Sobre greve, apenas isto…

Não sou dos que defendem o fim do direito à greve. Bem pelo contrário, considero a greve uma legítima forma de luta. Que apenas deveria ser utilizada em último recurso, perante situações excepcionais. Não é exactamente o que acontece em Portugal, onde a greve se tornou uma banalização, utilizada vezes sem conta, principalmente pela CGTP e sindicatos seus filiados para usar a rua muitas vezes para motivos políticos, em vez de procurar resolver problemas laborais. É pena que o faça, perdem credibilidade, sendo essa a razão para perderem sistematicamente o apoio do cidadão comum, também ele trabalhador e frequentemente o mais afectado com a greve. Nos transportes públicos deficitários é por demais evidente que não são as empresas as principais lesadas, mas os utentes. Mas para os sindicatos isso pouco importa, querem é gente na rua, promovendo a sua manifestação ou concentração que depois receberá o tempo de antena no jornal televisivo em horário nobre.

Basta lembrar alguns factos, desde a privatização que não existem greves nos CTT. Nos Bancos então é coisa do passado, já poucos recordam os tempos em que os balcões fechavam para almoço, éramos atendidos por funcionários antipáticos ou pouco eficientes, perdendo um tempo interminável, apesar de guardarem o nosso dinheiro. Existe ainda outra razão, talvez a mais relevante, não apenas sobre a greve mas sobre a própria sindicalização dos trabalhadores, que condicionam a própria acção sindical. Embora todos os trabalhadores possam ser sindicalizados ou fazer greve, a verdade é que os sindicatos perderam poder ao longo das últimas décadas, pela diminuição do número de trabalhadores sindicalizados. E não adianta virem dizer que isso acontece pelos baixos salários ou condições precárias. A verdade é que trabalhadores especializados, quadros médios trabalhando em empresas privadas ou multinacionais, não se sindicalizam, logo não pagam quotas, não estando os sindicatos interessados neles, apesar de trabalhadores. Ao invés, na função pública ou empresas de capital público, o número de trabalhadores sindicalizados é relevante. Também por essa razão protestam com as privatizações, pois sabem que a curto prazo perdem poder. Mas apesar dos abusos continuo a defender o direito à greve, cujo exercício é totalmente legítimo desde que respeitadas as regras. O que nem sempre acontece, muitas vezes com piquetes de greve à porta da empresa ou instituição, impedindo de forma violenta o direito ao trabalho, que é igualmente legítimo. Quando um sindicato convoca uma greve, a empresa ou Estado devem encarar o facto com normalidade, bom senso e respeito pelos direitos. O mesmo respeito que um sindicalista deve observar para com o colega que decide não aderir à greve. Todos são responsáveis pelas acções, as consequências já são outra discussão…

Comments

  1. vitormanueldossantos monteiro says:

    interessante o ódioa que revela aos trabalhadores,porque quem as faz sao eles

  2. A sua má fé é evidente.
    Os transportes públicos apenas são deficitários numa visão de merceeiro e de técnicos da folha de Excel tão em voga.
    Atente nas externalidades dos transportes públicos: menor importação de combustíveis, menor desgaste de estradas, maior segurança rodoviária, os benefícios sociais que promovem.

    “No meio do caminho havia uma pedra…” e o Sr. está sempre a topar nela.
    Viva o Estado Social.

    • joao lopes says:

      não acho que este post. seja anti-grevistas( eu proprio sou um desses “comunas grevistas”,passe a ironia) ,por outro lado acho que as pessoas precisam de saber ouvir e saber-se dár a ouvir.é o minimo numa democracia em acelarada destruição pelo actual governo de portugal(vá lá,”salgado” deixa lá cair esses “politicos” que tu sabes)

  3. O direito à greve acabou no sector privado. Chama-se flexibilização e despedimento.
    Essa hipocrisia do não sou contra o direito à greve, é tão nojenta como as leis laborais.

    • Ou talvez o sindicalismo tenha de se reinventar. Quando o descontentamento existe as pessoas forçam mudanças. Certo é que este modelo de sindicalismo não defende todos os trabalhadores. E muitos trabalhadores não têm quem os represente…

      • Nascimento says:

        “Quando um sindicato convoca uma greve, a empresa ou Estado devem encarar o facto com normalidade, bom senso e respeito pelos direitos.”…

        A sério?Normalidade?Bom senso?RESPEITO PELOS DIREITOS? Ó Almeida,não bebes mais nada!

        ps Greves só aos Domingos e depois da missa!

      • Nascimento says:

        “Todos são responsáveis pelas acções, as consequências já são outra discussão…”

        Ora nem mais.E já agora, quais são as consequências?É que, é precisamente aqui que dás á sola.Vá lá ,até sabes.Tenta lutar e organizar uma greve ou paralização contra ( salarios baixos e horários de escravo,)no Pingo Doçe por explo. Verás o que é a NORMALIDADE E A CONSEQUÊNCIA….

    • joao lopes says:

      a greve “acabou” no sector privado pelo medo, apenas pelo medo de perder o 485 euros de salario por mês.e 12 horas diarias.e horarios descontrolados(ora entra à meia-noite,ora entra ao meio-dia)…e isto é nojento.

  4. António Duarte says:

    Defender o carácter excepcional da greve passa por dar, por outras formas, voz e poder negocial aos trabalhadores na tomada das decisões que lhes dizem respeito.

    Quando se ignoram as manifestações, quando se despreza o contributo que os trabalhadores podem dar à gestão das empresas em que trabalham e que nalguns aspectos conhecem melhor que ninguém, quando se repisa o discurso antidemocrático da falta-de-alternativa como verdade do regime, está-se a fechar as portas ao diálogo e ao consenso e a tornar inevitáveis as greves e outras formas de luta mais radicais.

    Acrescente-se que não é por causa das greves que as empresas públicas de transporte estão na situação que todos sabemos, mas sim por um conjunto de razões onde avultam, para além das referidas no comentário anterior, o subfinanciamento e o endividamento crónicos do sector.

  5. Eu não sou….mas…., até eu, provocador profissional, tenho um primo que é grevista profissional. Querem ou não bons profissionais? O Crato, o demolidor destruidor, é considerado pelo 1º um excelente profissional que não deve deixar o clube, o que os benfiquistas pedem, volta não volta, a Jesus, que até é um excelente profissinal e não perdeu dinheiro com o BES, tal como aquele outro excelente profissional a quem fizeram a cama com uma pinta do caraças, e depois temos aquela excelsa personagem francesa que ataque o super heroi portugues e que é um portento de profissionalismo, mas chega de futebol, apesar de o mundo ser redondo e uma bola nas mãos de Deus e do diabo. Houve uma publicidade que cantava assim, “não vá, telefone…” que até está mais de acordo com os tempos actuais em que se acredita que dá para navegar no eter, no cabo, na fibra, na electricidade, imagine-se ….

  6. João says:

    Que poste bafiento.
    ” a greve deve ser utilizada em último recurso”
    Mas quem define o que é último recurso?
    Devem ser os patrões e o António de Almeida.

  7. Nightwish says:

    A não ser em último recurso? O António já analisou bem as gigantescas perdas obtidas pelos trabalhadores em face ao ganho obtido pelo 1% que pouco ou nada acrescenta à economia, muito pelo contrário?
    E já olhou também para a destruição dos serviços públicos em todo o mundo? Para a privatização dos comboios no reino unido, para a privatização das escolas na suécia, para o grupo GPS, para o fecho dos balcões dos CTT, para o aumento dos lucros da EDP (este ano lá ganharam mais um aumento no orçamento), para a destruição de todo o sector ferroviário em Portugal, etc, etc, etc, etc e ainda acha que não estamos em altura de greves? Que mais é preciso? Que o desemprego, ou a falta de transportes, ou de tribunais, ou de hospitais atinja também o António e a sua família?

    Estamos todos a ser roubados, à grande, para que muito poucas pessoas que não precisam tenham cada vez mais. Se o António não faz parte da solução tenho muita pena.

  8. O problema não são as privatizações, bem pelo contrário. As privatizações e livre concorrência aumentam ganhos de eficiência, melhoram serviços e beneficiam consumidores.
    Deu um excelente exemplo, a EDP. Não sou contrário ao lucro, pelo contrário, considero que deve ser o objectivo de qualquer empresa. Sou absolutamente contra o proteccionismo do Estado, que apenas serve uma dúzia de empresas, que se ineficientes não as deixam falir mesmo que a concorrência faça melhor. Ou nem sequer concorrência têm. Foi assim no condicionamento industrial de Salazar, continua a ser assim nos dias de hoje.Quando públicas são elefantes brancos sorvedouros do dinheiro do contribuinte. Quando privadas servem de albergue aos boys do regime com lucros garantidos aos comparsas dos políticos que as adquiriram.
    Mas por favor, não chamem a isso liberalismo, porque de liberal não tem rigorosamente nada…

    • António Duarte says:

      Gostaria de perceber onde está a “livre concorrência” no caso da EDP ou dos outros monopólios naturais que foram privatizados.

      Qual é a moralidade do lucro quando este está à partida garantido pela falta de alternativas, pelas garantias do Estado e pela inevitável cartelização com que as grandes empresas garantem o retorno rápido dos investimentos, a ausência de riscos e a maximização do lucro?

      Falemos do capitalismo tal como ele é, não como é descrito nos manuais que nos descrevem o paraíso neoliberal…

    • Nightwish says:

      Então, uma EDP que continua a aumentar a electricidade sendo ela sempre uma das mais caras da Europa é um exemplo de progresso.
      E, como não falou no caso das outras privatizações, vou continuar à espera.

  9. arrivas says:

    “As privatizações e livre concorrência aumentam ganhos de eficiência, melhoram serviços e beneficiam consumidores”

    hahahaha,

    • Ferdinand says:

      Um bom exemplo que me está acontecer neste momento com uma multinacional de eletrónica.

      O portátil tinha um problema no lcd, mandei para arranjo, trocaram o lcd por um outro lcd, quando recebi o portátil reparei logo que o novo lcd estava com problemas, agora vou ter que enviar o portátil outra vez para trocarem por outro lcd…

      Enfim, fiquei sem o PC onde trabalho por mais de uma semana, para além do tempo que tive que gastar em backups e reinstalações, e agora serei obrigado a ficar sem ele por mais uns tempos!!

      O que me diz a “eficiente” multinacional, dizem que lamentam…

      Viva à “eficiência” dogmática do António de Almeida!!

      • Eu não quero fazer publicidade, mas nos últimos anos tive 2 problemas com multinacionais na área electrónica. Quanto à primeira, deixei de consumir. Quanto à segunda, recomendo a amigos, pela excelência e honestidade que demonstraram no serviço de assistência. Claro que também pode ter sido apenas uma questão de competência dos colaboradores, mas eu consumidor, retive que uma empresa me resolveu um problema, a outra não…

        • Nightwish says:

          A HP já foi à falência? Não? Então, claramente, o mercado não funciona.
          Já nem falo na Lenovo porque bem se sabe como são as coisas na China… Mas continua com muitos clientes a ser enganados.

  10. ferpin says:

    Acho um piadão a este tipo de opiniões.

    Também não gosto do que se sofre com o efeito de greves, mas faz parte da coisa.

    E acho um piadão que haja quem consiga criticar os trabalhadores por irem para a greve, em situações em que lhe querem tirar qualquer coisa ( já não há greves para conquistar algo, as últimas são sempre para defender algo que a entidade patronal quer tirar), com administrações avessas ao diálogo, que desprezam os trabalhadores e querem impor a sua vontade, normalmente alegando as dificuldades das empresas como pretexto, mas trocando as viaturas topo de gama e não abdicando de nenhuma mordomia.

    Veja-se as viaturas que usa o “conselho de administração” da “empresa” PORTUGAL, que são quase todas posteriores a 2011, data desde a qual se diz aos empregados que é preciso troikar, pois a empresa está quase na falência.

    Se eu fosse governo e quisesse cortar na despesa e nos benefícios do povão, começava por não trocar os pópós do governo, nem que tivesse que aparecer em mercedes de 2002 ou 2003 que deve haver por lá muitos encostados. Assim se calhar o povão acreditava que a coisa está mal.

    E evitava, como por exemplo o crato, andar a dar voltas ao mundo em passeio, enquanto no MEC tudo falha.

  11. João Soares says:

    Nos anos 60/70 ,quando as estrelas de Hollywood perdiam protagonismo resolviam divorciar-se para os jornais noticiarem em “manchete” o acontecimento.
    Mais recentemente,inventaram-se outros ardis para atingir o mesmo objectivo.Um bom exemplo deu-nos o Vital Moreira.!
    Quando todos os constitucionalistas afirmavam a ilegalidade dalgumas medidas do Passos, veio o Neanderthal Moreira dizer de sua sapiência , e em contra-corrente que não senhor ,que era tudo constitucional .
    Desta vez , e và-se la saber porquê , vem este senhor Almeida
    disfarçado de inteligente dizer ao povão que o Zeinal Bava e o António Mexia , têm o mesmo direito a fazer greve que o empregado da sapataria onde compro os meus sapatos !!!
    Deus Nosso Senhor é pai de cada C…lho !!

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