Boas cercas fazem maus vizinhos

Não exagero se disser que me sinto ofendida pela intenção hoje noticiada da Comunidade Israelita do Porto (CIP) de fazer erguer um muro à volta da sinagoga do Porto. Considera a CIP que os atentados terroristas em França e o aumento do anti-semitismo na Europa aconselham a protecção da sinagoga, coisa que se traduz num muro de 3,5 metros de altura e arame farpado.

E se me sinto ofendida é porque essa comunidade não tem motivos para sentir-se ameaçada no Porto, não houve nesta cidade nenhuma manifestação de anti-semitismo que justificasse a construção de um muro, e avançar com a sua construção é um acto de desconfiança em relação à cidade que não tem justificação histórica nem é sustentada por nenhuma ameaça concreta na actualidade.

Um muro não defenderá a comunidade judaica de um ataque terrorista, mas será uma mensagem clara para todos os portuenses. Hostilidade e desconfiança não fazem boas relações de vizinhança e não se cultiva o respeito mútuo com arame farpado. E esse respeito existe, alicerçado em décadas de convivência pacífica. Não me consta que a sinagoga do Porto, a maior da Península Ibérica, alguma vez tenha sofrido um ataque, nem que os seus membros se tenham sentido excluídos da vida social, política, cultural da cidade pelo facto de serem judeus.

É ainda mais triste que a intenção seja anunciada por Isabel Ferreira Lopes, neta do capitão Artur Barros Basto, impulsionador da construção da sinagoga no Porto, o homem que ajudou centenas de judeus em fuga durante a II Guerra Mundial, mas também o republicano que foi o primeiro a hastear a bandeira da República no Porto, em 1910, e que acabou afastado do exército em 1937, por motivos políticos. Que diria ele deste muro?

Espero bem que a CIP não avance com a construção, e se não for porque entretanto reconsidere a intenção, que seja porque a Câmara Municipal não o autorize. Um muro não deterá um terrorista determinado, mas deixará de fora o resto da cidade. E nem o Porto é a Cisjordânia nem os portuenses convivem bem com arames farpados. De resto, quem constrói muros acaba prisioneiro.

Comments

  1. A.Silva says:

    Construam muros mais altos até às nuvens, ponham arame farpado, cerquem-se de seguranças armados até aos dentes, criem as vossas próprias prisões cambada de idiotas!

    Não seria melhor exigirem dos vossos lideres politicas de paz e justiça?

    Cambada de dementes acagaçados!

  2. Nightwish says:

    Voltem para a vossa terra! Não querem ser integrados!

  3. Os comentadores têm o direito de comentar livremente, só faltava. Mas eu não gostava nada de ver este texto transformado num libelo contra uma comunidade. A “terra deles” é esta, aquela onde nasceram ou onde escolheram viver. O que lamento é que uma parte dessa comunidade pretenda adoptar medidas que isolam os seus membros e dificultam o diálogo.

    • zé bento machado says:

      Essa parte dessa comunidade deve ser uma GRANDE percentagem, a não ser assim, A MAIORIA, não permitiria a iniciativa…

      OU ESTAREI ENGANADO???

      • Zé Bento, não grite com as maiúsculas que eu ainda leio bem. O que me parece é que, ainda que seja a maioria, e não sei se é ou não, isso não nos dá o direito de tomar a parte pelo todo.

        • zé bento machado says:

          Muito sensível (de olhos/ouvidos) Carla Romualdo…

          Queira perdoar as maiúsculas com as quais só quis realçar uma evidência que apesar da sua “sensibilidade”, pelos vistos, não detectou!!! (o facto de se não fossem uma maioria a dita maioria não deixar que praticassem essa afronta!!!).

          Se a maioria do todo não concordasse a provocação não aconteceria!!!

          Conclusões:

          Nunca tive intenção de ofende-la.

          Um dos 11 gostos da sua publicação é meu.

          Quem cala consente, por isso posso, neste caso, posso tomar o todo pela parte.

          A sua postura agressiva quando se dirige a mim não abona muito sobre a bondade da sua índole.

          Os meus respeitosos cumprimentos.

          • Zé Bento, não me ofendi nem tenho a intenção de ofender quando digo a alguém que usar maiúsculas equivale a gritar. Sobre o resto, nomeadamente a minha índole, ficamos assim.

    • Nightwish says:

      O meu comentário era uma sátira aquilo que se diz aos “inimigos dos sionistas”, que não se querem integrar e portanto não deviam estar cá.
      Então, o mesmo não se dirá a outros que se isolam só porque são de uma espécie protegida?

      Obviamente, nada tenho contra a presença nem de uns, nem de outros (à partida), mas não gosto da hipocrisia de que uns podem ter atitudes ou um estado xenófobo e fanático porque são mais especiais.

  4. zé bento machado says:

    Quem semeia ventos colhe tempestades cara Carla Romualdo…
    Uma característica genética dos frequentadores das sinagogas, vidè o seu relacionamento com os outros povos através dos tempos.
    As raças “eleitas” são solitárias…

  5. É o muro das lamentações.

  6. Konigvs says:

    Isto faz-me lembrar um pouco a explicação que o Michael Moore deu, no seu filme Bowling for Columbine, para justificar as altíssimas taxas de homicídios nos Estados Unidos: o medo. E na verdade, quanto mais os americanos se protegem, sabe-se lá do quê, mais gente morre todos os dias, num país onde um adolescente só pode entrar num bar aos 21 anos, mas pode comprar uma arma automática aos 16.

  7. João Paz says:

    Esta é um projecto sionista em tudo semelhante aos que Israel levantou para roubar terra aos palestinianos. Nada tenho contra os judeus mas tenho mesmo muito contra a cáfila de sionistas que governa Israel. Os sionistas só sabem lidar com os vizinhos à bomba e, ao que tudo indica há alguns judeus do Porto que lhe querem seguir as pisadas. Concordo com a sua indignação Carla Romualdo,

  8. Reblogged this on O Retiro do Sossego.

  9. Isto de andarmos “ofendidos” começa a virar moda… Porque é que a esquerda odeia os judeus?

    • Ui, veja lá se parte alguma coisa nesse salto mortal. Não estão em causa “os judeus”, está em causa um gesto concreto, uma opção que me parece errada e que ainda está a tempo de ser corrigida.

      • A comunidade judaica é normalmente muito discreta. Se entendem necessário reforçar a segurança das instalações certamente que o fazem à luz de uma qualquer lógica e não para “ofender” quem quer que seja.

    • Nightwish says:

      Contra os judeus, nada tenho, estava a ser irónico.
      Contra o estado Israelita tenho muito, como contra qualquer outro estado xenófobo e genocida.

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