Orthographias

Dizem que temos uma nova, e agora é a oficial. O drama, o horror, a tragédia.

Burro velho não aprende novas ortografias, nem precisa no séc. XXI.

É muito simples: oficial é publicar documentos oficiais, e nisso já levo experiência, uns quatro anos.  Não é escrever.

Quem quer escrever na velha, escreve, e uma vez descarregado o Lince, converte para a nova. Nem é preciso ler, embora seja provável uma falha ou outra, da qual não virá grande mal ao mundo E depois publica, envia, conforme o caso. É o que tenho feito quando é preciso e não me esqueço.

A nova ortografia é foleira para quem aprendeu na velha, natural para os meus alunos que sendo novos já se habituaram. Nem uma nem outra fazem sentido quando temos um teclado pela frente, ou pior do que isso, o procuramos num écran táctil, mas as novas ortografias são outro assunto.

Se escrevem à mão, recomendo a de 1911, estão sempre a tempo de aprender e fica sempre bem com arqueologias.

Comments

  1. Rosa Oliveira says:

    É mesmo isso, tal a (des)importância do assunto, discutido ad nauseam desde 1990. Faz 25 anos, senhores! Entretanto a língua portuguesa foi mudando e essa coisa convencional que é a ortographia oscila como é da sua natureza.

    • Ora abóboras, esqueci-me da palavra convencional. Bem lembrado, Rosa.

    • Não tendo importância, porque o alteraram? Pela parte que me toca reduzi brutalmente o número de livros que comprava. Já que é por motivos editoriais, a minha resposta vai como consumidor.
      A aberração ortográfica para já só entra em vigor na choldra, os países africanos optam por manobras dilatórias ou nem o ractificaram, até mesmo o Brasil coloca dúvidas, mas os seguidistas do costume vão a reboque de tudo o que lhes impingem…

      • P. Silva says:

        “Ractificaram” é lindo. Confronte-se com “dilatórias”, a três palavras de distância, e convoque-se o aventador Nabais para nos explicar novamente a importância suprema da escrita das consoantes mudas para manter a “identidade” da nossa língua.

        Daqui a uns anos, os que hoje aprendem com a nova grafia hão de rir-se, e bem, com as tentativas de justificar com as mudanças ocorridas as críticas a este AO. Fossem quais fossem, as críticas seriam as mesmas. Parabéns ao autor do texto.

    • António Fernando Nabais says:

      A língua, falada ou escrita, é toda ela convencional. O facto de ser convencional não significa que se possa modificar de qualquer maneira, penso eu. Se não for assim, e saindo da ortografia, o que me impede de passar a chamar autocarro à mesa da sala? Ao princípio, as pessoas estranhariam frases como “Todos para o autocarro, que o jantar está pronto!” ou “Tira os cotovelos do autocarro!”; com o tempo, passaria a ser natural e ainda bem, porque uma mesa, afinal, é o meio de transporte de refeições. Afinal, palavras como “dédalo”, “anfitrião”, “sósia” ou “macadame” começaram por ser nomes próprios. Será que vale tudo ou qualquer coisa?
      Finalmente, gostaria que a Rosa explicasse quais foram as modificações ocorridas na língua portuguesa que justificam as alterações propostas pelo AO90, a não ser que a ortografia deva oscilar só porque sim.

      • António Fernando Nabais says:

        Apesar de ser só uma convenção e de não atrapalhar a compreensão, espero eu, lamento a repetição próxima de “afinal”.

      • A de 1940 oscilou porquê? já não digo a de 1911, que antes dela nem havia uma oficial.
        Quanto ao teu exemplo, teve a sua graça, mas um Mestre já tinha tratado do assunto:

        • António Fernando Nabais says:

          Não houve, nem poderia haver, oscilações suficientes para que, em cem anos, se tivessem feito três reformas ortográficas, o que responde, penso eu, à tua pergunta. Os que se dedicam a criticar com seriedade o AO90 defendem apenas que se mantenha, apesar de tudo, a reforma de 1945, porque, comparando as duas mais recentes, constitui um documento mais consistente.
          Nem me passava pela cabeça que a minha brincadeira sobre as convenções fosse original ou magistral, até porque, para além do Buñuel, já Catulo e Marcial e outros ainda mais velhos se tinham dedicado a isso. Agora, deixa-me ir apanhar a mesa para a Boavista, que já estou farto de estar aqui na paragem.

          • pedro barros says:

            Então, “se não houve oscilações suficientes para que em cem anos se tivessem feito três reformas ortográficas” (e não foram três, foram quatro: 1911, 1945, 1973, 1990) , porque é que escreve respeitando e achando que são todas elas foram boas menos a última? Se quiser ser consequente com o seu puritanismo/moralismo ortográfico (melhor, orthographico) então escreva “pharmácia”, e “fôrma”, e “pèzinho”.

          • António Fernando Nabais says:

            Ó pedro, mas quando será que o menino acerta uma?
            Estarei sempre aqui para o ajudar, porque a minha costela de pedagogo a isso me obriga.
            Eu não acho que sejam todas boas, pedro, nem isso me interessa. Embora, em abstracto, não me ferisse regressar à grafia de 1911, penso que nem se deve colocar essa hipótese, porque implicaria demasiada instabilidade (os que defendem que a ortografia é uma coisa sem importância não se preocupam com isso). Interessa-me apenas comparar as duas últimas, contribuindo para escolher, enquanto é tempo, a melhor (não a perfeita, a melhor). Depois de tudo o que li, concluí que a melhor é a de 1945. Muito gostaria eu de ver o pedro demonstrar que a melhor é a de 1990, mas demonstrar implica estudar e pensar.
            Moralismo/puritanismo ortográfico é tão engraçado, pedro. Até parece que sou uma velhota assustada por ver palavras despidas de consoantes mudas, credo! Não, pedro, nada disso: aquilo que escrevo resulta, apesar das minhas insuficiências, de estudo e de reflexão, palavras que lhe são estranhas, porque pensa que debater ortografia é o mesmo que estar em claques de clubes rivais.
            Em 1973, houve uma reforma de direito, mas não de facto: tratou-se de um ajuste à de 1945, eliminando acentos graves que, provavelmente, não deveriam ter sido eliminados, sempre com o objectivo de aproximar as grafias brasileira e portuguesa.
            Pronto, pedro, vá lá juntar-se aos seus amigos dos Ultra-AO para combinar os gritos de guerra para a próxima jornada. Ugh!

  2. joão lopes says:

    na nova ortografia e aproveitando o tema quente do momento ,ou seja a TAP,hoje é o ultimo dia que se pode dizer hospedeira de bordo,a partir de amanhã todos temos que dizer:aeromoça…e viva as modernices porque sim.

  3. bom texto.

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