Aconteceu mesmo, no Oeste

João Daniel Pereira

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A história que aqui se vai apresentar não é um mito urbano… Aconteceu mesmo, no Oeste, e NÃO numa Escola Pública!
Data: Quarta-feira, 17 de Junho de 2015.
Hora: Entre as 9.15 e as 9.30 horas.
Local: Um estabelecimento de ensino (NÃO uma Escola Pública), algures no Oeste.
Situação: Prova de exame nacional da disciplina de Português (12.º ano).
Depois de terem entrado nas salas, os alunos preenchiam os cabeçalhos das provas de exame, obviamente antes da entrega dos enunciados, o que só aconteceria, como está determinado, pontualmente, às 9.30 horas.
Eis que o inesperado acontece… Uma professora entra em cada uma das salas, chama a atenção dos alunos, explica o que é uma metonímia e retira-se em seguida.
Começa o exame e uma vez chegados ao grupo II, os alunos deparam-se com a pergunta 6: “Na expressão “paisagens olfativas” (linha 27), o autor utiliza: a) uma metonímia; b) um eufemismo; c) um paradoxo; d) uma sinestesia (isto na versão 1 porque na versão 2 foi: a) um eufemismo; b) uma sinestesia; c) uma metonímia; d) um paradoxo).
Ainda bem lembrados do que a professora lhes dissera minutos antes do início do exame, os alunos não têm dúvidas em assinalar a hipótese “metonímia” como resposta correcta – a) na versão 1 e c) na versão 2 da prova de exame.
Algumas horas depois de concluírem o exame, os alunos acedem ao sítio do IAVE e verificam, com surpresa, que a resposta correcta à pergunta 6 do grupo II da prova de exame de Português é, nem mais nem menos, que “sinestesia”. Manifestam o seu descontentamento uns com os outros e alguns confidenciam o que aconteceu a colegas de escolas públicas da mesma cidade.
Será que devemos culpar a professora por ter pretendido ajudar os alunos?
Ah… Esperem, há um pormenor: é que é RIGOROSAMENTE PROIBIDO prestar quaisquer esclarecimentos aos alunos durante a realização da prova de exame!
Ah… Mas esperem outra vez: Afinal, o esclarecimento foi dado antes do início da prova… Será que conta como ilegalidade?
Ah… Paremos os cavalos: como é que a professora sabia que a “metonímia” aparecia como possibilidade de escolha numa pergunta? Talvez porque ALGUÉM ABRIU OS ENVELOPES DAS PROVAS DE EXAME ANTES DO INÍCIO DA REALIZAÇÃO DA PROVA, O QUE É RIGOROSAMENTE PROIBIDO.
Ah… Mas alto e pára o baile: o que levou a professora a induzir os alunos em erro? Ah! terá sido porque não sabe a diferença entre uma metonímia e uma sinestesia?
E se a resposta fosse mesmo “metonímia” estaríamos aqui a contar esta história? Obviamente que não! Os alunos nada diriam porque sabiam que tinham sido beneficiados.
Para finalizar… Gente que é capaz de cometer esta ilegalidade, não está disponível para cometer outras, quiçá mais graves?
Já toda a gente percebeu a batota que por aí vai, nos exames e não só, no vale tudo para que o dinheiro dos contribuintes continue a pingar?

Comments

  1. Ora, ora, ora….

    Já no tempo do “Botas” havia “cóboiadas” destas.
    Não sei onde está a espantação !

  2. Enquanto a mentalidade dos portugueses for a do “desenrascanço” de qualquer maneira, Portugal continuará a ser um dos países mais atrasados da Europa.

    • o PPC desenrascou-se e lá está, vai para 4 anos inteirinhos…

  3. victor says:

    A ser verdade o que é descrito, a professora não se livra do apuramento da situação pela direcção da escola com consequências por parte do GAVE. Depois do que se fez neste país a seguir ao 25 de Abril, os exames nacionais do ensino secundário são dos poucos eventos que efectivamente funcionam cumprindo as regras….pautas de chamada, entrada e acompanhamento dos alunos até à carteira destinada, conferência dos elementos de identificação, dois professores a vigiar salas de 15 alunos, silêncio respeitado na sala, indicações claras sobre os elementos da prova (escritos no quadro à boa maneira antiga..) toques de entrada e saída e os alunos só saem da sala depois de conferidas e contadas todas as provas….já agora durante a prova ninguém entra ou sai da sala incluindo vigilantes excepto membros do secretariado de exames e elementos da inspecção do Gave…..naturalmente tudo isto na escola pública…..

    • É um colégio, pelo que se depreende do artigo. Não é impossível haver apuramento de responsabilidades, mas os inspectores não costumam passar por esses estabelecimentos.

      • Asterix says:

        Falso! Sou professor numa escola privada! Todos os procedimentos legalmente prescritos são “religiosamente” cumpridos e já fomos visitado muitas vezes por inspectores durante os exames! Se não sabe o que diz não diga disparates!

        • Luis says:

          É uma vergonha a forma como as escolas privadas tratam os seus professores, directores sem escrúpulos, sem formação para gerir recursos humanos, só se orientam por objectivos de lucro a curto prazo, é pior trabalhar nestas escolas do que em fábricas.

          • O que devia merser observação é que as escolas publicas foram parar atrás das privadas nos rankings, quando antes destes sabichões de defesa da escola publica dos ultimos 30 anos estavam até ao 34º lugar eram só os liceus oficiais

  4. Há inúmeras histórias destas. Qual é o resultado?

    As inspecções a “pressionarem” os professores corretores que ousam levantar estas questões a ficarem quietos e os processos a serem arquivados.

    A excelência da ausência das inspecções nos privados.

    Nas escolas públicas vão amiúde. E ai do professor vigilante (1 de 2) que seja apanhado sentado à frente dos alunos ou atrás, em vez de passar as 3h ou mais horas de 1 exame de pé, a circular pelas carteiras e a olhar para os alunos..,..

    Uma vergonha!

  5. Nightwish says:

    Enquanto o importante for saber marrar para os exames para ter sucesso, é inevitável.

  6. Esta história parece uma anedota (trágica!). Para além de tudo o mais, a professora de Português não soube distinguir uma metonímia de uma sinestesia?!?

  7. O que os alunos devem aprender (e que todos os eleitores também) é que só devem basear-se nos seus próprios critérios;ouvem e lêem tudo mas no fim fazem e assumem o seu próprio juízo.

  8. João says:

    Antes de mais não sei se a historia está bem contada ou não… mas o que esta escrito é “explica o que é uma metonímia e retira-se em seguida.” Portanto deduzo que a professora apenas explicou e não disse que a resposta era a X… Se a historia for a correcta os alunos foram demasiado lambões e nem ouviram a explicação e apenas ouviram a palavra “metonímia” e deduziram “erradamente” que a resposta era essa…

Trackbacks

  1. […] vamos ficando cansados de todos os anos se ir sabendo de situações de batota nos exames, mas que o MEC nunca investiga até às últimas consequências. Ai se fosse uma escola pública a […]

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