E se isto tivesse acontecido na Rússia, na Venezuela ou no Irão? (VII)

Se isto tivesse acontecido na Rússia, na Venezuela ou no Irão, os unicórnios moralistas, hipócritas e facciosos do costume teriam berrado a sua indignação e dissertado eloquentemente sobre o fim do mundo que se aproximava por não haver mão nessa esquerdalhada bárbara. Aprove-se mais um pacote de sanções, endureça-se o embargo, promova-se o isolamento e treinem-se mais uns terroristas para desgastar o inimigo.

No entanto, esta triste cena passa-se nessa distinta e auto-intitulada pátria da democracia que são os Estados Unidos da América e o vídeo é ilustrativo das práticas levadas a cabo por polícias aparentemente treinados para manter a sociedade numa espécie de ordem que se assemelha em parte a alguns relatos que nos chegam da Rússia, do Irão, da Venezuela ou mesmo da Coreia do Norte. Talvez seja algo que os nossos parceiros da Aliança Atlântica tenham vindo a aprender com os carniceiros sauditas, os tais que até querem presidir ao Conselho de Direitos Humanos da ONU apesar do vibrante negócio de tortura e morte que tão bem caracteriza aquele país de fundamentalistas.

Aos 03:10 minutos deste vídeo, a brutalidade destes polícias texanos atinge proporções que fariam corar qualquer operacional da Guarda Revolucionária Iraniana ou do FSB. Após alguns minutos a espalhar o medo e o autoritarismo opressor entre os perigosíssimos adolescentes que podemos ver no vídeo, a forma como a besta policial agarra na jovem verdadeiramente indefesa, em trajes menores e sem qualquer indício de representar o mínimo perigo que fosse, é ilustrativa de um radicalismo que encontra parte da sua justificação na descriminação racial e numa tradição de violência policial cada vez mais presente desde que casos como o de Baltimore se começaram a multiplicar pelos EUA. O agente agressor é de tal forma irascível que quando alguns jovens tentam evitar a violência desproporcional exercida sobre a jovem, a besta não hesita em sacar a arma para mostrar aos miúdos quem é o animal que ocupa ali o topo da cadeia alimentar.

E são estes tipos que andam pelo mundo fora com os seus exércitos a exigir respeito por direitos humanos, a invadir e a bombardear quem aparentemente viola as liberdades de terceiros oprimidos, para depois permitirem que os seus polícias distribuam violência gratuita, particularmente reincidente quando do outro lado estão afro-americanos, mesmo que isso signifique agarrar numa adolescente em bikini pelos cabelos, espetar com ela não chão e imobilizá-la como se de um animal selvagem se tratasse. Se isto tivesse acontecido na Rússia, na Venezuela ou não Irão, o mundo “civilizado” estaria indignado. Como foi nos EUA, tal não passa de um dano colateral que deriva de uma forma muito singular de manutenção da ordem, que os coitados estão sempre sob ataque e jovens afro-americanas como esta representam uma gigantesca ameaça.

Comments

  1. Aventanias says:

    A javardice da polícia americana a fazer companhia à demagogia javarda de quem argumenta com o irrebatível por não ter acontecido.

  2. Parece que o polícia tinha acabado de salvar uma miúda de se atirar de um telhado e~de ter visto um homem dar um tiro na cabeça à frente da família. http://www.buzzfeed.com/claudiakoerner/mckinney-police-officer-filmed-in-pool-party-response-resign#.nuaNyWLz5
    A queixa sobre esta festa é que havia gente a saltar os muros para entrarem na festa.
    Na Rússia, na Venezuela e no Irão não há pool parties, mas há a mesma violência brutal da polícia.

  3. Reblogged this on O Retiro do Sossego.

  4. maria celeste ramos says:

    cow boy É COW-BOY – IRREVOGÁVEL ???

  5. JOHNFX says:

    Mais um diferença para os adorados regimes de João Mendes: O agente demitiu-se http://fox6now.com/2015/06/09/he-was-out-of-control-police-officer-resigns-after-texas-pool-party-chaos-caught-on-camera/

    Nos adorados regimes a família provavelmente seguiria o mesmo destino: calabouços.

    • Adorados? Adorados por quem? Por si? Deve ser, só pode.

      Demitiu-se porque foi exposto e pressionado pela opinião pública. Se nada disto tivesse sido filmado, o mais provável é que continuasse a espalhar a sua brutalidade por outras paragens.

      • JOHNFX says:

        Lá está, mais uma diferença para tríade de regimes: a pressão da opinião pública… só vem dar-me razão. São os travões democráticos, sejam eles institucionais ou da sociedade civil e que não existem ou funcionam muito mal nessas outras paragens.
        Nas outras paragens o rapaz que estava de telemóvel em punho nem se atreveria a colocar a mão no bolso para puxar dele…

  6. “espetar com ela não chão e imobilizá-la como se de um animal selvagem se tratasse. Se isto tivesse acontecido na Rússia, na Venezuela ou não Irão,” Boa noite, porque escreveste não duas vezes em vez de no? Desconhecia este acto pidesco. Penso que a resposta do movimento que se tem erguido fará acabar com isto, mais tarde ou mais cedo. Esperemos que seja mais cedo do que tarde. Parabéns pelo texto.

Trackbacks

  1. […] Ontem escrevi sobre o episódio de violência policial que culminou com a agressão desproporcionada…, uma agressão levada a cabo por um troglodita com uniforme de agente da autoridade que naquele cenário, em que vários adolescentes são tratados arbitrariamente como delinquentes, se apresenta como um fanático totalitário a mostrar aos miúdos quem manda, se necessário de arma na mão. Com os exemplos de violência que vêm de cima neste país, não admira a frequência com que atentados com armas de fogo são levados a cabo por outros adolescentes nas suas escolas. […]

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