Os fundamentalistas de Lisboa

Nacimiento_del_Tajo

É cíclico: de quando em vez as nossas direitas encanitam-se com Boaventura Sousa Santos. Não costumo seguir essas novelas mas desta vez dois detalhes irritaram-me e não foi pouco. Um humorista do Tejo, Tavares de seu nome, decidiu crismar o homem de “Noam Chomsky do Mondego“, e como não bastasse um analfabeto de Lisboa, conhecido por Zé Manel da Voz do Povo, desenvolveu para “evangelizador de Coimbra“.

Ora bem, esta peregrina ideia de atacar alguém pelo lugar onde reside e exerce a profissão, está mal. Dá muito para os lados da capital do provincianismo luso, suponho que seja da água que bebem, proveniente do Alviela que o rio ibérico não é potável há muito tempo. Neste caso fez-me ler ao que vinham, e vinham pelas patetices do costume, o multiculturalismo, o relativismo e a superioridade da civilização cristã ocidental, um conceito que tem tanto de científico como as previsões de uma vidente do Bairro Alto.

É possível que esta gente entenda como esse duvidoso conceito de civilização a aplicar-se abarcaria historicamente todo o Mediterrâneo e no presente englobaria forçosamente países muçulmanos, como a Bosnia ou a Turquia? e que os cristãos protestantes têm uma cultura e mentalidade frontalmente oposta à dos católicos? e que o deus do Islão é o mesmo da Bíblia ou da Tora? e que a tal superioridade anda a ser mastigada aos pedacinhos pela milenar China? Não é.

Prefiro tentar por outro lado: já que não suportam a ideia de muito simplesmente se tentar perceber o fundamentalismo de duas seitas islâmicas, o wahabismo e o salafismo (para malta alérgica a toda ciência que não seja a leccionada em universidades dependentes do poder económico a causa das coisas não interessa para nada, o objectivo é o do costume, inflacionar qualquer crise onde  pavlovianamente os neoliberais salivam e vêm sempre oportunidades), que sugerem então?

Aceitemos pois que os tipos são o mal, por obra e graça do demo, fazemos o quê? expulsamos todos os muçulmanos da Europa? bombardeamos Meca?

Calma, Meca fica na Arábia Saudita. Ora a pátria do fundamentalismo islâmico tem muito e barato petróleo, logo são nossos amigos. Logo não pode ser. Que chatice, nem a Sarah Palin caía nessa.

Ilustração: nascente do Tajo. Nasce mirrado, o coitadinho.

 

Comments

  1. LindaMenina says:

    Este Cardoso é impagável.
    Começa por criticar a “peregrina ideia de atacar alguém pelo lugar onde reside e exerce a profissão” , para depois dar azo aos seus complexos e desancar na malta de ?.. Lisboa.
    É obra.

  2. Rui Moringa says:

    Pois encanicem-se uns nos outros.
    Mas porque se preocupam com BSS? Não há mais nada de útil para escrever do que rebater as ideias do BSS?
    Discussões um pouco estéreis para o homem comum!

  3. Tiago Vasconcelos says:

    Deram mais contributos de relevo à Humanidade alguns pequenos países como, por exemplo, a Suiça ou a Áustria (cada um com menos do que 10 milhões de habitantes) do que mais de 2 mil milhões de muçulmanos nos últimos 500 anos!
    Será possível que os Cardosos, os BSS e as Anas Gomes entendam isto?…

    • Ó analfabeto, não tivessem os muçulmanos guardado, preservado e estudado o legado da cultura greco-latina durante a idade média, e ainda andavas na pré-história da medicina moderna, por exemplo, já para não falar de um Bartolomeu Dias que com sorte teria chegado à Trafaria.
      Mas não vou comparar com a Áustria, que nos deixou um Adolfo, é claro.

      • Tiago Vasconcelos says:

        Em falei nos últimos 500 anos e a alimária vem falar na Idade Média…

        • Há coisas que nem todos os mamíferos compreendem, e só consigo explicar a primatas: sem idade média não haveria idade moderna, antigo regime, etc. etc. Na História não ha nem saltos nem saltinhos. E o fundamentalismo islâmico tem menos de 500 anos, nasceu no séc. XVIII.
          Mas já agora, convém não esquecer esse inestimável legado da Áustria em forma de império, chamado Grande Guerra. Deve ter sido para compensar pelo império otomano, que vamos lá imaginar porquê, estava do mesmo lado belicista.

          • Tiago Vasconcelos says:

            Falei em contributos de relevo dos Muçulmanos para a humanidade nos últimos 500 anos, e a alimária vem falar em “fundamentalismo islâmico”…
            Depois tira outro coelho da cartola dizendo que sem idade média não haveria idade moderna. Só faltou acrescentar que sem invasões bárbaras não haveria idade média, e que sem império romano não haveria idade média, e que se o Alexandre o Grande não se tivesse virado para a Pérsia não haveria Império Romano. Enfim a habitual diarreia dos “ses” tão cara a masturbadores intelectuais.

            Olha pá, a Áustria, de que a tua cabecinha apenas conhece o contributo para a Grande Guerra e ter sido o local de nascimento de Hitler, teve no século XX mais gente a dar contributos de relevo para a Humanidade do que toda a população muçulmana, 200 vezes maior, que viveu nos últimos 500 anos. Aqui vai uma pequena lista para atenuar a tua ignorância:

            Sigmund Freud (psicólogo)
            Kurt Godel (matemático)
            Wolfgang Pauli (Prémio Nobel Física)
            Erwin Schroedinger (Prémio Nobel Física)
            Wolfgang Amadeus Mozart (músico)
            Franz Joseph Haydn (músico)
            Friedensreich Hundertwasser (pintor e arquitecto)
            Gustav Klimt (pintor)
            Samuel Agnon (Prémio Nobel Literatura)
            Billy Wilder (cineasta)
            Ludwig Wittgenstein (filósofo)
            Ernst Mach (físico e filósofo)
            Julius Wagner-Jauregg (Prémio Nobel Medicina)
            Robert Barany (Prémio Nobel Medicina)
            Karl von Frisch (Prémio Nobel Medicina)
            Konrad Lorenz (Prémio Nobel Medicina)
            Otto Loewi (Prémio Nobel Medicina)
            Richard Zsigmondy (Prémio Nobel Química)
            Richard Kuhn (Prémio Nobel Química)
            Max Perutz (Prémio Nobel Química)
            Walter Kohn (Prémio Nobel Química)
            Isidor Rabi (Prémio Nobel Física)
            Victor Franz Hess (Prémio Nobel Física)
            Friedrich Hayek (Prémio Nobel Economia)

          • Adorei. O Hayek fica bem ao lado do Adolfo, já faltou mais para alcançar o mesmo número de mortos. Só nas nossas urgências começa a ser mais de um por dia.

          • Tiago Vasconcelos says:

            Está visto que a cabecinha do Cardoso não dá para mais.

      • Quer dizer. A maioria dessas iluminarias Austríacas existiram quando o Império Austriaco ou Austro-Hungaro tinha bastante mais que 10 milhões de habitantes. Outras dessas iluminarias eram tão Austríacas como o Espinoza era português.
        Mas é curioso o fundamentalismo islâmico ter surgido no sec. XVIII, mais ou menos quando começamos a perder o nosso.

    • um primata é um primata JJC, experimenta dar-lhe uma banana 🙂

  4. miguel serras pereira says:

    Caro João José Cardoso,

    pois bem, o facto de os comentários que invocam a localidade não serem relevantes não impede que BSS tenha escrito imbecilidades antidemocráticas, ultrapassando em jesuitismo o Papa Francisco e alinhando pelas teses das autoridades da RPC. Foi pelo menos o que tentei racionalmente mostrar em dois ou três (muito) breves posts. (Cf. http://viasfacto.blogspot.pt/2015/01/boaventura-sousa-santos-e-o-negocio-da.htmlhttp://viasfacto.blogspot.pt/2015/01/e-no-que-da-falar-dispensando.htmlhttp://viasfacto.blogspot.pt/2015/01/digam-la-se-nao-e-uma-injustica-que.html ).

    Saudações republicanas

    msp

    • Não o nego, tem muito jeito para isso.
      A minha questão aqui é outra, e limito-me aos ataques absolutistas ao multiculturalismo, seja lá o que isso for, e às soluções tipo guerra santa. De resto adormeci a meio do texto do BSS, confesso.

      • miguel serras pereira says:

        OK. Perfeitamente. As guerras santas são abomináveis — pregue-as quem pregar (o califado, Le Pen ou o PM francês), ou justifique-as quem as justificar, ainda que lamentando-as (a Arábia Saudita, a RPC ou o Papa). Só uma reserva: até para adormecer, há leituras mais aconselháveis.
        Saudações libertárias
        msp

    • joao lopes says:

      o problema é quando o joão miguel tavares diz que o mundo esta melhor…azar,saiu ontem o relatorio(oficial):1% da população tem cada vez mais dinheiro…os outros 99% que se lixem,certo? pois,o problema é o boaventura ou a ana gomes…tanto cinismo na “direita”:::

  5. Rui Moringa says:

    Multiculturalismo!? Isso é ainda uma entidade muito difusa.
    Eu aceito e tento conviver com a cultura dos outros mas não deixo a minha. isso faz de mim um absolutista? Já não sei de nada!!!
    Claro as culturas e ciência árabes, orientais são importantes, tão importantes como a ocidental. São património da Humanidade por assim dizer. Mas eu sou um pouco etnocêntrico por efeito de educação olho sempre os outros a partir daqui da cultura ocidental. É inevitável , quase.

    • Claro que olhamos. E todas as culturas fazem o mesmo.
      Agora, e a bem da convivência terrena, não menosprezar e perceber os outros continentes é saudável, ajuda-nos a viver num mundo que tem aeroportos, internet e mesmo aviões.
      Quando o império norte-americano perceber que o chinês discretamente o retirou da posição dominante, aposto que vão perceber num instantinho o problema do multiculturalismo.

  6. jota says:

    Após esta moda do “Je suis Charlie”, Será que vem um novo modelo de I-Phone do último grito?!!

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