Paula Teixeira da Cruz: não é erro o que foi propositado mas é profundamente errado

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Lembram-se da campanha eleitoral para as europeias de 2009 quando Elisa Ferreira, de visita ao  bairro do Viso, no Porto, afirmou que «pintaram os bairros sociais mas esqueceram-se de dizer que o dinheiro é do Estado, é do PS»? Eu recordo-me perfeitamente e também me lembro muito bem de quanto o PSD e o CDS cavalgaram esta afirmação durante a campanha.

Esta declaração, quando comparada com o caso de Paula Teixeira da Cruz,  que documenta preto no branco o uso do estado pelo PSD, sendo grave, torna-se uma coisa menor, face a quanto é errado mandar directores gerais estudarem o programa eleitoral de outro partido.

“É um erro, foi um erro e todos cometem erros”, disse ontem Paula Teixeira da Cruz aos jornalistas. Seguindo esta linha de pensamento, todos os erros têm consequências e a porta da rua é tão boa como qualquer outra. Mas acontece que não é apenas errado o que ela fez, mandou fazer ou que esteja a fazer ao segurar quem o fez. É profundamente errado usar o estado para fins partidários e, quando excepcionalmente até há prova disso, deve existir punição exemplar. Se é preciso dizer isto a uma ministra, então ela não tem dignidade para o cargo que ocupa.

É altura de trazer à discussão, também, as atitudes e acções de diversos protagonistas. Onde está Cavaco Silva, esse que jurou cumprir e fazer cumprir o regular funcionamento das instituições, algo que manifestamente não se verifica quando um ministério coloca o estado ao serviço de um partido?

Onde pára a indignação de Maria João Marques, que até deu origem a frases interrogativas acompanhadas de três exclamações no caso de Elisa Ferreira? E o moralismo de Helena Matos, será selectivo? E Vítor tiro rápido Cunha não tem nada a acrescentar?

A lista poderia continuar mas basta espreitar o entusiasmo que houve por ali e por acolá para se concluir uma de duas coisas. Ou esta gente tem a moral de uma gelatina ou assistiremos a um violento repúdio público quanto ao que Paula Teixeira da Cruz fez.

Paula Teixeira da Cruz, a inenarrável ministra e sócia da FCB&A Sociedade de Advogados, não necessariamente por esta ordem, que manipulou dados sobre a pedofilia, reincidindo no tema das listas de pedófilos a cada safanão;  a governante que arranjou um bode expiatório para a sua incompetência quanto à reforma da justiça, que não percebe o alcance das suas próprias políticas; e agora a representante do estado que o colocou ao serviço do seu partido. Chega, e sobra, para ficar demonstrado que não serve.

Imagem: Telejornal de 2015-06-26, ao minuto 36.

Comments

  1. Nightwish says:

    É evidente que é um erro, mas normalmente as pessoas demitem-se ao primeiro, não continuam depois de três como se tivessem um mandato divino.

  2. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Andamos claramente a “trocar repetidos” sobre esta matéria num “blá, blá, blá” que começa a cansar. Vejamos.

    Cavaco Silva faz do silêncio a mais forte arma de comunicação. O ex-empregado do Estado Novo limita-se a …”não comentar” todas as desgraças do governo e quando comenta, actua como um qualquer Goebbels ou o seu venerado SNI, quando o tema é a Grécia ou o anúncio de mais uma mentira governamental. Nada de novo de Belém, excepto a condecoração do costureiro da madame.
    Não se esqueçam que este senhor teve quatro (4) maiorias absolutas.
    Onde está a admiração?

    Não me preocupa o falso moralismo da Maria João Marques, Helena Matos e Vítor Cunha, juntos ou separados. Vou mais longe: PSD é exactamente igual ao PS nos tiques de “democracia” e nos dislates. Duas gotas de água. Vamos atrás aos governos de Sócrates, Guterres e Mário Soares e tiramos casos destes, copiados a papel químico.

    A ministra, depois das referidas manipulações e das graves asneiras que vem cometendo, pegando-se com tudo e todos, pondo um dos pilares da democracia em “tremor de terra” constante e alheando-se do não funcionamento da SUA Justiça, meteu o pé na poça e o PS, nomeadamente quando era governo e Sócrates fazia as suas tropelias, aproveita-se da situação, procedendo do mesmo modo que o PSD.
    Onde está a admiração?

    O erro é pensar que o rosa vai ser diferente do laranja… Como se quarenta anos de frustrações sucessivas ainda não tivessem aberto os olhos aos votantes.
    Gosto muito destas cores, mas é no jardim…

    • j. manuel cordeiro says:

      Não será por outros o fazerem que esta pode passar incólume.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        Não lê em parte nenhuma do que escrevi que defendo que este dislate passe incólume. A minha questão é outra: Podemo-nos admirar da postura do presidente, ou dos contenciosos deste tipo quando eles constituem um constante “déjà vu”, seja qual for o governo?

    • Carlos de Sá says:

      As minhas desculpas pela inabilidade, isto saiu fora do sitio:
      Pois, convém mesmo misturar alhos e bugalhos, e de permeio atirar com mais umas mentiras para soldar essa barafunda. Ou tem casos concretos, de uma actuação semelhante (repare que disse semelhante) nos governos de Soares, Guterres ou mesmo Sócrates? Há que distinguir o grau da bandalheira, e não tomar a nuvem por Juno.

      • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

        O termo que usa, ” mentiras”, para além de inconsistente é factualmente mentiroso, pois não cito casos, coisa que aliás me pede. Portanto não posso mentir sobre coisas que não proferi.
        Refiro uma opinião, um direito consagrado e, segundo a qual repito, não vejo diferença de actuação entre esta casta laranja (com tons de azul) e a rosa.
        O facto mais esclarecedor do que afirmo, está no estado a que Portugal chegou, como resultado de administrações corruptas e incompetentes que, como deve saber, por aqui andam há 40 anos em baile de alternância.
        Duvidar disto é que é tomar a nuvem por Juno.
        Um caso apenas cito: Quem transforma as SCUTS em estradas com portagens, sacando indefinidamente dinheiro aos utilizadores, numa obra financiada pela Comissão Europeia, está a praticar um acto de perfeita bandalheira (usando o seu termo) que nos vai directamente ao bolso. Este caso, para mim, foi de tal modo gritante que deu para perceber que esta casta de políticos não difere, nem no fundo, nem na forma, no método como praticam a bandalheira.

  3. j. manuel cordeiro says:

    E o deputado CAA, nada a acrescentar?

    “CAA
    9 Maio, 2009 20:22
    Absolutamente inacreditável. Essa não é a Elisa Ferreira que conheço. Estão a perder o tino.”

    http://blasfemias.net/2009/05/09/como-diz-que-disse/#comment-141455

  4. Reblogged this on O Retiro do Sossego.

  5. Carlos de Sá says:

    Pois, convém mesmo misturar alhos e bugalhos, e de permeio atirar com mais umas mentiras para soldar essa barafunda. Ou tem casos concretos, de uma actuação semelhante (repare que disse semelhante) nos governos de Soares, Guterres ou mesmo Sócrates? Há que distinguir o grau da bandalheira, e não tomar a nuvem por Juno.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Deixei-lhe a resposta que solicita a este mesmo ponto num outro local.
      Só para terminar: não há bandalheiras mais leves e bandalheiras mais pesadas. Um bandalheira é e será sempre uma bandalhalheira e deverá sempre merecer o repúdio de quem se diz democrata..
      Cumprimentos.

  6. PROCESSO N.º 1416/15.3T9CBR e PROCESSO N.º 1306/15.0T9CBR :
    Um país nunca poderá ser uma Democracia sem ser também um “Estado de Direito”. Ora, Portugal não é um “Estado de Direito”, logo também não é uma Democracia.
    – Em Portugal existem, de facto, pessoas e empresas ACIMA da Lei.

    – A violação da Lei faz-se às claras e pela mão dos próprios magistrados, causando milhares de tratamentos DESIGUAIS, em que se favorece SEMPRE os mesmos: quem mais poder tem.
    No link está um exemplo, claro e indesmentível… que dura há 20 anos: http://lenocinio169.blogspot.pt

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