Manipulação da opinião pública: a lição grega

All seeing sheep

Para além de todos os chavões, de todas as mentiras, de toda a manipulação e do esforço colossal que determinados sectores encostados ao regime têm levado a cabo para instituir a narrativa do pensamento único, aquela que coloca a responsabilidade da crise sobre os ombros do Syriza, ilibando os verdadeiros responsáveis – PASOK, Nova Democracia, FMI, supervisão comunitária e restantes jahidistas financeiros – e transformando a situação actual num embate entre os caloteiros que não querem pagar e os honrados regimes europeus que se submetem religiosamente à candura dos mercados, a verdade é que tudo junto se tem revelado, até ao momento, insuficiente para tombar o governo grego.

Vai daí entramos na fase em que manipulação da opinião pública é aprofundada. O caso revelado ontem pelo site infoGrécia conta-nos a história da sondagem efectuada pelo instituto grego GPO, uma sondagem que a própria entidade afirmou estar incompleta mas que foi imediatamente difundida pelos meios de comunicação próximos das posições anti-Syriza como uma verdade absoluta. E porquê? Por ser a única que dá a vitória ao Sim no referendo deste Domingo. O instituto GPO difundiu prontamente uma mensagem na qual dá conta do referido e acrescenta que “não se responsabiliza pela publicação e irá desenvolver as acções legais necessárias para proteger os seus interesses” (declarações reproduzidas pelo infoGrécia a partir do comunicado original).

Claro que, entre chavões, mentiras e manipulações, esta subversão da realidade passou como facto para muitos daqueles que leram notícias e declarações baseadas nestes dados aldrabados. E assim se manipula a opinião pública de forma deliberada. Vale tudo para derrubar o governo grego.

Comments

  1. O texto acrescenta alguns detalhes, mas o excelente desenho quase chegava para mostrar quem manda neste mundo, e com tal habilidade que nós vamos atrás (cantando e rindo), como carneirinhos obedientes e crédulos.

  2. Seria suposto pensar-se que, na sociedade da informação a entrar na sociedade do conhecimento, tudo fosse diferente.

    Mas não é. Por baixo de tanta transformação há algo que não muda – a propaganda, a chantagem, a hipocrisia e os donos disto tudo. Um retorno constante ao medievalismo, aos lords of the manor e aos servos da gleba.

    No séc XXI, toda a propaganda e chantagem torna-se mais pornográfica- alguma percentagem dos servos da gleba tiveram a permissão de entrar no castelo. E os bobos da corte proliferaram.

  3. Eduardo Gaspar says:

    Vivemos, neste Século XXI, na chamada sociedade da informação. Todavia, existe um poder, por ventura obscuro, mas certamente ligado aos grandes interesses e ditames do grande capital que, através de diversos meios, tudo vem fazendo para a manipular e até para a sonegar. O texto que estou comentar é, relativamente a este facto, suficientemente esclarecedor. Mais conversa para quê? Precisamos, outrossim, de acções… e agora, penso eu, o que necessário é darmos um claro sinal ao povo grego que estamos com eles, que somos solidários!!…

  4. Filipe says:

    Estou de acordo com a existência de manipulação, que é evidente. Mas essa história da sondagem é um pouco estranha. O GPO emitiu um comunicado a dizer que os dados da sondagem tinham sido revelados sem o seu consentimento e que só tinham sido revelados parte dos dados. Mas qual é a outra parte dos dados? Porque é que os dados completos não foram revelados até agora? A sondagem era para ser divulgada antes do referendo, ou não?

    • Assumo que seria. Mas independentemente disso, parece-me um absurdo transformar dados parciais e verdades absolutas. A imprensa deve ser mais responsável que isso!

  5. Filipe says:

    Não estou de acordo com a manipulação, estou de acordo é que ela existe! Nada de confusões! 🙂

  6. Tiramos facilmente o ensinamento que as conclusões são por conta e risco do proprio. É redundante dividir entre “eles” e “nós” e até infantil. Verdade mesmo é que o que decidirmos somos nós os unicos responsaveis e não adianta depois (como fazem os hipocrita do BES) virem chantagear o resto da população para que paguemos. A decisão foi deles e agora assumam-na.
    O que devemos querer é que os escribas procurem dar uma imagem o mais aproximada possivel para que eu perceba melhor o que se passa em Atenas. Claro que quem já tomou lado vai querer mostrar que o seu amor vai melhor e é muito mais sério. Será? querer que o resto dos da UE paguem as más governações dos que lá estiveram dez anos e deste que em 5 meses já conseguiram por os gregos a receber as pensoes as meginhas e colocar os 18 paises contra eles e reber elogios da C.Lagarde e Shauble de incompetentes é sério? que tenho eu a ver que a culpa seja deste agora ou do que lá esteve antes? só devo pagar se for culpa dos outros? e se for deste já não tenho que pagar? parece-me que anda muita falacia nas narrativas que vou lendo. Mas as coclusoes sou eu que as assumo e sem desculpas de que o A ou B disse ou fez.

    • Claro que conseguiram. O hipotético sucesso do Syriza é o princípio do fim do reinado dos blocos centrais europeus. O actual governo grego foi entalado desde o dia que assumiu funções. Enfrentar o regime tem destas coisas.

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  1. […] da chantagem, da tentativa de ocultação de informação e da manipulação das sondagens, a democracia venceu na Grécia. Mesmo com os líderes europeus da corte de Merkel e os […]

  2. […] esmagadora do “não”, pelo menos para aqueles que alimentavam a especulação das sondagens fantasma que davam a vitória ao “sim”. Martin Schulz, o tal que para muitos representa a […]

  3. […] por isso um mês de mentiras e manipulações sobre o Syriza, em linha com o que aconteceu antes do referendo quando a imprensa e os fazedores de opinião encostados ao regime garantiam uma vitória folgada […]

  4. […] de Negócios, I e Diário de Notícias) encomendado pela cadeia televisiva MEGA ao instituto GPO, o tal que permitiu, pouco antes do referendo grego, que dados incompletos de uma sondagem por si fei…o SIM 4 pontos percentuais à frente do NÃO, tenham sido divulgados antes do tempo, dando origem a […]

  5. […] que, as sondagens valem mesmo o que valem. E às vezes valem muito pouco. Olhemos para a Grécia: por altura do referendo, todos os dias surgiam sondagens que resultavam em empates técnicos ou […]

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