Ainda gostava de entender a necessidade que terá sentido o DN para ir contratar um neoliberal no mercado espanhol, Miguel Angel Belloso de seu nome. Parece-me injusto, há tanto religioso do mercado por cá, não havia necessidade.
Como, ao contrário das televisões portuguesas, os nossos vizinhos caíram na asneira de debater com adversários, aqui fica o Belloso (e ajudante) a levar uma abada do Pablo Iglesias. Imaginem um Carreira ou um Gonçalves em idênticas circunstâncias…
Gostava que lhe tivesse dado uma sova. Vi, como outros até ao fim e, foge às questões essenciais. O mundo concebido e idealizado pelos de cima impondo a indignidade e condicionando a alternativa com, quem paga a justiça, quanto custa a equidade, onde há dinheiro para a saúde que todos deviam ter, não se debate e muito menos se combate com argumentos que não ponha em causa uma estrutura politica de dominação como a UE, Maastricht, Lisboa, o BCE e o euro. Não põe a nu o pensamento económico plutocrata, o canibalismo corporativo e a sua ligação com o caos e o derramamento de sangue pelo mundo (libia, siria, ucrania e outros).
Soube a pouco. Argumentos lógicos e absorventes não chegam.
Parece-me óbvio que a necessidade não será do DN directamente, mas que o jornal tenha sido meramente instrumental, relativamente aos poderes instalados, que devem estar receosos de que aconteça na Península Ibérica algo como finalmente as pessoas começarem a pensar e a concluir que pode haver mais alternativas ao “establishment”. E assim há que dar início à deturpação e à propaganda para a disseminação do medo. É a versão actual do mito de que os comunistas comiam crianças.
A entrevista deixou mais uma vez clara a crença dogmática, já um pouco gasta, dos senhores que representam a ideologia dominante, de que a razão da crise económica e da miséria de um quarto da população em Espanha não são das derivas neoliberais (ná, nem pensar!), mas pelo contrário, de não se ter tido a coragem de se ser neoliberal e “austeritário” o suficiente, isto é, de se ir mais longe. Os senhores de gravata nesta entrevista acusaram o facto de se ter ficado aquém nessas políticas, e de ainda haver salário mínimo (porque é que as pessoas não hão de ter a ‘liberdade’ de trabalharem por menos de 600€?), ou idade de reforma (porque é que uma pessoa não hão de ser ‘livres’ de trabalharem até morrerem?) – e o que é de facto assustador é que esses dois senhores representam uma espécie de ideia de sociedade delirante que é a que atualmente vigora nos poderes da Europa neste momento, como espécie de pensamento único. A ironia aqui é que o suposto ‘radical de esquerda’ de rabo-de-cavalo apresenta propostas e ideias que não são mais que o recuperar da ideologia capitalista keynesiana dominante na Europa pré-Thatcher. A ironia é que há 30 anos um radical de extrema-esquerda era uma pessoa que falava em abolir as classes sociais; hoje em dia é alguém que fala em teto salarial, ou manter prestações sociais com mínimo de dignidade.
O caminho faz-se caminhando…
http://www.diarioliberdade.org/mundo/institucional/54702-alguns-n%C3%A3o-perdem-tempo-pablo-iglesias-com-o-embaixador-dos-eua.html
Nunca o tinha lido, ao que creio, por certo desatenção minha. Gostei imenso.