Bijan Ebrahimi, um inglês de origem iraniana, de 44 anos, com uma invalidez física que o impedia de trabalhar, dedicava boa parte do seu tempo à jardinagem. As suas floreiras estavam constantemente a ser vandalizadas e Ebrahimi queixou-se várias vezes à polícia, sem resultado. Decidiu então tirar fotografias aos miúdos que o faziam, tantas quantas lhes pareceram necessárias para poder apresentar a sua queixa. Mas alguém o viu e avisou as autoridades de que havia um homem, um inválido que passava o tempo todo em casa e no jardim, a tirar fotografias às crianças do bairro. A polícia levou-o para ser interrogado. À saída, alguns dos moradores do bairro gritaram-lhe “Paedo, paedo”, abreviatura de pedófilo. Na esquadra, depois de vistas as fotos e de um longo interrogatório, Ebrahimi ficou livre de suspeitas e foi mandado para casa. Mas por essa altura já circulavam os rumores de que um abusador de crianças tinha sido apanhado pelo polícia. E os moradores não gostaram de vê-lo solto ao final do dia.
Dois dias depois, Ebrahimi foi atacado por um dos seus vizinhos, com a ajuda de um amigo deste. Bateram-lhe até deixá-lo inconsciente, arrastaram-no para a rua. Regaram-no com álcool, pegaram-lhe fogo e deixaram-no arder. Ebrahimi morreu à porta de casa. Os assassinos seriam condenados, assim como os polícias considerados culpados de conduta incorrecta.
Bijan Ebrahimi não é uma personagem ficcional. Foi assassinado em Bristol, Inglaterra, em 2013 e o seu caso não é único. Bastou o rastilho de uma suspeita para que um homem inocente fosse julgado, condenado e executado pela turba, na rua.
Que uma ministra da Justiça, por muito medíocre que seja, avance com uma medida que abre caminho a linchamentos, e descarte essa possibilidade com ligeireza, garantindo que não os haverá, logo admitindo que poderá haver “um caso ou outro”, é revelador de quão baixo descemos com este governo. Manipular números, insistir numa medida irresponsável, que lava as mãos das consequências que pode desencadear, apelar ao medo, ao preconceito, à delação, tudo vale para um parco ganho político.
A triste ironia é que enquanto a ministra impinge, casmurra e levianamente, uma medida que um mínimo de sentido ético e de bom senso descartaria à partida, vão multiplicando-se na imprensa as histórias de abusos sexuais cometidos por pais, padrastos, avós.
Temos gente perigosa neste governo, é sabido, mas ainda é cedo para avaliar as consequências de todos os seus variados e grosseiros erros.
A direita vive disto.
Apelar à delação para “segurança das crianças”, apelar a tudo o que impeça laços de confiança nas populações, e também ideologicamente é sempre muito mais conveniente criar listas de criminosos, pedófilos, terroristas, e deitar-lhes a culpa de todos os males do que reflectir sobre as causas sociais dos referidos crimes. Neste caso, é evidente que a pedofilia tem maior incidência no núcleo familiar, mas essa é uma realidade que uma direita patriarcal que tradicionalmente apela aos valores da família deliberadamente negligenciará sempre.
Mas não havendo a lista, o Sr. Bijan Ebrahimi não teria sido morto de igual forma? A suspeita foi o que motivou o linchamento e não a existência da lista.
Obviamente que esta pessoa foi chacinada devido à denúncia da suspeita de ser abusador. A Vânia Rodrigues se quiser consegue perceber.
A lista que a ministra quer fazer passar a lei é um passo para uma sociedade paranóica onde estas coisas acontecem.
Outro ponto de vista: se isto aconteceu com base apenas numa suspeita – desmentida pela libertação sem acusação -, que poderá acontecer se o nome do suposto pedófilo constar de uma lista criada e gerida pelas autoridades?
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God bless America! e suas colónias… cada vez mais vamos ficando parecidos.. casos de mortes familiares em catadupa, abusadores sexuais, etc., etc, …
Isto parece tratar-se, evidentemente, de mais um caso onde a corrupção atinge desvairadamente o bolso e a ganância da Senhora Ministra da Justiça…
Essa é uma leitura que eu não faço.
Está tudo muito bem. No entanto, tolerância zero com esses criminosos. Para a pedofilia só há duas penas: trabalhos forçados e morte. São pessoas irrecuperáveis, portanto o melhor é eliminá-las. A sociedade não tem o dever de manter esses delinquentes na cadeia. Ademais, contra esses possíveis abusos ou arbítrios impõe-se um valor superior: a segurança e bem estar das nossas crianças. Tudo o mais é música. Mão dura e pena pesada, é o remédio.
O artigo apresentado parece-me um pouco faccioso e de cariz politico . Pessoalmente não acredito na reabilitação e reintegração de violadores e pedófilos. Esta gente deve sentir a espada pesada da justiça. Não entendo como se pode falar em direitos para gente desta. .Arrisco-me mesmo a dizer que esta medida agrada e vai de encontro à vontade e preocupação de grande parte dos pais deste país.
Sim claro, é bom que agrade aos pais..
É pena que os factos mostram que é (pasme-se!) precisamente de pais e padrastos (e gente da sua íntima confiança dentro de casa) que vem o maior perigo para essas crianças. Uma lei que cultive uma cultura de paranóia ilude completamente a base doméstica da esmagadora maioria dos casos
Claro, e há o quase irrevelante pormenor que esta base de dados é totalmente inconstitucional, e não poderá ser aprovado pelo TC. Este governo já é recordista nessa matéria, portanto mais chumbo menos chumbo..
independentemente se são pais ,padrastos ou desconhecidos da criança devem ser punidos, assinalados e afastados de outras crianças. Não acredito na reabilitação desta gente.Não estamos a falar de suspeitos de mas sim de julgados e condenados .
Deixa-se ficar mal ao usar uma caracteristica bem anglosaxonica, e que felizmente não tem adeptos nem na Alemnaha, nem nos paises do sul, para tentar argumentar contra o que discorda. Isso que conta tem muitas manifestações onde até as comunidades tèm o direito de desaprovar a venda ou aluguer a individuos que não lhes agrade. Fale com seriedade das caracteristicas que a ministra põe na sua proposta , e contraponha com ferocidade os seus sérios argumentos e deixe de confundir ou romancear com coisas serias. Fica-lhe mal acredite.
Tudo isto porque os pides não fizeram o seu trabalho. E os habitantes tiraram conclusões indevidas por coscuvilhice e sem conhecimento de causa. História demasiado triste e vergonhosa.