Julho de 1989. Algures entre Rosário e Capelins (concelho do Alandroal) perto da ribeira do Lucefecit (sim, é mesmo assim o nome) e a sua foz no Guadiana. Eu, o José Perdigão e o António Bairinhas (colegas de trabalho, os dois do Redondo) andávamos à procura de um sítio cuja toponímia era indicativa de um sítio romano. Calor abrasador. Paramos o Land Rover (o caminho tinha acabado), e seguimos a pé. Algures do meio de nada encontramos um pastor, o seu cão e as respectivas ovelhas. Estavam numa pequena sombra (a acarrar, como se diz). Fazemos as perguntas da praxe, isto é, se há algumas ruínas, se há vestígios de “mouros”, lendas, etc. Após a interessante conversa, pergunto:
-Tem horas?
Olhou-me, e muito calmamente responde:
-Horas? Não! Tenho tempo!
Fiquei parado a pensar na resposta. Despedimo-nos e continuamos. Ainda hoje tenho na memória o seu rosto sereno a responder-me.
De antologia, esta resposta.
– Olá ti Manel Monte Nabo1
-Olá.
-Escute; estrada vai dar a onde?
-Olhe, vai dar até ao fim.
Pastor, Almodôvar,1986.