Mexilhões e charlatães

Santana Castilho *

Charlatão, dizem os dicionários, é aquele que publicamente apregoa, com exagero e sem justificação, a virtude de algo com que pretende ludibriar a boa-fé de quem o escuta. Um charlatão é um impostor, alguém que, com hipocrisia, se serve de artifícios para enganar os outros.

1Não podendo penetrar nas mentes captas de Passos Coelho e Marco António Costa, não ouso chamar-lhes charlatães. Sendo possível considerar essa hipótese, igualmente devem ser consideradas, entre outras moralmente menos gravosas, a perda precoce da memória de acontecimentos recentes, a inconsciência, a irresponsabilidade ou a ignorância. Seja como for, factos são factos. E se os motivos podem suscitar especulação, já os resultados são claros: a opinião pública foi desinformada por dois actores que não a deviam confundir, antes esclarecê-la.

Passos Coelho, como Primeiro-ministro, primeiro, e líder do PSD, depois, proferiu na semana passada duas declarações falsas. Em Braga, num seminário sobre economia e na linguagem simplória a que recorre com frequência, afirmou que “ao contrário daquilo que é o jargão popular de que quem se lixa é o mexilhão”, quem contribuiu mais, em altura de crise social, “foi quem tinha mais” e não “os mesmos de sempre”. Ora todos sabemos que durante a crise cresceu o número de milionários no nosso país e muitos deles conseguiram aumentar substancialmente o património. A crise não foi, portanto, suportada por todos do mesmo modo. A afirmação transcrita ofende a sensibilidade do cidadão comum (o “mexilhão”) por provir do responsável por um Governo que: aumentou para 23% a taxa de IVA de alguns bens essenciais, o que penalizou mais os mais pobres; aumentou os impostos sobre o trabalho; priorizou a descida do IRC, que apenas beneficia os grandes grupos empresariais, em detrimento do IRS; retirou 8% ao valor real das pensões acima dos 250 euros; congelou ou diminuiu o salário dos funcionários públicos; forçou a emigração de 350.000 portugueses; atirou 90.000 trabalhadores para o desemprego de longa duração e aumentou para os 50% a taxa do desemprego jovem; aumentou o IMI da habitação própria; diminuiu drasticamente o número de beneficiários do RSI e do complemento solidário para idosos; sufocou a escola pública, para todos, retirando-lhe 3.000 milhões de euros, e beneficiou a escola privada, para alguns; fez cair de 19% a frequência do ensino superior (menos 25.000 estudantes) e extinguiu a formação de adultos. Mais tarde, na condição de líder do PSD, num jantar em Santarém, teve o topete de se gabar de estar a soltar a economia do domínio de grupos económicos, entregando-a aos portugueses. Ele, que tem promovido a venda de Portugal a estrangeiros: o BPN a angolanos; a EDP a chineses; a Cimpor a brasileiros; a Tranquilidade a americanos; a Espírito Santo Saúde a mexicanos; A REN a chineses e a árabes, a ANA a franceses; os CTT a vários e o que mais se seguirá, TAP e a própria água que bebemos, se para tal lhe dermos tempo.

Marco António Costa, vice-presidente do PSD, competiu com Passos no destempero. Quem o ouviu recomendar a António Costa a leitura do memorando inicial acordado com a troika, citando página e parágrafo, para afirmar que o documento explicitava a venda integral da TAP, dificilmente duvidaria dele. Mas do original em inglês (pág. 13, ponto 3.30) ou da tradução portuguesa (pág. 7, ponto 17) não se retira isso. O documento fixa a venda total da REN e da EDP. Quanto à TAP, apenas fala da venda, sem explicitar se é total ou parcial. Marco António Costa disse que António Costa “foi mal informado ou então está a mentir”. Afinal, é ele que não sabe ler, ou mentiu.

2No mundo da Pedagogia os “mexilhões” são sempre os alunos. Mais difíceis de identificar são os charlatães, que surgem donde menos se espera. As escolas da Finlândia abandonarão, já a partir de 2016, o ensino da caligrafia, substituindo esferográfica e papel por teclado de computador. Solícita, uma representante institucional, cujo nome me escapou, tranquilizou os mais perplexos garantindo que o desenvolvimento cognitivo das crianças finlandesas será acautelado pelo reforço de tarefas manuais e pela prática do desenho. Salvo pronúncia de pedagogos mais competentes que eu, salvo ainda o que a Psicologia e a Neurociência possam aportar à discussão que se seguirá, parece-me ousadia de charlatão colocar o problema com base numa dicotomia falsa: computador versus papel. Papel e computador são complementares, não são antagonistas, e há uma precedência pedagógica que os relaciona: primeiro o papel, depois o computador. Se a medida avançar (e espero que a moda não pegue por cá), daqui a uns anos saberemos o que acontecerá às crianças para quem se venha a abolir a aprendizagem da caligrafia. De momento, apenas sabemos que são analfabetos os que não aprenderam a escrever.

* Professor do ensino superior (s.castilho@netcabo.pt)

Comments

  1. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Sobre o PONTO 1 é evidente a má fé dos governantes, nomeadamente os seres citados. Má fé, mentira, presunção, manipulação e muitos outros adjectivos que poderiam ser utilizados. Mas insisto no que tenho vindo a escrever nestas mesmas páginas: estes seres, mais o que está em Belém tiveram CINCO (5!!!!!) maiorias absolutas desde os anos 80, altura em que o Sr. Silva começou a governar como PM e posteriormente, como PR.
    E estas maiorias absolutas foram conferidas de um modo democrático.
    Portanto na altura de apontar mentira, má fé, presunção e manipulação, apontemos tão só a inconsciência de quem repetiu por CINCO vezes o mesmo erro.
    A causa profunda de toda esta situação de verdadeira tanga (no aspecto de discurso dos governantes e no aspecto financeiro) em que vivemos é o equívoco claro e constante de um povo na sua maioria inculto, insensato e insensível.
    Admito que haja cidadãos que convictamente votam no PSD, CDS e Sr. Silva. Admito que estes cidadãos tenham interesses a defender. É um direito que lhes assiste.
    Não posso tolerar a postura de muitos portugueses, verdadeiramente necessitados que votam nesta gente (repito, CINCO vezes seguidas de forma a dar-lhes maiorias absolutas) que vêm agora chorar baba e ranho pela situação a que se chegou.
    Altura de fazerem o SEU acto de contricção.
    Sobre o PONTO 2 lembro apenas o efeito das máquinas de calcular no conhecimento da tabuada dos jovens. Podem repetir o erro agora com a escrita. Afinal, estes mesmos seres mentirosos, manipuladores, presunçosos e dotados de má-fé foram eleitos CINCO vezes com maioria absoluta e assim sendo, as altas esferas decisoras têm hipótese de fazer mais três “cavaladas” antes de equiparar a sua insensibilidade, incultura e insensatez com a que o povo tem vindo a demonstrar nos últimos trinta anos..

    • Ines Pereira says:

      Concordo em absoluto com o citado no seu ponto 1, efectivamente essas cinco maiorias absolutas devem-se essencialmente aos votos de uma classe media baixa que, por insensatez e/ou falta de cultura democrática votaram nos “salvadores da pátria”, “vendedores de sonhos” que afinal não passavam de “vendedores de banha da cobra”. Quanto ao ponto 2 não me parece que não haja aulas de caligrafia, o que penso e que depois de a aprendizagem necessária passarão os alunos a fazer todos os trabalhos em computador, tendo em conta que são pedagogicamente mais avançados que nos, não creio que comecem agora a formar analfabetos.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Cara Inês Pereira.
        Naturalmente que a questão não se põe em termos de analfabetismo.
        Apenas fiz o paralelo com a tabuada ou seja, penso que a ginástica mental (e física) que fazemos com a escrita ou com os números, são um factor de desenvolvimento intelectual.
        Nada tenho quanto à escrita em computador. Eu aplico-a comummente. Refiro-me ao fenómeno da aprendizagem a que se associa sempre uma prática. E compreenderá que é diferente o bater em teclas e o “desenhar” letras.
        Meu pai teve aulas de Caligrafia e era senhor de uma belíssima escrita. Não quero com isto dizer que esta seja a via; apenas que foi esta a mensagem que me foi passando e eu acredito nela.
        Como alguém nesta página escreveu – corroboro em absoluto a sua opinião – a escrita à mão e em computador, não têm que ser antagónicas, pois claramente, complementam-se. Mas a complementaridade não significa alijar nenhuma das hipóteses. E é exactamente esse o ponto ou seja, não gostaria de ver afastada a escrita “desenhada” na fase primeira de aprendizagem.
        Mas acredito que neste mundo de facilitismo que se vive, infelizmente, tudo é possível.
        Basta ver o percurso que vai sofrendo a língua, um valor nacional.
        Cumprimentos.

  2. José almeida says:

    Passando directamente ao ponto 2, acho interessantíssima a ideia de haver escolas onde não seja necessário aprender a escrever em papel. Parece ficção, mas acho que nestes próximos anos as escolas nas sociedades mais desenvolvidas poderão ser, de facto, como aquelas que descreve na Finlândia. Não me parece mesmo nada necessário aprender a escrever em papel.

    Olhando para Portugal, não imagino escolas deste tipo de um lado e do outro a Jonet a encher sacos nos supermercados para os pobres….

  3. joao lopes says:

    pois eu concordo com tudo o que é dito neste post. e acrescento:a mentira tornou-se(neste e em governos anteriores) “instituticional” e um “modo de vida” nos ultimos governos.por outro lado,uma parte dos portugueses “adoram ser enganados”.é o que faz ler muito o…CM.

  4. José Peralta says:

    Concordo, e não é a primeira vez, com a opinião do Professor Santana Castilho.

  5. Nightwish says:

    Eu tenho ideia que não foi a escrita em papel que foi abandonada… Mas sim a escrita cursiva em papel, que muito poucos praticam na idade adulta.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Está muito boa. Tem toda a razão…

  6. Muito bem, sr. professor! E perdoe-me o trato, mas desconheço o seu nome! 🙂

    1- Charlatães que ludibriam o “mexilhão”, qual “espécime” combalido a manter-se na ignorância (porque lhes confere um certo jeito!), e, por isso mesmo, continua a deixar-se levar pela “canção do bandido”, há muitos, e este então, Passos Coelho, de seu nome, supera alarvemente todos os recordes!…
    Imperam as políticas do compadrio!… Inércia e lassidão perante os chocantes casos de corrupção, estes últimos, para “mal dos nossos pecados”, viraram um reality show, qual “Casa dos Segredos”, porque o que parece interessar, infelizmente, é o sensacionalismo mediático…e o povo tão somente quer saber o seguinte: AFINAL DE CONTAS, PARA ONDE FOI O DINHEIRO?
    E, com todas estas trafulhices, a DÍVIDA PÚBLICA vai-se tornando insustentável, claro!

    2- Esperamos que essa pedagogia da burrice que, pelos vistos, irá vigorar na Finlândia a partir de 2016, não se torne uma questão virusal, e bem assim, nem chegue perto de terras lusas. Abandonar o ensino da caligrafia e substituí-lo por suporte digital???
    Mas que violência atroz para os alunos!…Que me perdoem os ecologistas, mas a ARTE MANUAL é única e insubstituível, que é como quem diz, o papel e o lápis criam e aprimoram a destreza, agilizam a motricidade fina…criam maravilhas que nenhuma “mão robótica”, conseguirá alguma vez criar!
    Com feito, não me identifico com esta geração…ou então, o mundo, a mente humana está a ficar louca…

    • José almeida says:

      Paula Pedro, relativamente ao ponto 1 parece haver uma unanimidade inequívoca entre os comentadores, aos quais me incluo. Relativamente ao ponto 2 estou em absoluto desacordo. Acho que a mente de alguns humanos pode estar a ficar louca, mas a mente humana não. Não acredito que em 2016 na Finlândia acabem com os lápis e as sebentas. Será, possivelmente, o inicio de experiências piloto daquilo que serão as escolas do futuro. Também não acredito que tenham pessoal docente para essa “revolução” no ensino e nos processos de aprendizagem. A destreza e motricidade fina que refere, pode ser substituída por aulas de desenho e pintura e, talvez, aprende a manejar um instrumento musical qualquer.
      Por hábito, somente por hábito, eu não prescindo do papel e do lápis para os meus apontamentos, mas, como sabe são absolutamente desnecessários. Hoje podemos comunicar, escrever, memorizar textos sem papel e lápis. A caligrafia é (será), de todo, desnecessária. Foi dito que ‘quem não sabe escrever é analfabeto’. Não me parece que todos os cegos sejam analfabetos, mas conhecido alguns analfabetos licenciados.
      Este tema deve ser motivo para reflexão e estudo e não para chamar loucos a quem eventualmente possa ter opinião contrária. Galileu Galilei não serve de exemplo?

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Caro José Almeida.
        Interessantíssima esta conversa sobre um futuro modelo de encarar a escrita.
        Admito que, como diz, provavelmente a caligrafia possa ser..” de todo, desnecessária”.
        Mas a minha dúvida é se deve ser desnecessária no desenvolvimento normal das pessoas. Tal como a tabuada de que falei anteriormente.
        É evidente que a frase “quem não sabe escrever é analfabeto” não pode ser encarada em termos gerais. Quem não sabe “desenhar as letras”, mas sabe escrever num teclado, não é analfabeto. Por isso existem, como bem diz, os cegos licenciados e pessoas sem membros superiores e que também não são analfabetos.
        A utilização de meios carecerá de definição de campos de aplicação.
        O que eu penso é que a tecnologia sendo uma enorme ajuda ao desenvolvimento humano, terá que promover as modificações por pequenos passos (vulgo “melhoria contínua”), tal como se faz na Indústria, sector que eu conheço muito bem.
        Repare que uma das razões pela qual caímos no fosso em que caímos, em termos políticos e sociais, foi o fervor reformista e inconsciente destes incompetentes que nos governam que, em breves meses, reduziram à situação de tábua rasa, aquilo que para nós foram verdadeiros pilares de desenvolvimento e que caracterizou toda uma política: o SNS, o Ensino, o apoio social etc, transformando-nos numa espécie de Estados Unidos “do lado de cá” sem para tal estarmos minimamente preparados e criando um novo tipo de Inquisição onde todos os valores conhecidos se resumem a um: a moeda, alvo de todos os discursos.
        Nos elementos de suporte ao nosso desenvolvimento como são a escrita, a leitura e a tabuada, corre-se o risco (quanto a mim) de cometer exactamente os mesmos erros.
        Não quero com isto defender “talibãmente” os métodos do passado. Quero tão só chamar a a atenção para a sua complementaridade quanto a mim, a verdadeira questão em termos de utilização.
        Para terminar, Galileu não defendia conceitos quando foi submetido à Inquisição. Defendia simplesmente uma verdade, matematicamente provada, num mundo perigoso para quem questionasse a Igreja (tal como hoje, quando se questiona a moeda e as Finanças).
        Defendo que os dois métodos não têm que se anular, salvo nos casos que atrás se referiu. Se isto é a verdade ou não, não sei, mas é no que sinceramente acredito, pela experiência de vida que tenho, embora duvide que algum dia seja sujeito de prova, tal como foi a teoria heliocêntrica. E temo que se for, o seja por redução ao absurdo. Cumprimentos.

      • Caro José Almeida.

        Compreendo e respeito a sua posição no que diz respeito ao ponto 2, do presente artigo, muito embora não concorde integralmente. Ah!…e isso, tem que respeitar! 🙂
        Na minha modesta opinião, a arte manual (onde se inclui a própria caligrafia) e o suporte digital, poderão ser recursos que se complementam entre si, o que é inevitável e compreensível de todo, dado o avanço das tecnologias de informação; agora, um jamais poderá anular ou substituir o outro!…
        E NÃO!…NÃO concordo com o ensino da caligrafia mediante o suporte digital, porque não acredito que proporcione a mesma eficiência a nível do desenvolvimento cognitivo, e como já o terei referido anteriormente, a nível da motricidade fina…
        No artigo consta que “tarefas manuais e a prática do desenho” acautelarão essas possíveis limitações. – Mas que delírios!!!
        Embora a Saúde Infantil e Pediátrica já não seja a área em que exerço funções há muitos anos, tanto quanto sei, por parte de pedopsiquiatras com quem me relaciono, as crianças desde bem pequeninas, continuam a expressar um fascínio indiscritível pelo lápis e pelo papel, criando maravilhas … e conseguindo inclusivamente que, muitas se tornem ambidextras, proporcionando assim, o desenvolvimento de ambos os lobos.

        Beijinhos 🙂

        Paula Pedro

        • Ah! E desculpe, onde se lê indiscritível, leia-se indescritível. 🙂

        • José almeida says:

          Caros Paula Pedro e Ernesto Ribeiro,

          Peço antecipadamente desculpas, pq não me vou preocupar se houver algum erro ortográfico no vou escrever. Não sou especialista em ensino, nem em psicologia ou Neurociência, mas quando acho que devo “intervir” com a minha opinião, faço.

          Escrita e caligrafia não são a mesma coisa, e a tabuada e a calculadora só servem para enferrujar o cérebro. Muito menos acho que uma pessoa que não sabe escrever seja analfabeta. Vejo na palavra ‘analfabeto’ um certo sentido prejurativo e insultuoso às pessoas que no passado não tiveram posses e/ou oportunidade para ir à escola. Essas pessoas eram os analfabetos. A minha avó, não sabia assinar o seu nome, era analfabeta, mas tinha uma loja que vendia de tudo um pouco, desde produtos alimentares (açúcar, arroz, bebidas, …) e até artigos de retrosaria (elásticos, fitas, alfinetes, ….), e tinha tudo controlado em 2 livros, um para os seus pagamentos e outro dos ‘calotes’. Não sabia a tabuada, nem tinha calculadora. A tabuada, a calculadora, as sebentas e os cadernos de apontamentos desaparecerão. Não em todos os todos os lados à mesma velocidade, mas gradualmente. Será assim uma espécie de ‘hamburguerizacao’ do mundo. Vai sendo introduzido nas escolas tipo ‘fast food’. Tipo McDonald’s ou Pizza Hut. Sinceramente, a tabuada só serve para os professores chamarem burros aos alunos que não a decoram e a caligrafia para igual. Agora com o AO09 vai ser ‘uma festa’ nas escolas. O ensino devera ser uma relação entre o aluno e o suporte digital, e o ‘prof’ devera ser como um árbitro num jogo de futebol, quanto menos se notar melhor. Deixo às vossas consciências pensarem o eu quero com isto dizer. Resumindo, o exercício mental do cálculo deveria ficar ao cuidado da aprendizagem do ‘ábaco’, que permite fazer cálculos mais ou menos complexos muito mais rapidamente que com uma calculadora, e a destreza e criatividade ao cuidado do desenho, pintura e instrumentos musicais. Em nenhum dos casos é necessário escrever. Isso ficará ao cuidado dos das máquinas, pq o fazem sem erros, rapidamente é com segurança. Isto é tema que fará correr muita tinta, mas não pela minha mão.
          As minhas preocupações não sãoa caligrafia ou tabuada, ou o que se vai passar no ensino na Finlândia. O que me “move” é o mundo em que vivemos, as desigualdades sociais, a perda dos valores, o materialismo cego, a corrupção, ……etc,etc.

          Festas felizes.
          José Almeida

          • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

            Bom dia caros amigos José Almeida e Paula Pedro.

            É evidente que o José Almeida tem toda a razão no modo como termina este seu último post. As desigualdades sociais são, de facto, o cancro deste mundo em que vivemos.
            No que toca ao assunto de fundo, como Paula Pedro diz, as opiniões existem e devem ser respeitadas. Pessoalmente, como pessoa que deu aulas muitos anos (e continuo a formar muitos e muitos jovens e adultos, agora na Indústria – em Portugal e por todo o Mundo, acrescento), não associo os meios, como por exemplo, a tabuada a algo que irá servir para um professor maltratar uma aluno.
            Na vida há muita coisa decorada: as palavras estrangeiras, as próprias letras, a História enfim, uma panóplia de coisas que usam a nossa capacidade de “armazenamento” para nos permitir – e isso para mim é fulcral – desenvolver a nossa capacidade de associação
            A tabuada entra nisto: não é o facto de decorar. É a destreza que se vai usar na sua aplicação, nomeadamente no cálculo mental. E a caligrafia, quanto a mim, é apenas um meio que nos permite um equilíbrio entre a destreza manual e a ideia.
            Gosto sinceramente da ideia que transmite com a …”espécie de ‘hamburguerizacao’ do mundo. Vai sendo introduzido nas escolas tipo ‘fast food’. Tipo McDonald’s ou Pizza Hut”. E acredite que tenho receio que a máquina de calcular e o computador se transformam exactamente nisso. Eles são demasiadamente importantes para os reduzir ao papel de simples meios.
            Mas é exactamente essa “hamburguerização” que se está a passar e o novo AO prepara-se para ser o “forrobodó” final.
            Desculpe, mas não concordo de todo no papel que reserva para o professor. Este, nunca poderá ser um árbitro. É antes um treinador, associando a linguagem do futebol. E nunca o seu papel poderá ser o de “… quanto menos se notar melhor”. Aí perdoe-me, até pela minha experiência de mais de 40 anos, discordo em absoluto. O professor é um agente interventivo no crescimento e modelação das crianças, respeitando sempre a sua personalidade, como é óbvio. É um indicador da direcção e deverá ser alguém exigente, ponderado, crítico e como tal, disciplinador. Penso que o principal problema que o nosso Ensino está a viver, é exactamente o divórcio do professor destas práticas e um Ministério que limita o Professor a um empregado que faz e não discute, e que até aos professores obriga a fazer provas de aferição, pondo de uma única vez em causa o mesmo Ensino que formou o Professor. Provavelmente terá suspeitas das Escolas de Formação como foram as de Relvas, Sócrates e outros artistas que para aí andam. Mas há escolas muito boas, há excelentes Professores e só mete tudo no mesmo saco quem pretende “estandardizar” pessoas, o que tem o mesmo significado de arrebanhar.
            Mas isto é tema de outro debate.
            Desejo, também, aos meus amigos, umas Festas muito Felizes.

  7. Como é que ainda se discute se Passos enganou??? Passos quis-se armar ao chico esperto, disse, diz e dirá barbaridades que nem ao diabo lembra e ainda se discute a sua virtude. Ao Marco António aconselho-o a trocar de óculos, Quer dar uma de sério e parece um Nilton a gozar com “eu amo você”.

  8. José almeida says:

    Caros Paula Pedro e Ernesto Ribeiro.

    Porventura não será este o local para desenvolver este tema, mas gostaria de suportar um pouco mais a minha opinião. Calculadoras, tabuadas, caligrafia, escrita, ou seja aprendizagem e seus métodos são uma preocupação das sociedades, e não existe uma fórmula para resolver a falta de aproveitamento nas disciplinas básicas como é o caso da matemática e da língua materna. Dai, fala-se muito, especula-se muito, mas é um problema que s agrava a cada ano, com todas as implicações no desenvolvimento das sociedades futuras.
    Entendo que o problema começa de facto nos professores. Muitos deles foram parar ao ensino pq não tiveram outra alternativa. Quem se licenciava e não ía para a empresa do papá, ou não pertencia a uma Juventude política dominante, ou não encontrava emprego, ía para o ensino. Foram lá parar (ao ensino) todo o tipo de indivíduos gostassem ou não de lecionar, estivessem ou não de passagem. Pelo menos tinham um bom emprego, segurança social, razoavelmente bem pagos e pertenciam a uma classe com poder reivindicativo. Esse foi o ‘pecado mortal’ do ensino. Os professores deveriam ser pelo menos tão importantes como os médicos, onde entregamos os filhos doentes ou não, e acreditamos que serão devidamente cuidados por especialistas. Os professores deveriam ser uma autoridade de consciência onde cada cidadão deveria reconhecer a importância e capacidade. Hoje, assistimos à incompetência dos ministérios, à falta de respeito entre professores, alunos, pais, sindicalistas e termina no desespero do cidadão comum preocupado que não sabe o que fazer. Um pai comum tem medo da escola. Um professor comum também. Os professores, especialmente entre o pre-escolar e as universidades deveriam ser, tal como bem refere, o agente interventivo, disciplinador, enfim, uma pessoa de conhecimentos e características muito acima da média. Não isso que acontece em Portugal nem noutras sociedades. Um professor deveria ser considerado como um médico, um juiz, uma autoridade respeitada, e também deveria ter formação adequada, pois são muitas as matérias que necessita dominar.
    Naturalmente, isto é ilusão. Isto nunca vira a acontecer. É possível, mas é impraticável.
    Como o avanço da matemática em matérias como a Psicologia, a Inteligência Artificial e outras, não é inexequível um método para um ensino diferente, onde a máquina seja a base do processo. Com o dinheiro de um submarino gasto em investigação poderia criar-se o modelo e o método, e, com o dinheiro do outro formavam-se técnicos/professores e adaptavam-se muitas escolas nesse sentido. A perplexidade dos pais e dos avós poderá ser ultrapassada pelo entusiasmo e melhoria dos conhecimentos dos alunos. Por vezes também me interrogo se está será a fórmula correcta ou não, mas, como não é possível ‘puxar a cassete’ atrás, acho melhor ‘acelerar’ porque assim é que não está bem.
    Para finalizar, o que preocupa hoje os pais não é a calculadora, ou a caligrafia ou se vai saber a tabuada de cor ou não. O problema dos pais acerca da escola é as companhias, a droga, os professores, os raptos… Por isso, isto tem que mudar.
    Até breve.

  9. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Subscrevo praticamente tudo o que diz. Reforço que num Processo, tal como o concebemos em termos gerais, o Método, os Agentes, os Procedimentos e os Indicadores são fundamentais para o seu avanço.
    Há, pelas razões que expõe, evidentes fragilidades no Método e nos Agentes, não há Procedimentos que associem o mester de “saber ensinar” com a aquisição de um lugar (dito de outra forma, não se privilegiam os mais capazes) e quanto a indicadores, ainda ontem ouvi essa desgraça de Ministro falar das percentagens, coisa que me põe a cabeça ás voltas.
    Esta sociedade bateu no fundo. Professores e alunos são meros números. E quando é assim, mais vale “encerrar para balanço”.
    Com toda a honestidade, a calculadora, o computador para ensinar a escrever e as percentagens a que a “sumidade ministerial” deita mão para justificar o injustificável, são apenas a parte visível do iceberg da desgraça do ensino. A parte obscura, é o método de processar o vínculo à Educação.
    Cumprimentos.

    • José almeida says:

      Vou tentar continuar informado e seguir as noticias que me interessam. Agora vou fazer as malas e respirar 2 semanas para Portugal. Espero ver alguma esperança nos rostos e não um povo resignado. Prazer em “conhece-lo”. Festas felizes.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Espero que não seja um dos portugueses que Passos aconselhou (e o descaramento é tal que insiste agora com os Professores) a emigrar. Pois tenha uma boa viagem sendo que vai encontrar, seguramente, um povo resignado, Boas Festas e até um dia.

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