Democracia suspensa no CDS-PP?

Portas Castro

 

Que Paulo Portas possui um ascendente sobre o partido que lidera, já ninguém tem dúvidas. Liderou, abandonou a liderança e quando quis regressar o partido recebeu-o de braços abertos. Compreende-se: na história recente do “partido do táxi”, Paulo Portas rimou quase sempre com poder. Governou com Durão, transitou para o executivo hereditário de Santana Lopes e voltou à ribalta como Ministro dos Negócios Estrangeiros de Passos Coelho, a quem aplicou o truque da demissão irrevogável, emergindo como vice-primeiro-ministro do governo que em breve cessa funções. Pelo caminho ficou associado a inúmeros escândalos centristas, do caso Portucale aos submarinos, passando pelo estranho e mal explicado caso Jacinto Leite Capelo Rego. Sobreviveu a tudo e continua aí para as curvas.

Esta tarde porém, o “barão” centrista Ribeiro e Castro fez declarações polémicas à TSF, que não só colocam Portas como a direcção do CDS-PP em xeque. Segundo o antigo líder:

Fez-se tardiamente uma coligação que ainda não se sabe qual é o nome, que vai apresentar umas linhas programáticas que ninguém aprovou e discutiu, que também é uma coisa bizarra e estranha. Isto são erros.

A confirmarem-se estas declarações, estaremos perante uma de três hipóteses:

  1. Paulo Portas, eventualmente rodeado por um grupo restrito de militantes próximos de si, decidiu unilateralmente sobre a parte que compete ao CDS-PP no que às linhas programáticas da coligação diz respeito, não dando cavaco ao Conselho Nacional do partido;
  2. O CDS-PP não é tido nem achado no programa da coligação, limitando-se a aceitar um agenda imposta pelo PSD;
  3. Ribeiro e Castro está pura e simplesmente a mentir, o que se seria estranho porque seria facilmente desmentido pelos seus parceiros.

Nenhuma das três hipóteses abona a favor do partido. No caso pouco provável de Ribeiro e Castro estar a mentir, a vergonha circunscreve-se apenas a si. Já no caso igualmente pouco provável do poder de decisão estar totalmente concentrado nas mãos do PSD, tal significa que o CDS-PP mais não é que um instrumento eleitoral nas mãos dos sociais-democratas. Mas se Portas decidiu unilateralmente, a democracia no seio do CDS-PP poderá estar em causa e assumir contornos de farsa. Estará Portas de alguma forma a obedecer à sua consciência da tal forma que tal o force a agir à revelia do partido? Não seria a primeira vez.

Amanhã serão apresentadas as bases programáticas da coligação para as Legislativas deste Outono e as dúvidas sobre o papel do CDS-PP no processo multiplicam-se. Será que contam? Ou serão apenas um “anexo” do PSD, uma espécie de PEV desta coligação? Afinal de contas, era o próprio primeiro-ministro quem há dois meses atrás tentava “vender” a um grupo de empresários que o seu partido estava pronto para avançar sozinho para as Legislativas e que há pouco mais de um mês ainda manifestava dúvidas quanto ao benefício eleitoral de ir a votos com o CDS-PP. Haja harmonia na coligação!

Comments

  1. Hélder P. says:

    Qual democracia, ainda não percebeu o tipo de regime em vigor no Largo do Caldas? Uma dica, é o tipo de regime que lida muito bem com o culto da personalidade.

    O CDS-PP é o partido unipessoal e intransmissível do Paulinho das Feiras. Ele não o fundou, mas não obstante moldou-o à sua imagem. Ele vai e vem quando lhe apetece, põe e dispõe como lhe dá na real gana e o resto das ovelhinhas fazem mé mé para comerem do banquete da governação. Eles são o partido do contribuinte, o partidos dos pensionistas, o partido dos agricultores, da Nossa Senhora de Fátima … quando estão na oposição. Eles são tudo o que o Paulinho disser que tem de ser. E deixam de o ser com toda a naturalidade e de forma irrevogável no instante seguinte. O CDS-PP com Portas dá-me asco, o CDS-PP sem Portas dá-me pena de tão desorientados que ficam a chorar pelo “querido líder”, “presidente eterno”.

    • Fica no ar a questão: haverá vida (no CDS) após Portas?

      • Hélder P. says:

        Há pois, a vida a bordo de um táxi. Ou até de uma lambreta.
        Quo vadis, extrema-direita reaccionária portuguesa?!

  2. Ele não sobrevive. Ele é mantido vivo pelo voto e isso é que me revolta.

    • Não falta quem vote nele Alcídio. E não se admire se ele um dia for Presidente da República. Já terá faltado mais…

  3. Nightwish says:

    É o partido do tacho, por isso qualquer coisa está bem desde que fique com cargos para distribuir e contractos para fazer co sanguessugas.

  4. Compro programa informático que impeça a entrada das vozes de Cavaco Silva PPC e PP.
    Resposta ao Jornal do Fundão

  5. Nada que surpreenda. O CDS-PP vive, há quase 20 anos, num autoritarismo (interminável). Pode ser que depois das próximas eleições legislativas se comece a respirar liberdade num partido que tanto se pugna por ela (aliás, uma das grandes razões para serem contra a aprovação da Constituição de 1976).

Trackbacks

  1. […] do partido e convém lembrar que o líder que fez a travessia do deserto foi precisamente Ribeiro e Castro, que contudo nunca foi a votos. Com a liderança de Paulo Portas um mau resultado em 2005, para ser […]

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