Vem aí a super-esquadra-mega-agrupamento-escolar

Imagem5Segundo os computadores da OCDE, Portugal ainda tem polícias e professores a mais. Nestas áreas, de acordo com o Jornal de Negócios, é necessário “um ajustamento mais substancial”. Alguns, mais ingénuos, poderão pensar que “ajustamento” é um eufemismo de “despedimento”, mas estão enganados: para haver eufemismo, os trabalhadores teriam de ser considerados pessoas, o que, felizmente, já não acontece.

Nuno Crato, o ministro mais rápido do Faroeste, já pensava que o único professor bom era um professor despedido. A OCDE, qual sétimo de cavalaria, faz soar o cornetim e vem em socorro dos ministros acossados no forte.

É fundamental, então, que polícias e professores se preparem para os tempos que aí vêm, porque é fácil adivinhar o futuro, tendo em conta o governo reformista que temos.

Não, não será suficiente despedir alguns professores e outros tantos polícias. O governo irá, com certeza, mais longe do que isso.

A solução estará na fusão de super-esquadras com mega-agrupamentos e as vantagens são evidentes.

Antes de mais, está para nascer uma nova profissão que poderá passar a chamar-se profelícia ou polissor. Alguns especialistas já se pronunciaram contra o primeiro termo, uma vez que se aproximará demasiado de delícia e convém evitar a lubricidade latente. De qualquer modo, a designação deste cruzamento entre professor e polícia está em consulta pública, pelo que a caixa de comentários está à vossa disposição, como serviço público que gostamos de ser.

Nesta nova profissão, o professor, para além de poder continuar a deter conhecimento, poderá passar a deter pessoas, o que tornará mais célere a resolução de problemas disciplinares na escola, permitindo, ao mesmo tempo, que os alunos não percam aulas, porque as próprias esquadras serão, também, escolas. Para além disso, os professores voltarão a ser respeitados, a partir do momento em que possam entrar armados nas aulas, havendo, ainda, a possibilidade de recorrer ao taser para controlar alunos mais indisciplinados ou faladores.

Como é evidente, o programa “Escola Segura” terminará, porque, também no policiamento das escolas, será possível fazer mais com menos, o velho sonho de Nuno Crato.

O policiamento das ruas, que passará a ser feito por polícias que também são professores, poderá transformar-se em momentos de ensino-aprendizagem, provando que os Monty Python são visionários e não meros cómicos. Assim, o polissor não só poderá deter os criminosos, como, ao mesmo tempo, irá corrigir erros de português ou imprecisões terminológicas.

Imagine-se, então, a seguinte cena. Um criminoso, atingido pelo bastão policial, poderá gritar, ao descobrir que está a sangrar:

– Oh que caraças! Olha o que me fizestes!

Será a altura ideal para que o polícia e pedagodo, depois de voltar a usar o bastão, diga:

– Não é “fizestes”, menino! É “fizeste”. Vamos lá para a esquadra, que amanhã, por esta hora, já vais saber o pretérito perfeito do indicativo.

Comments

  1. Agora começaram todos a pedir desculpas. Depois do Crato, a Paula e mais o Rajoy. Ainda vamos ter a Merkel a pedir desculpas e o seu depravado ministro das finanças, o Barroso, o João César das Neves, o Camilo Lourenço, o grande Marques Mendes, o Vitor Gaspar já pediu, o Aníbal nunca pedirá porque nunca se engana (só no nº de cantos dos Lusíadas), o Portas só pede desculpas a si próprio e o PM está nos Açores e não tem tempo para pedir desculpas porque está interessado em ver as tais vacas libidinosas a caminhar em queue britânica, umas atrás das outras, sorridentes e lascívas, para a ordenha mecânica. Caso não tenha tempo para tal, aguarda-se um pedido de desculpa às vacas.

    A desculpa é o novo sinal dos tempos.Nisso, o Crato implodiu. Poder-se-ia ter implodido a si próprio ao mesmo tempo mas era muita implosão junta.

    Tudo isto para dizer que o relatório da OCDE poderia ter começado a pedir desculpas e terminado com um pedido de desculpas. No meio, um enorme pedido de desculpas.

  2. Significará isso que poderemos também fundir os ministros da Adm. Interna e da Educação?

    Miguel Crato, o polissor chefe!

  3. Eu tenho a certeza de que os males todos da economia são provocados pelos professores.
    Esses malandros querem é ensinar Matemática, História, Línguas, Ciências, Filosofia. E isso tudo serve para quê, exactamente? Alguém come História? A Filosofia constrói alguma casa? A Matemática faz alguém ganhar votos? Não, pois não?
    Então, e, vá lá, sendo generoso, devia o país eliminar o ordenado aos malandros dos professores. Nada, zero, nicles!
    Esses gajos são viciados em ensinar coisas aos pobres jovens que não lhes fizeram mal nenhum.
    Ora quem tem vícios que os pague. Cortava-se-lhes o ordenado e, se quisessem, mesmo assim, continuar a prevaricar e ensinar essas coisas todas, teriam de pagar um imposto adequado. Uma licença, digamos assim. A qual poderia reverter (fica a sugestão) para melhorar as condições do restaurante da Assembleia da República, que anda muito em baixo (chega a servir caviar de 2ª e os pobres deputados têm de o pagar a 3 e 4 euros a dose; não se admite).

  4. orquídea says:

    Sem mais palavras. Adorei!

  5. Dora says:

    “profelícia ou polissor”

    Fica-se um bocado indeciso quanto aos termos…..ambos soam muito bem.

  6. As corporações não deviam monopolizar e confundir com problemas laborais travestidos de problemas de segurança publica e educação. Já cansa a arrogancia que alguns mostram de que tudo gira a volta dos seus problemas pessoais.Educação e segurança é muito diferente dos problemas sindicais como alguem com bom senso entende.

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