Foto@Jornal de Negócios
Passaram nove anos entre a primeira denúncia do Caso Freeport (2005) e a detenção de José Sócrates no ano passado. Durante todo esse tempo, o agora prisioneiro nº 44 do estabelecimento prisional de Évora conseguiu aguentar com os inúmeros casos em que foi sendo implicado até que uma decisão judicial envolta em polémica o colocou atrás das grades. Desde então, e entre autocarros de apoiantes e hinos de agradecimento, tem havido uma autêntica romaria das mais destacadas personalidades socialistas até ao cárcere onde o “menino de ouro” de Dias Loureiro se encontra detido. O futuro é incerto, mas suspeito que não há-de demorar muito até estar cá fora e, quem sabe, vir ainda um dia a exercer funções em Belém. Se Cavaco Silva lá passou dois mandatos, não vejo motivo para que Sócrates não o possa fazer também.
Vem isto a propósito de um seu par com nome de imperador, Marco António Costa (MAC), enfrentar por estes dias uma denúncia que vai assumindo contornos de caso de polícia com potencial para adaptação cinematográfica. Após a denúncia pública de Paulo Vieira da Silva (PVS) sobre uma alegada e complexa rede de tráfico de influências comandada por MAC – Marco António Costa – O Alpinista Político, os SHM (Seus Homens de Mão) e a sua rede – que seguiu para a PJ e para a PGR, o cerco vem-se apertando em torno deste que é um dos homens fortes (SHM?) de Pedro Passos Coelho e a quem é atribuída a célebre frase “Ou há eleições no país, ou há eleições no PSD“. Acabou por haver eleições no país, Passos Coelho subiu ao poder e levou consigo MAC, a quem entregou uma secretaria de Estado onde viria a ser substituído por Agostinho Branquinho, um dos alegados “homens de mão” de MAC e personagem envolta numa imensa neblina que começa na Webrand, passa pela Ongoing e pela loja maçónica Mozart e termina num hospital privado em Valongo, autarquia onde MAC começou a sua escalada. Voltarei ao discreto Agostinho Branquinho numa outra ocasião. Há ali matéria para escrever um livro.
Voltando a MAC e à introdução socrática, suspeito que a expectável queda do PSD nas Legislativas deste ano faça explodir a bolha de actimel que envolve aqueles a quem o longo braço do poder protege, tal como protegeu Sócrates durante os 6 anos em que foi primeiro-ministro. A confirmar-se este cenário, e com os socialistas no poder, o tabuleiro pode bem vir a inverter-se e o PS que ainda é de Sócrates, apesar de liderado por António Costa, poderá vir a ceder à tentação de mover esforços para dar o troco e quem mais do que fazer oposição, mantêm um cerco apertado ao recluso eborense. Remetidos à oposição, fragmentados e a caminho de novas lutas internas pelo poder, os sociais-democratas não conseguirão proteger MAC de uma investigação ainda mais incisiva. A comunicação social fará o resto. Resta saber quem assumirá o papel do SOL e do CM.
Feito o exercício de futurologia, com as lacunas que são inerentes a este tipo de coisas, olhemos para a peça da Visão desta semana (resumo do conteúdo publicado na edição em papel), que volta a trazer à tona a Webrand, a agência de publicidade envolta em suspeitas de sobrefacturação, facturas falsas, fuga ao fisco e outras falcatruas em negócios que teve com o PSD no ano de 2009, por ocasião das três eleições realizadas nesse ano. Propriedade de Cristina Ferreira, uma amiga de infância de MAC que também trabalhou na sua candidatura à distrital do Porto, a Webrand assiste novamente ao apertar do cerco. Depois de ter facturado milhões (literalmente) com as campanhas sociais-democratas, a empresa encontra-se à beira da insolvência, mas já tem o parecer favorável das Finanças para recorrer ao Plano Especial de Revitalização (PER). Para quem tanto fala em rigor, o PSD escolheu, por inúmeras vezes, um parceiro que não parece abonar em favor do termo. Tal como o governo de Passos Coelho.
Mas as ligações suspeitas às Finanças não ficam por aqui. Em Setembro, a PGR investigou a suspeitas de interferências políticas numa alegada “prescrição” de dívidas fiscais do universo da WeBrand relativas a 2008 e 2009, que segundo a Visão ascendiam a aproximadamente um milhão de euros. A empresa de Cristina Ferreira acabaria por pagar um valor irrisório. Mas verdadeiramente singular foi o facto da decisão ter sido validada por Telmo Tavares, o director de Finanças do Porto nomeado por Maria Luís Albuquerque num Domingo, que mal chegou ao gabinete tratou de transferir os técnicos e inspectores tributários que trabalhavam nesta investigação à Webrand para outras funções.
Curioso que tenha sido precisamente Telmo Tavares a assinar o relatório que sustentou o caso Face Oculta e que agora se veja associado à “Face Oculta do PSD” como lhe chamou Miguel Carvalho da Visão. Uma face cada vez menos oculta à medida que as peças deste puzzle vão emergindo e encaixando na alegada rede dos “homens de mão” de MAC, e que segundo a Visão incluem o “discreto” Agostinho Branquinho, que “avaliou a relação (da Webrand) com o PSD como “muito positiva” e “gratificante” e elogiou a “total disponibilidade” da empresa “para ultrapassar as questões que vão sendo colocadas“”, Virgílio Macedo, sucessor de MAC na distrital do PSD e autor de uma interessante ode ao tacho, o homem que Cristina Ferreira pressionava quando os sociais-democratas se atrasavam com os pagamentos, e Adriano Rafael Moreira, um péssimo gestor público, hoje administrador da empresa pública que agrega a REFER e a Estradas de Portugal, que segundo a mesma publicação era visita habitual aos escritórios da Webrand e cuja chegada à Estradas de Portugal coincide com um ajuste directo feito ao escritório do advogado Bolota Belchior, em linha com as práticas denunciadas por PVS:
“Também curioso é o facto de Bolota Belchior, bem como a sua Sociedade de Advogados, a partir dessa altura, passar a ter dezenas de avenças chorudas, através de ajustes directos, com diversas autarquias e empresas municipais no Distrito do Porto e ao longo do País, bem como com várias empresas públicas, nomeadamente muito recentemente uma com as Estradas de Portugal. É curioso que esta avença coincide, mais ou menos temporalmente, com o facto de Adriano Rafael Moreira, mais um dos “ homens de mão “ de Marco António, ter assumido funções na Administração desta empresa pública.”
Como me disse um amigo, “um tipo dá um pontapé numa pedra e aparece o Marco António Costa e os seus amigos“. Amigos ou “homens de mão”? Fica a dúvida que esperamos ver esclarecida pela investigação em curso. Por agora, e tal como o ex-primeiro-ministro, também MAC se encontra cercado. Mas as pontas soltas começam a ser muitas e há um aroma de desfecho socrático no ar. E Évora ali tão perto…
Se é para cercar todos, ainda bem, só temo que sejam seletivos e as chamuscadelas de uns sejam apenas para se escancarar portas a outros que também se querem servir como imperadores.
Acha portanto que MAC será uma vítima arrastada para este caso?
Não sei, no binómio política/justiça nunca estou convencido do desfecho. Sempre pensei que Portas seria apanhado há uns anos atrás e nada. Sempre acreditei que Sócrates nunca seria incomodado e veja-se o estado das coisas
Mas o Sócrates está lá dentro. O que na nossa realidade é basicamente a mais surpreendente decisão de sempre da justiça!
Vítima? Por favor chame lhe outro nome.
Esperemos que com tem acontecido nos ultimos casos, o facto de ser da “casa” não trave os procuradores do DCIAP de avançar com as “provas” mesmo que escassas. A mulher de Cesar precisa de alem de séria parecer séria. E a das camaras a volta do Porto a seriedade não tem sido a marca que mais sobressai.
E se a seriedade não tem sido o forte em muitas autarquias do Porto, a explicação para muitos desses casos pode estar nesta alegada rede. Aguardemos.
porque ainda não foi preso?
Faço a mesma pergunta porque razão? Super Juiz seja honesto com o juramento que fez ?prenda Coelho, Mac, o homem dos submarinos e muitos outros.
Que o PSD Porto é um associação de amigos, isso é verdade. O que se decide no PSD Porto não é o melhor para o PSD, para o Porto ou para o Norte, mas sim a vontade de algum(uns). Os dirigentes do PSD Porto não têm vontade própria, fazem o que lhes mandam….