Foto@Mentiras de Passos Coelho & CIA
No fim de contas, esta história da dívida de Pedro Passos Coelho à Segurança Social até acabou por correr muito bem ao ilusionista de São Bento. A situação irregular emergiu, o regime apressou-se a criar um cordão sanitário em torno do primeiro-ministro, alegando erro dos serviços administrativos, e por fim, cereja em cima do bolo, Passos Coelho, o magnânimo, decidiu mostrar ao país toda a sua generosidade e pagou a sua dívida, apesar de, e aqui partilho das dúvidas do perigoso cata-vento Rebelo de Sousa, ser difícil de perceber como se paga voluntariamente uma dívida já prescrita que, por ter prescrito, deixou de existir.
Continuando na senda do raciocínio do professor, existe outra dúvida que deve ser esclarecida. Diz Marcelo que, “Passos Coelho, como qualquer trabalhador independente, tinha de se registar e tinha de pagar à Segurança Social. Não é preciso nenhuma notificação“. Se, a julgar pelas palavras do comentador, não é necessária nenhuma notificação, é legítimo afirmar que Pedro Passos Coelho não só foi irresponsável como não honrou as suas dívidas, ideia central no seu discurso pró-austeridade. Como pode um primeiro-ministro cujo foco do seu discurso radical assenta na sacralidade do pagamento de dívidas para com terceiros entrar em incumprimento? Num país onde se penhoram salários e se perseguem contribuintes por dívidas residuais, como é que ninguém se lembrou de mandar o homem do fraque a Massamá? Afinal de contas, já dizia o Pedrito, “Ninguém está acima da lei“.
Claro que, dentro de poucos dias, este caso irá cair no esquecimento. Mota Soares fez a defesa do chefe, Passos Coelho pagou a dívida que, para alguém a quem os nossos impostos pagam tudo, não passa de uns trocos, e os spin doctors fizeram o resto. Passos arrisca-se a sair deste enredo como o exemplar português que assume e paga dívidas já prescritas. Espera-o um busto em Castelo de Vide já no próximo Verão. Para a história fica mais um caso polémico e nebuloso de incumprimento fiscal do primeiro-ministro, que se junta ao recente caso de alegada violação do estatuto de deputado em regime de exclusividade e fuga ao fisco. Apesar do esforço de se demarcar de Ricardo Salgado, Passos Coelho e o antigo DDT partilham uma preocupante amnésia no que ao pagamento de impostos diz respeito. Em Setembro, o profissional da mentira tentou esquivar-se com um conjunto de aldrabices, imediatamente desmascaradas. Para já, o primeiro-ministro limitou-se a afirmar não conhecer a lei, algo que, considerando o cargo que ocupa e a perseguição permanente do governo que lidera ao Tribunal Constitucional, é mais uma prova de incompetência de Passos Coelho, a que neste caso se juntam a prática do incumprimento e a incapacidade de honrar dívidas. Dois pesos, duas medidas.
Finalmente, e voltando uma vez mais a Marcelo Rebelo de Sousa para concluir, deixo no ar a questão do professor: “Como é que é possível alguém assumir o cargo de primeiro-ministro e não haver uma investigação ao que pagaram e ao que não pagaram de impostos e segurança social?”. Elementar meu caro professor: o regime é imune à lei. Moralista, radical, persecutório mas sempre acima dela.
Portanto, além de pelintra, é caloteiro.
não honra as dívidas, que desilusão…
Artigo 6.º do Código Civil: A ignorância ou má interpretação da lei não justifica a falta do seu cumprimento nem isenta as pessoas das sanções nela estabelecidas.
Um PM que ignora um dos princípios gerais de direito não tem face nem legitimidade para exigir dos seus concidadãos em geral – e para e para os contribuintes em particular – o rigor que não aplica na sua conduta pessoal. Não tem qualquer autoridade ética, moral ou outra!
Um Ministro da Seg Social que o justifica como foi público e o apresenta como espírito magnânimo e abnegado devia ser corrido, por afronta à dignidade de todos aqueles q quem, por não serem titulares de qualquer cargo, não mereceram mais que uma notificação para penhora dos seus rendimentos.
No final de tudo isto, pergunta-se: qual é a base legal para aceitar a liquidação de uma quantia já prescrita? provavelmente nenhuma…
Resultados deste pagamento sem base legal: o sr Pedro Passos Coelho branqueia o tema do ponto de vista político-eleitoral e mantém sem hiatos a sua carreira contributiva e pode voltar a contar com os 5 anos de “descontos”…
Vistas bem as coisas, que melhor acto de fé na sustentabilidade da segurança social poderíamos nós ter?
Mas… Quem nunca fez disto, que atire a primeira pedra.