Sobre aquilo a que chamou «Comunismo envergonhado» escreveu em 1999 o meu amigo (e já desaparecido) José Manuel Palma Martins. Dizia ele já ser «tempo de o Partido Comunista Português deixar de usar máscaras eleitorais como FEPU, APU ou CDU, siglas envergonhadas da foice e do martelo» e de um partido já há muito «adulto, quase sempre terceiro na hierarquia democrática» do País, e que, tendo sido capaz de sobreviver a «lutas e dissidências», não carecia de apoio «em muletas de satélites». E nesse mesmo seu texto, chamava Palma Martins a atenção para o atraso da emergência em Portugal de uma força política de motivação ecológica, «projectada não para a Esquerda ou a Direita, mas para o Futuro.» Dezasseis anos mais tarde, e nada. E não me venham dizer que temos os Verdes, porque a coligação do Partido Ecologista “Os Verdes” com o PCP (a CDU) tem proporcionado aos ecologistas uma existência pouco mais que pífia, que não faz de modo nenhum justiça à real necessidade e potencial de representação na sociedade de uma força partidária ecologista em que, designadamente, uma fatia não negligenciável de jovens (muitos abstencionistas) pudesse rever-se. Um ecologismo a precisar de emancipação, em suma.
Verdes em Portugal: um ecologismo a precisar de emancipação
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[…] a gente sabe que os Verdes praticamente não existem. Já o PAN surge como uma alternativa credível, independente, organizada e com um discurso […]
Para além d”Os verdes” existe também o PAN, que até já lidera numa autarquia, a do Funchal.
E penso que nas ultimas eleições legislativas não ficou assim muito longe de eleger um deputado para o Parlamento.
Os eleitores ecologistas tem opções. É usar o boletim de voto.
Quanto ao PCP ser envergonhado da sua ideologia, não concordo. O PCP é já pós-soviético, adaptou-se ao século XXI, sem precisar de dolorosos contorcionismos políticos. Quase todos os dias, a marca que nos aparece nos media associada aos comunistas é mesmo o PCP, o fundo vermelho, a foice e o martelo.
Quero acreditar que quem vota CDU sabe bem no que está a votar, PCP e PEV. Não vejo como possa haver dúvidas.
Os partidos políticos são portadores, com os seus programas, de projectos de sociedade num sentido amplo. Os problemas ambientais parecem-me ser transversais a todos os projectos de sociedade e a todos os partidos, cada um a seu modo, evidentemente. Os partidos ditos ecologistas na Europa, ou são muletas de outros (e sempre procurando algum quinhão numa eventual distribuição de pastas,ou um ou dois passaportes para o PE) ou pecam por fundamentalismo de seita (por necessidade de sobrevivência enquanto grupo), afastando frequentemente os cidadãos dos seus ultramontanismos. Talvez a solução partidária não seja a melhor para desenvolver um querer ambientalista. Quanto ao PEV estamos conversados, já que o seu trabalho parlamentar no domínio da ecologia é praticamente nulo e irritantemente “apolónio”. Mas se o PCP se sente bem assim, deixá-los estar, não se estragam duas famílias.
Agora também há o LIVRE (LIBERDADE – ESQUERDA – EUROPA – ECOLOGIA), mas o percurso dos partidos ecologistas na Europa não tem sido particularmente feliz: olhe-se para aquele jovem senhor do Maio de 68, agora apologista do capitalismo verde e dos bombardeamentos da OTAN…
Continuo sem perceber a ideia de que o PCP precisa de «siglas envergonhadas da foice e do martelo». Afinal, apresentou-se sozinho às eleições de 75/76 e nas últimas décadas o vermelho e a foice e o martelo têm estado bem visíveis.
Agora estamos numa época propicia ao aparecimento de novos grupos: um verde por fora e por dentro vinha mesmo a tempo.
Não acredito é que tivesse muito que programar sobre uma parte tão reduzida da nossa vida. Principamnete para uma maioria da população que tem dificuldade em por na mesa o essencial e os remedios diarios.
A ecologia não é uma parte assim tão reduzida da nossa vida, mas sim, concordo que a catástrofe humanitária em Portugal pede outras respostas políticas.