PME que contratem desempregados vão receber 80% do salário [*]

Lembram-se do tal governo que queria menos estado e que a recuperação estava a ser tão fantástica que o emprego estava a baixar a pique?

Arranca hoje o programa de estágios Reativar. O governo vai pagar pelo menos 65% do valor do estágio às pequenas e médias empresas que contratarem desempregados com mais de 31 anos. A ideia será reduzir o desemprego de longa duração. Mas nem todos acreditam na eficácia da medida que mantém remunerações baixas e os estágios só duram seis meses [**]. [TVI]

Ora, é o mesmo governo que aumenta o papel do estado na economia [***].

Aqui está, em todo o seu esplendor, a explicação da surpresa.

O ministro da Economia, António Pires de Lima, considerou hoje [07-08-2013] “surpreendente a forma como a taxa de desemprego se reduziu”, pedindo, no entanto, “cautela” na avaliação destes dados, uma vez que é necessário “expurgá-los do efeito da sazonalidade”. [DN]

Emigração, estágios profissionais, novas regras para inscrição e manutenção dessa inscrição nos centros de emprego e atribuição de subsídios para pagar salários. Eis como se desmonta a mentira sobre as estatísticas do desemprego.

Aguarda-se com expectativa a contra-explicação de João Miguel Tavares.

*Título do DN
** Têm a duração certa para acabarem logo depois das eleições
*** Este aspecto dos estágios é só mais um. Outras formas como este governo feito o contrário do que apregoa são: aumento do financiamento do ensino privado, transferência de serviços do SNS para o privado, transferência de competências da Segurança Social para as IPSS, aumento do financiamento às fundações (lembram-se da conversa da treta sobre cortar gorduras? pois). O que o governo tem feito é destruir o serviço público, via descapitalização, para criar um estado paralelo, assegurado por privados e financiado pelo orçamento de estado.

Comments

  1. Rui Silva says:

    O estado não consegue criar emprego real. Por variadíssimas razões, em que a mais obvia é que não sabe como.
    O emprego que cria é sempre deste género, ou seja usa o dinheiro dos impostos para “inventar” postos de trabalho para melhorar os números de desemprego para as próximas eleições.
    O estado para criar emprego só tem a meu ver um caminho: baixar os impostos para que a economia pudesse crescer.

    cumprimentos

    Rui Silva

    • Nightwish says:

      Claro que sabe criar emprego, e muito mais barato que o privado em muitos casos. É olhar para as privatizações, concessões, PPP e concursos públicos e ver casos atrás de casos.

    • j. manuel cordeiro says:

      O problema é que esta linha de argumentação é usada pelo governo para justificar a investida no privado mas, em simultâneo, assistimos à criação de um estado paralelo a viver do orçamento de estado.

      • Tem toda a razão. Antes de o estado se meter a fazer favores aos privados, a coisa funcionava assim: o estado pagava 500 euros por mês a uma cozinheira numa escola e em troca a cozinheira cozinhava. Mas de acordo com as regras do neoliberalismo isto era “ineficiente” – o estado “não sabe gerir” – de modo que agora a cozinheira que ganhava 500 € foi substituída por uma que ganha 300 € a trabalhar para a empresa privada a quem foi concessionada a cozinha. A empresa, é claro, tem que ter lucro – é para isso que as empresas servem, não é? – e portanto o estado paga-lhe 600 € por mês, mais cem do que pagava à cozinheira anterior. De onde vêm esses cem euros a mais? Pois, do meu bolso, é claro. Do bolso do contribuinte. Em troca tenho a consolação de não estar a pagar o salário de uma funcionária pública.

    • Então é assim: a empresa ‘A’ contrata um empregado com o salário nominal de 500€ / mês. Desses quinhentos, paga cem. E eu, contribuinte, pago os restantes 400. Tem sorte, esta empresa: está um pouco abaixo do limite máximo para ser considerada uma PME. À custa do subsídio do Estado – do MEU subsídio – pode praticar preços ligeiramente mais baixos; não tão baixos, porém, que me compensem dos 400 € que lhe pago todos os meses.

      Menos sorte tem a empresa ‘B’. Está ligeiramente acima do limite para ser considerada uma PME e não tem direito a empregados com 80% de desconto. Não pode competir e vai à falência. Sozinha no mercado, a empresa ‘A’ aumenta os preços para níveis ainda mais altos do que estavam antes.

      E eu, contribuinte espoliado, passo a acumular com a condição de consumidor espoliado. Nada a que não esteja já habituado.

    • Poupe-nos à cassete neoliberal, que já está mais que gasta. Qualquer pessoa que entre num hospital público, numa escola pública, num tribunal ou numa esquadra de polícia vê logo que o estado consegue criar emprego real. A menos que os empregos das pessoas que lá trabalham sejam todos virtuais.

      Se a razão “mais óbvia” por que não consegue – e consegue – é não saber como, então as outras (“variadíssimas”, olarila!) são ainda menos óbvias. Está mesmo mais que gasta, o diabo da cassette!

      “O emprego que cria (afinal sempre cria) é sempre deste género”. Diga isto a um médico do serviço público que não dorme há 36 horas. De preferência depois de ele lhe ter feito uma apendicectomia de emergência por causa de uma peritonite que o poderia ter levado desta para melhor. Mas diga-o diante de testemunhas, não vá o homem, meio alucinado de cansaço, cometer o acto benemérito de pegar numa almofada e lha pressionar contra o focinho durante uns cinco minutos.

      “O estado para criar emprego só tem a meu ver um caminho: baixar os impostos para que a economia pudesse crescer.” Repita isto mil vezes. Repita um milhão de vezes até que se torne verdade. Até agora tanta repetição ainda não resultou, mas quem sabe? Pode ser que tenha razão a autora daquele best-seller que diz que basta querer uma coisa com muita força e todo o Universo conspira para a tornar realidade.

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  1. […] iludir os portugueses, recorrendo a números fraudulentos e programas eleitoralistas como o VEM e o REACTIVAR, mas a realidade é que há cada vez menos futuro neste país. A novilíngua […]

  2. […] em avançar com mais despedimentos na função pública e diminuir o papel do Estado na economia para depois implementar programas através dos quais financia até 80% dos salários dos desempregad…. Revoltante é o calculismo de programas como o Reactivar, baseados em remunerações baixas e com […]

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