Sed cum legebat, oculi ducebantur per paginas et cor intellectum rimabatur, vox autem et lingua quiescebant.
***
Gostei imenso do discurso que Ricardo Salgado proferiu ontem na comissão parlamentar de inquérito ao caso BES. Por motivos profissionais, não pude assistir à audição. Contudo, o Público e o Expresso publicaram o excelente texto do ex-presidente do Banco Espírito Santo.
Vejamos alguns (sim, só alguns) dos melhores momentos:
Acção, Abril, accionistas, acções, actas, actividade, activos, actuação, actuações, afectava, afecto, correctas, Dezembro, directa, directamente, directo, efectivamente, efectuar, incorrecto, injectar, interacção, Janeiro, Julho, Junho, Maio, Março, Novembro, objectivo, objecto, Outubro, percepção, perspectiva, perspectivas, projecção, projecto, protecção, protectora, respectiva, respectivos, ruptura, Setembro.
Aliás, até proponho que Salgado seja distinguido com uma menção honrosa, devido à destreza com que adoptou grafias extremamente perigosas, como percepção, perspectiva, perspectivas, respectiva, respectivos e ruptura.
Muito bem, Ricardo Salgado. Óptimo. Excelente.
É evidente que estes “muito bem”, “menção honrosa”, “óptimo” e “excelente” devem ser lidos à luz da máxima atribuída por Daniel Dennett (p.21) a Gore Vidal: “It is not enough to succeed. Others must fail“.
“Others must fail”. Pois, claro. Sim, ‘others’. Efectivamente, os do costume.
Depois de apreciado o desempenho ortográfico de Salgado, debrucemo-nos sobre a habitual salgalhada do Diário da República:
Exactamente: ontem, no sítio do costume.
Actualização (11/12/2014): Sim, sim, reparei no *eminente. Contudo, atenhamo-nos ao AO90.
O ex-“dono disto tudo” mente e desculpa-se em ortografia antiga.
Mais uma boa razão para guardarmos saudável distância de desacordistas:
“Saudável distância de desacordistas” por causa do Ricardo Salgado: o senhor nunca ouviu uma expressão popular: que tem o cu a ver com as calças??!! Há gente muito ignorante.
O Pedro Barros, de “fato”, é um comentador que faz falta, pela frescura que transmite e pelo riso que provoca. Faz bem em guardar uma saudável distância dos descordistas: certamente prefere o recluso José Sócrates, primeiro-ministro do acordo ortográfico e vendedor de Magalhães.
Entretanto, ó Pedro, explique, se lhe apetecer, por que razão é que o seu IP é o mesmo de outros acordistas que por aqui vão passando, todos com nomes diferentes? Estareis vós em “contato” uns com os outros?
Ele é contacto in Portugal i contato no Brasil; é adoção i adotante no Brasil i in Portugal por mor de adoçar a coisa (acheuque), isto segundo o odiado. De facto i de fato, uma salganhada, nun é preciso ser acordeonista ou ferrinho pra topar isso.