Os taxistas

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Por norma, faço um esforço para fugir às generalizações, nem sempre conseguido, pelo que passo a concretizar desde já. Há um considerável número de taxistas nos aeroportos que praticam esquemas para cobrarem bastante mais dinheiro ao cliente do que aquele que normalmente seria devido e não me refiro apenas ao velho truque de fazer um percurso cheio de desvios só para cobrar mais quilómetros.

Há alguns anos tinha acabado de aterrar em Faro e dirigi-me ao primeiro táxi da fila. Era uma carrinha monovolume e disse para mim mesmo que era um desperdício ter um carro com capacidade para seis passageiros só para a mim. Fui prestando atenção ao caminho, para não ser comido como tolo, mas, afinal, o truque era outro. Chegado ao destino, o taxista apresentou-me uma conta de 25 euros, 10 a mais do que o que tinha pago na viagem de ida. Espantado, pedi explicações, ao que o taxista me disse que o carro em questão tinha uma tarifa especial devido a ter capacidade para levar mais do que quatro passageiros. Foram dez euros por um serviço que não pedi e que o taxista não me alertou que me iria cobrar. É certo que, colado numa janela da viatura, havia um discreto autocolante com o tarifário “especial”, que ninguém lê até ser tarde demais. Barafustei, levei com a indiferença do condutor, paguei e tomei nota mental para adicionar este à minha lista de truques de taxista.

Entretanto, apurei que, em termos de licenciamento e, até, de aquisição, estes carros têm um custo semelhante aos outros, tendo os taxistas encontrado um buraco na lei que lhes permite facturar mais à conta do desconhecimento dos clientes. A situação ainda será pior se calhar ao cliente uma carrinha de 9 lugares. Com o decorrer do tempo, reparei que estes monovolumes passaram a estar em grande número no aeroporto de Lisboa. Dirão que é um serviço útil para um grupo de seis pessoas (ou oito no caso das carrinhas de 9 lugares), ficando mais barato do que irem em dois táxis. E, no entanto, a esmagadora dos serviços vão com menos de quatro pessoas. Claro que a motivação não é o interesse do cliente propriamente dito mas sim a respectiva carteira.

Sabedor do esquema, numa das vezes que aterrei na Portela calhou-me um desses espertalhões. Disse-lhe que não iria com ele, explicando-lhe, a seu pedido, que só o faria se ele me cobrasse a tarifa normal. Veio o polícia que ajuda a distribuir os clientes perguntar-me porque é que não queria ir naquele táxi, ao que lhe disse que não precisava de um carro com seis lugares. Não foi preciso mais nada. Chamou o táxi seguinte e assunto resolvido. Claro que não me livrei de ser insultado pelo xico-esperto mas é daquelas coisas que entram por um ouvido e saem pelo outro. Curiosamente, o polícia de serviço, seja ele qual for, nunca informa os clientes que irão pagar desnecessariamente pelo serviço. 

Vem esta conversa toda por causa da Uber. Andam os taxistas em pânico com a concorrência e já veio o secretário de estado dos taxistas suspender a actividade desta empresa em Portugal. Não é que defenda a ausência de regras na prestação de serviços mas, havendo-as, que se apliquem aos novos operadores da mesma forma que se aplicam aos tradicionais.

A minha ausência de empatia com os taxistas até aumentou recentemente quando levei com mais um truque. Chamei, por telefone, um táxi para me levar ao aeroporto e veio um carro sem a habitual cor beije ou preta. Brincado com o condutor, perguntei-lhe se era carro novo, já que ainda não estava pintado, ao que ele me disse que ao fim-de-semana podiam circular assim. Na altura não percebi a resposta mas, ao pagar 5 euros a mais do que o habitual, percebi que, sem me avisarem, me enviaram um carro de aluguer, em vez de um táxi, um pormenor técnico sem importância, excepto na hora da conta.

É certo que há muitas coisas erradas no serviço de táxi, como por exemplo o congelamento das tarifas mesmo quando os combustíveis disparam. Igualmente sem nexo é a nova taxa que pretendem aplicar aos taxistas de aeroporto. Mas os erros combatem-se na origem e não com novos erros. Portanto, ao usar um táxi, preste atenção à lotação do veículo, confirme que é um táxi, em vez de um carro de aluguer e mantenha um olho no percurso escolhido. Alternativamente, use um serviço concorrente, seja Uber, seja outro.

[a foto é minha]

Comments

  1. Isabel Atalaia says:

    Se gosto de ser vigarizada pelos taxistas? Não, não gosto. Mas da filosofia da Uber gosto ainda menos. Permita que lhe deixe aqui um link com um excelente artigo sobre a economia “partilhada” https://www.jacobinmag.com/2014/09/against-sharing/

  2. Sarah Adamopoulos says:

    É a política fiscal da globalização enquanto não houver regulação: as empresas nacionais ficam com a carga fiscal e as multinacionais fazem o que querem. Leiam o Piketty sobre isto, que ele explica bem a posição dominante de empresas como a Uber, cujos grandes accionistas são a Google e a Goldmansachs, já agor

  3. Rui Silva says:

    Cara Isabel Atalaia,

    E está no seu direito. Ninguém a obriga a usar a Uber.
    Mas a mim querem proibir-me essa liberdade de escolha.

    Cara Sarah,

    As pessoas que usam a Uber passam fatura e pagam impostos assim como a própria Uber.
    Quem lhe vendeu essa ideia ( provavelmente um taxista).
    Mas é verdade que a Uber é uma empresa multinacional, e neste caso (como em muitos outros) deixe-me dizer-lhe , só podia. Você não vê que é proibido fazer este tipo de empresa em Portugal ! …
    O estado só apoia a inovação na tv e na campanha eleitoral e nos programas estatais em que se compram votos em troca de apoios á inovação. Quando a inovação acontece logo o estado se apressa a proíbir (este caso da Uber é ilustrativo) , impedindo assim de milhares de pessoas possam usufruir dessa inovação .
    Também deduzo que ( e provavelmente inspirada nesse grande pensamento económico eu é Piketty) é contra a presença da Auto-Europa, General Electric, etc etc em Portugal.

    cumps

    Rui Silva

    • Ao autor da fotografia e do respetivo comentário só lhe peço um pequeno favor. Não generalize.Em todas as profissões sempre houve honestos e desonestos.Eu quero pensar que os honestos ganham aos desonestos.E para terminar digo que sou TAXIS mas honesto. Prefiro ficar lesado a lesar alguem a quem preste um serviço.

      ,

      • j. manuel cordeiro says:

        Penso que não generalizei. Referi-me a situações concretas, por mim vividas e presenciadas. Da última vez que passei no aeroporto da Portela havia, talvez, 10% de carros com mais de 4 lugares. Esta situação resolvia-se facilmente se a tarifa fosse em função do número de passageiros transportados e não da lotação do veículo. Não vejo a ANTRAL preocupada com isto, pelo que há conivência com a situação.

  4. O que vejo de errado é uns senhores muito bem pensantes acharem normal que sejam eles a decidir o que eu devo ou não usar para me deslocar. E a unica razão é porque eles se sentem no direito de decidir quem tem direitos sobre mim como cliente de transporte. Eu sou propriedade duns senhores já instalados e ponto final. Que os cidadãos achem normal serem tratados como incapazes de decidir talvez explique as enchentes ano apos ano em Fatima. Meca ou Ganges.

Trackbacks

  1. […] dos diversos truques que praticam para enganar os clientes. O mais recente deles consiste em ter carros nos aeroportos que têm lotação superior a quatro lugares e que, por isso, são bem mais caros. É vê-los nas chegadas na Portela, por exemplo, às vezes em […]

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