André Serpa Soares
Convergência. Esta é a palavra-chave que sempre me fez acreditar que é bom estar integrado na União Europeia.
Convergência no desenvolvimento e em tudo o que ele implica: educação, saúde, apoio social, qualidade de vida, poder de compra, aprofundamento da democracia, civismo, cultura, infraestruturas, livre circulação de pessoas e bens… Convergência.
A Europa partilha um espaço geográfico comum que, como se costuma dizer, vai do Atlântico aos Urais, da Escandinávia às ilhas mediterrâneas.
Partilha também, supostamente, uma tradição comum, histórica e filosófica, de ética e de valores.
A antiga Grécia, o Império Romano, o cristianismo, são pilares identitários comuns à maioria dos povos europeus. No entanto, existe na Europa uma enorme diversidade cultural, étnica e religiosa, aumentada pelos fluxos migratórios de outros povos e continentes, e esse multiculturalismo e abertura ao mundo é também um dos seus valores
A II Guerra Mundial e a separação do “velho continente” em dois blocos políticos (e sociais) não foram suficientes para abrir fracturas tão permanentes que impedissem a criação e desenvolvimento de uma consciência e de um “espaço europeu”, alargado ao longo dos anos.
E foi este desenvolvimento da consciência e do “espaço europeu” que levou os povos a transferirem parte da sua soberania para cinzentos “eurocratas” que nos conduziriam a todos, europeus, a uma convergência.
Seriamos mais próximos uns dos outros, os portugueses dos suecos, os gregos dos alemães, os malteses dos finlandeses, os ingleses dos franceses…
Durante alguns anos, enquanto a Europa tinha líderes que acreditavam e se empenhavam neste projecto de convergência, vivemos animados pelo sonho. Aproximámo-nos, tornámo-nos mais paritários com os nossos vizinhos de continente, aproximámo-nos da média. Beneficiámos, para isso, da solidariedade e do dinheiro dos mais ricos. É verdade. Mas também eles lucraram muito com isso. Devido ao mercado único, primeiro, e à moeda comum, depois, venderam mais, venderam melhor.
Os povos europeus que partiam atrasados neste projecto de convergência desperdiçaram muitas oportunidades e dinheiro, sim. A ilusão de facilidade, a corrupção e as negociatas, os interesses instalados nos aparelhos públicos e deles dependentes chuparam o mais que puderam sem quaisquer benefícios para os povos em geral ou para o desenvolvimento estrutural de cada um dos membros da União. Isto verificou-se em maior escala nuns países, que noutros, obviamente.
Mas a verdade é que todos foram convergindo. Até… 2008? Desde então, a Europa e quem a dirige entrou num corrupio de autodestruição. Os líderes europeus, aqueles que verdadeiramente mandam, com especial destaque para a Alemanha, esqueceram-se da palavra-chave: convergência. Tem de ser esse o escopo da União Europeia.
Infelizmente, muitos europeus passaram a divergir, a afastar-se dos níveis médios de vida na Europa. Por isso, a Europa está em retrocesso. A União em coma.
Aprecio e defendo a identidade, o universalismo e o humanismo portugueses. Mas sempre acreditei que, não abdicando deles, devíamos evoluir no sentido de uma maior integração europeia e, até, empenharmo-nos politicamente na construção do federalismo europeu.
Tenho cada vez mais dúvidas em relação a isso. E a culpa é de Schäuble e de mais meia dúzia de dirigentes europeus merdosos. O sonho europeu esfuma-se à nossa frente. E é pena. Era um sonho bonito.
“dois blocos políticos (e sociais) não foram suficientes para abrir fracturas tão permanentes”
As centenas de anos que antecederam esse período contam bastante mais.
De resto o começo também não foi em 2008, e também não me parece que tenha sido em 2002.
youtube um coelho com ideias
O que mudou? os malvados deixaram de mandar dinheiro e começaram a responsabilizar os governos nacionais pelos excessos de despesa e exigir garantias ,(que no caso da Grecia se justifica até que haja fiscalização externa tal a incompetência dos serviços nacionais) que as coisas andam direitas.
Todos em Portugal que visitam a Madeira ou acompanham as noticias, ficam banzados que o governo nacional tenha anulado durante dezenas de anos o défice e a bandalheira da governação do bananeiro e as obras faraónicas e compadrios ali verificados. Quando se trata das tetas da UE já gritam como donzelas puras em vez de culparem os responsáveis nacionais da forma mais eficiente: afastando-os no boletim de voto.
Ou falam por falar e têm todo o direito de dizer imbecilidades, mas melhor será consultarem os dados do eurostat, disponivel para todos e verificarem os factos, e não as ficções facciosas ,que vos mentem descaradamente e exploram a ignorância e crendice campónia.
Estranhamente, nem sequer no excel ainda alguém explicou como pode haver uma moeda única sem transferências de dinheiro.
Não se preocupe, o centrão responsável nunca viu nem nunca verá um voto meu nem o de alguma gente aqui.
«E foi este desenvolvimento da consciência e do “espaço europeu” que levou os povos a transferirem parte da sua soberania (…)»
Os povos? Ou as elites políticas? Quantos desses povos foram consultados acerca da entrada do seu país no Mercado Comum, CEE, UE?