainda, foi ministro-adjunto do beato Guterres entre 2001-02. Ou seja, é um lídimo representante da santa-tralha-guterrista. Sonso, canastrão, dissimulado, tudo o que eu odeio nos políticos dados a missas & ladaínhas.

Dir-me-ão que o outro Toninho, o Costa, também tem as suas coisas. É verdade. Lamento vê-lo acompanhado de Pedros Abrunhosas, Luíses Montezes, Manuéis Alegres ou Antónios Vitorinos. Custa-me ouvi-lo anunciar que o seu candidato às presidenciais é o o beato António Guterres. Chateia-me, solenemente, saber que é lampião. Mas, enfim, ainda que ele já não acredite muito no que diz nos comícios, ao menos tem todos os velhos jacobinos do PS com ele.

Nada me garante que, nas próximas legislativas, vá votar no PS. Pode dar-me a maluca e resolver pôr a cruzinha no despropositado Partido dos Animais, no novo partido do licenciado Marinho & Pinto, ou até mesmo nos hilariantes Verdes de Heloísa Apolónia. Ainda assim, este domingo vou à sede mais próxima votar no PS do António Costa. Depois, logo se vê.

Comments

  1. Símbolos que perderam o seu significado há muito tempo… assumindo que alguma vez o tiveram.

  2. Ena, um post interessante já que de memória falamos. Sim, bem me lembro do PS ter o punho erguido como símbolo, mas convém lembrar que nesses tempos até o CDS poderia ser classificado de esquerda católica. Nem falando no PSD de Sá Carneiro, https://www.youtube.com/watch?v=qJbMcQTIVHs. Obviamente que a época era dada a paixões e extremismos. O tempo se encarregou de colocar as coisas no devido lugar.

    P.S. – Apesar de ter memória do punho como símbolo do PS, tinha 9 anos no 25 de Abril. Não vivi o PREC, por razões óbvias, mas guardo algumas memórias, porque ouvia discussões à minha volta.

  3. J. Ribeiro says:

    Tudo muito engraçado, mas depois de tanta lenga lenga põe a hipotese de votar no Partido dos cães e gatos, no populismo do Marinho Pinto ou até nos melancias, que nunca se apresentaram sózinhos ás eleições.Estou esclarecido…..

  4. Carlos de Sá says:

    Contaram-lhe muito mal a história do símbolo: o punho esquerdo erguido – não esse rechonchudinho, mas um punho esquelético (“de pé ó vítimas da fome”, mesmo na versão arranjada pelo Manuel Alegre) – é símbolo do PS desde a sua fundação na clandestinidade. Tenho um na minha colecção pessoal, se não estou em erro fabricado na Itália em 1973.

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