A Mahler o que é de Mahler

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Eu sou do tempo em que o JN era uma escola de revisão. Conheci alguns profissionais desse jornal com quem fiz amizade, e habituei-me a respeitar a prosa lavada com que se apresentava. Hoje, continuo a lê-lo, diariamente, mais não seja, por esse respeito quase histórico.

Outros tempos vieram, e com eles, os correctores ortográficos, muito mais leves que a sala de revisão, cheia de fumo e silêncio. Mas impessoais e dados a erros, se mal utilizados ou se utilizados de forma distraída…

Duvido, aliás, que qualquer corrector permita, sem o rasurado a vermelho, que se confundam nomes imortais.

O caderno “etc.” de hoje traz uma entrevista com a fadista Aldina Duarte, à luz do seu mais recente trabalho discográfico.

Ficámos a saber que a fadista gosta de muitos géneros musicais e que, entre outros, não dispensa Gustav Mahler.

Fica-lhe bem!

Ao jornalista que a entrevistou é que fica mal a troca de Mahler por “Mhaler”. Não se trata de gralha fortuita no título. No corpo da entrevista, o plumitivo volta a trocar o nome. Não sendo uma gralha, é incompetência.

Gustav-Mahler-KohutComo serviço público, que gostamos de assumir, aqui fica a fotografia do músico e o seu nome correcto: Gustav Mahler, nascido na Boémia em 1860, faleceu num sanatório em Viena, no ano de 1911.

Se fosse vivo, Mahler teria, por certo, agarrado o jornalista do JN e, tal como Lopegui a Jorge Jesus, ter-lhe-ia dito: “Se voltas a trocar-me o nome, apanhas um murro”.

E seria um folhetim!

Comments

  1. Também não admira para um País que pouca música erudita ouve, já é muito bom saber que temos fadistas que têm gostos ecléticos que vão do seu fado até Mahler.
    Lembro-me de uma cantora de renome, nos píncaros do seu sucesso, que há uns anos atrás dizia no canal público, manifestando um certo orgulho, que compunha, cantava e tocava “apenas de ouvido”, é certo que nunca fui seu fã, mas penso que a dissonância nas suas canções eram mesmo desafinanços que os Portugueses aceitavam.
    Para um Portugal que desconhece que entre os seus nomes maiores está um Marcos Portugal, também não me admira que a jornalista nem saiba escrever o fácil Mahler, teve muita sorte a fadista não preferir outros compositores germânicos e russos.

  2. É o Gustavo Mhaler, um filho de alemães que mora em Alfama e que se rendeu ao fado popular.

    • Manolo Heredia says:

      se não fosse a morte em veneza ninguém conhecia isto (ninguém sou eu!).

  3. Embora boémio de expressão germânica, Mahler não era alemão, mas sim cidadão do império austro-húngaro no que hoje é a República Checa e fez grande parte da sua carreira em Viena senhor guz.

  4. J.V. says:

    O presidente de alguns portugueses não sabe quanto cantos têm os Lusíadas; a obra favorita de um ex-secretário de estado da cultura são os concertos para violino de Chopin; Passos Coelho muito apreciou uma obra de Sartre que o próprio Sartre não sabia existir… isto vai de Mhaler a pior. Valha-nos o Pina, que tantas saudades nos deixa http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1153340&opiniao=Manuel%20Ant%F3nio%20Pina

  5. antonio oliveira says:

    Desde que o JN renovou a sua imagem, os erros ortográficos são frequentes.

  6. Lembro-me de uma entrevista a Miguel Guilherme no antigo “3” d´”O Independente”, em que a dada altura o jornalista escreveu: “Ama Hall Artley (é assim que se escreve?)”.

Trackbacks

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