A esquerda portuguesa não é a grega, tem de encontrar o seu caminho

miguel tiago

O problema da esquerda portuguesa tem um nome: sectarismo. Tem outros, como dogmatismo, incapacidade de perceber que 100 anos depois nem o capitalismo é o mesmo nem combatê-lo pode ser de feito da mesma forma, mas esses são problemas de toda a esquerda europeia.

Se na Grécia temos outro caminho, a unidade entre forças que se degladiavam há meia-dúzia de anos, a capacidade de construir uma frente que ocupe o espaço da social-democracia ocupado pelo social-liberalismo, a aprendizagem com a queda do estalinismo, se no estado espanhol um outro surgiu, fora dos partidos tradicionais e contrariando a sua esclerose, em Portugal precisamos de outro ainda.

Não sei qual é, ninguém sabe, mas alguns mínimos são evidentes: a aproximação entre os dois partidos de esquerda com representatividade é uma parte, e passa necessariamente por uma discussão dentro de BE e PCP, reforçada com uma forte pressão dos que de fora a exigem.

Pelos vistos, e como ao deputado do KKE Miguel Tiago a azia deu vómito, no PCP essa discussão terá lugar, basta comparar com a posição oficial do partido. Na maior parte dos casos as cisões dentro do PCP nunca lhe fizeram mal nenhum.

Noutro campo, ainda não ouvi António Costa lamentar o desaire do seu partido irmão, nem Rui Tavares a fazer o mesmo perante a catástrofe que arrasou o DIMAR, o partido que apoiou e cuja rumo pretende aqui seguir. Nem toda a gente tem vergonha na cara.

Adenda: Porque é a esquerda que aqui se discute, transcrevo o que hoje Miguel Tiago aditou ao que lhe saiu ontem:

A grande diferença entre o meu comentário de ontem e os foguetes que se lancam, nao é de opinião. É de prudência. Enquanto uns lançam foguetes pela vitória de um partido que a comunicação social descreve de certa forma, apenas mostrei prudência na interpretação do que nos diz a comunicação social. Cada um se compromete com o que conhece. Enquanto tiver dúvidas sobre o que é o syriza, di-las-ei. Parece que ninguém mais tem. Que isso de dúvidas é coisa de estalinistas e sectaristas.

Comments

  1. Mário Reis says:

    Desejo que tudo corra pelo melhor para o povo grego.
    Parece-me apressada a conclusão do Miguel Tiago e ainda mais do JJC. Em meados dos anos 80 tive a felicidade de estar na universidade de atenas, salónica e patras e compreender como a ilusão da CEE comeu o futuro de uma geração cheia de projetos após a feroz ditadura dos coronéis. Nesses dias a tal social democracia… distanciando-se nos momentos chave dos interesses do povo enredou a Grécia na teia da corrupção e submissão a oligarquias. Passado tanto tempo e asneira, é a vez do Syriza. Poderá a expectativa de que uma linha política favorável ao povo venha a ser implementada por um governo Syriza (social-democrata)? Temos de esperar para ver.
    Alguém bem conhecedor da politica grega dizia há pouco, a vida tem demonstrado que governos “de esquerda”, tanto na Grécia como na Europa, se tornam “pontes” para mais políticas “de direita”.
    Os tempos não são mesmo os mesmos, mas as rasteiras continuam sem grande inovação. É a vez do Syriza! Daqui a uns dias teremos razões para falar com propriedade.

  2. Jorge Martins says:

    A “atrelagem” de PS, LIVRE e, mais moderadamente, do próprio PCP (Miguel Tiago à parte) à vitória do SYRIZA lembram a manifestação de repúdio ao atentado ao “Charlie Hebdo”, quando figuras como Netanyhau, Putin, Erdogan e Sissi tiveram a desfaçatez de aparecer como “Charlies”.

  3. Não entendi! O capitalismo não é o mesmo de há 100 anos? O capitalismo de hoje, não é o mesmo que financiou o Hitler e que na actualidade continua a financiar os conflitos nos vários pontos do mundo? O capitalismo de hoje, não é o mesmo que promoveu a guerra contra o Iraque, baseando-se em mentiras para validar a invasão, para obter o controlo sobre o petróleo iraquiano? Não é o mesmo que invadiu a Líbia e assassinou Muamar kadafi? A lista é longa e os actos são bárbaros, e certamente o Manuel Tiago conhece-os melhor que eu. Não entendo…não entendo….

    • O capitalismo tem hoje uma ideologia chamada neoliberalismo, muito mais eficaz do que o nazismo. Só isso faz uma enorme diferença, já para não falar do peso da especulação financeira, que muda algumas coisas um bom bocado. É cada vez mais mundial, cada vez menos nacional.
      Nenhum modo de produção é estático, todos evoluem, é de resto evoluindo que um dia acabam.

      • Estou, pelos vistos, desactualizado. Ou será que que deixei de ser trabalhador só pelo facto de ter vestido um fato domingueiro? O nazismo não é a mesma coisa que capitalismo. Não, não é. É uma das formas ditaturiais encontrada pelo capitalismo para se perpetuar no poder. Chamem-lhe aquilo que quiserem. Vistam-lhe as roupas que vestirem…será sempre capitalismo com um único objectivo: Lucrar, escravizar e matar, quando necessário, para se manter no poder.

        • Mas quem disse o contrário?
          O capitalismo não evolui “para melhor” mas para bem pior. Por isso mesmo combatê-lo tem de ser feito de acordo com as circunstâncias concretas em que o vivemos.

  4. vitormanueldossantos monteiro says:

    miguel tiago tem toda a razao,a burguesia está toda no siriza,ocupar o lugar da social democracia,isso é que causa azia,era o que vocês queriam,mas nao vao ter

    • Por uma questão de princípio não discuto com idiotas. Mas dou-te um conselho: vai bater as tuas piveas reaccionárias para outro lado, que o meu repertório de insultos é vasto, e meninos estalinistas como tu não me limito a mandá-los à merda.

      • vitormanueldossantos monteiro says:

        interessante a falta de argumentos

        • Argumento foi “a burguesia está toda no siriza”. Vai-te catar, muda-te para o PSD, ficas lá melhor.

          • vitormanueldossantos monteiro says:

            nao ,preciso de mais a coligaçao com um partido nazi,responde por mim

          • Ó cretino, nazi é a Aurora Dourada. E ia coligar-se com quem, se o grande partido de esquerda revolucionária, vanguarda do proletariado mundial juntamente com o P”C”PE não está disponível, porque vai fazer uma grande revolução, restaurar o estalinismo sem desvios à sacrossanta religião do canalha que assassinou mais comunistas no séc XX?
            Por merdas como esta bem se pode dizer que o esquerdismo não é desvio, é puro reaccionarismo.

  5. O mesmo capitalismo que lhe dá de comer e lhe sustenta as mordomias.

    • Hélder P. says:

      O capitalismo dá alguma coisa a alguém? Pensei que a vossa profissão de fé fosse mais vender. Ou alugar, fazer um empréstimo, um leasing, um finaciancimento, sei lá. Só se for como na anedota, “Eu dar? Só se me cair alguma coisa.” O Estado Social parece ter caído do bolso há algumas décadas do senhor de cartola do Monopólio e agora com a mesma mão tenta reaver a inositada dávida.

      • Vocês, quem?
        A si também lhe dá de comer. Que se saiba, o comunismo é que não dá nada a ninguém.

    • vitormanueldossantos monteiro says:

      ahahahahahahahahahhahha,Ricardo,essa só para me rir

  6. A.Silva says:

    E depois há uns idiotas que descobrem aquilo que já toda a gente sabe, que “o capitalismo já não é o mesmo”, como se Camões nunca tivesse escrito que “constantemente vemos novidades”, como se Marx e Engels nunca tivessem escrito sobre sobre a dialéctica.

    O capitalismo já não é o mesmo de há 100 anos, mas a sua natureza predadora é a mesma, o seu carácter destruidor acentuou-se e uma das coisas em que mudou mais foi na sua capacidade de adaptação, de simulação, capacidade essa que PODE fazer com que, agora na Grécia, se transvista de simpático Syrisa, percebeu?

    • Não, não percebi, não escrevi isso aí cima, passei a defensor do capitalismo porque sou um idiota.
      Mas sempre me livro de ser um radical pequeno-burguês com fachada socialista.

  7. Mário Reis says:

    DIA 1:
    a) Começam a “descobrir”.. o Syriza não é uma formação “radical”. Que novidade. M. Pizarro diz que os socialistas tiveram a paga pela politica de direita. Ups… Então isso não é o que PCP e BE tem andado a dizer sobre o PS?!?? Não querem ficar no retrato, é?
    b) O que vai na cabeça de Tsipras, com a aliança com os gregos independentes (de direita, anti emigração e assumidamente eurocépticos)? Vai ser o alibi?
    c) Depois da cambolhota das ultimas semanas quanto à Nato, quanto à divida e à “renegociação”, Syriza declaradamente assume não ir à verdadeira raiz dos problemas da Grécia e da UE.
    d) Não é apenas a austeridade mas da arquitetura da UE construída e dirigida de acordo com os interesses do capital e da plutocracia.
    f) E o Euro? Não é a argamassa que retirou e retira possibilidades de crescimento aos países periféricos? Qual a posição do Syriza?
    O povo grego condenou as políticas impostas arbitrariamente pela quadrilha de serviço. A rejeição em alternativas reais e dignas é um dever dos gregos e de todos os europeus.

    • Um gajo qualquer, esqueci-me do nome, escreveu vem tempos uma coisa chamada um passo atrás, dois passos em frente.
      Deve ter sido um pequeno-burguês ao serviço do capitalismo.

      • Mário Reis says:

        Esse sabia ao que andava e conseguiu-o

        • E ficou com a exclusividade? o KKE, o partido que emitiu um comunicado a bater no PCP só porque reuniu com o BE, esse é que a sabe toda.
          A sério, deixem-se de misticismos. Isto não é uma religião, ainda sou do tempo em que a malta se baseava numa coisa chamada materialismo dialéctico.

          • Uma mentira mil vezes repetida não se torna. verdade. 1.º – Não foi um comunicado, foi um artigo de opinião publicado no jornal diário do KKE; 2.º – Era um artigo em resposta ao aproveitamento feito pelo Syriza, na Grécia, da reunião do PCP com o BE,do tipo: «Vejam como o KKE é sectário! Até os estalinistas portugueses estão connosco!»

            PS: Não deixa de ser divertido ver um anti-pcpista da sua cepa, nas últimas horas, citar e recitar, de forma a-histórica (condições de lugar e de tempo), o pensamento de Álvaro Cunhal. Continue. Com a prática, talvez chegue lá.

          • O texto estava traduzido no site do KKE. Desapareceu, coisas que acontecem, mas não me pareceu exactamente um artigo de opinião.
            Quanto a essa de eu ser “anti-pcpista” teria graça, não fosse calúnia e mentira. É contar quantas vezes aqui escrevi a criticar o PCP e, já agora, o BE, isto nas poucas vezes em que critico partidos de esquerda, que 99% das vezes gasto os dedos com a direita, essa sim, o meu alvo.

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