Para comemorar o dia dos afectos, ou do amor, ou do que lhe quiserem chamar, o Sim, Nós Fodemos vai organizar precisamente no dia 14 de Fevereiro a sua Primeira Conferência. Com o tema geral «Sexualidade e Deficiência», este evento ocorrerá no Porto, no Espaço de Intervenção Cultural Maus Hábitos, na Rua Passos Manuel 178, 4º andar (frente ao Coliseu). Não sei se concordam comigo, mas eu acho de um enorme sentido de humor que algo que pretende incutir tão bons hábitos tenha lugar no Maus Hábitos (que é um nome irónico, dado o que por ali se faz).
A interessantíssima agenda é a que se segue:
10 horas – Abertura por Sim, nós fodemos
10:20 – Prof. Dr. Manuel Damas
Vamos falar claro?10:40 – Profª Drª Ana Garrett
“Mo-Re-Sex – contributos para a reabilitação da sexualidade em pessoas com alterações sensitivas.”
11:00 – Drª Lia Raquel Neves
Paternalismo deficientizador: estereótipos discriminatórios no âmbito da cidadania reprodutiva
11h – 12h Debate
Moderador: Rui Machado (Sim, nós fodemos)
Mesa 2
14 horas – Drª Ana Lúcia Santos
Biografias íntimas: desconstrução interseccional da ideologia capacitista
14:20 – Prof. Dr. Jorge Cardoso
Ditos certos, por linhas tortas: narrativas sobre sexualidades (des)qualificadas
14: 40 – Manuela Ralha (Sim, nós fodemos)
O que nos move
15:00 – David Almeida – Actor
As fodas não se medem aos palmos
15:20 – 16:30 Debate
Moderador: Jorge Falcato (Sim, nós fodemos)
É curioso que ainda por estes partilhava uns textos, do Machado Vaz, sobre o tema sexo e o envelhecimento, devido ao enorme preconceito generalizado que há.
Alguém me dizia recentemente como ficou emocionada ao ver dois velhos, num banco de jardim de mãos dadas, e que pensou “já não há sexo, mas há afeto”. Ao que eu respondi “mas quem te disse que já não há sexo”?
E por se ser deficiente não significa que não se tenha tanto ou mais tesão que uma pessoa sem deficiência.
Estou plenamente de acordo em que os deficientes tenham direito ao seu Kamasutra, devidamente adaptado segundo as normas da UE. A imaginação ao poder (ou ao “foder”, como aqui se lê). Já quanto ao título arranjado para a iniciativa (“sim, nós fodemos”), mais me parece um engraçadismo de mau gosto, que, naturalmente, só desabona os organizadores, que se querem fazer ouvir, e estão no seu direito; mas, com cartazes deste teor, quem os vai ouvir, quem os vai levar a sério, a não ser que se trate de uma sessão de anedotas negras sobre o tema?. Quanto à sumidade do especialista em “fodas” Machado Vaz, é de aplaudir a participação deste catedrático em rapidinhas primaveris e coitos interrompidos no banco do automóvel ou no divã psicanalítico. Enfim, cada deficiente tem a “foda” que pode e os palestrantes que merece. Com este tipo de abordagem e de linguagem, só me ocorre dizer, parafraseando os organizadores: ora não me fodam…
Eu acho que às vezes nos prendemos com detalhes de forma quando o que é verdadeiramente importante é chamar a atenção para conteúdo. Não sei se a publicidade foi a mais feliz ou ou não, mas na verdade causou polémica e chocou, num tema – sexualidade – num país onde ainda existem muitas teias de aranha, gavetas mal arrumadas e esqueletos fechados no armário.