Portugal não é a Grécia mas o PS pode muito bem ser o próximo PASOK

Costa Messias

Não se percebe o que se passa no Largo do Rato. Trucidou-se o Seguro que até nem fez uma má travessia do deserto, construiu-se um enorme pedestal para D. António Sebastião Costa, apresentaram-se uma agenda para a década e um conjunto de propostas de política económica que até colheram alguns elogios à direita – ou não fossem elas escritas sob a batuta de um liberal assumido – e agora é assistir a este triste espectáculo de harakiri político. As sondagens desiludem e a campanha apresenta-se como uma sucessão de desastres até ao cada vez mais provável apocalipse final. Estará tudo doido?

O recente caso dos cartazes é algo que roça o inacreditável. Como é possível usarem-se pessoas sem a sua autorização e colá-las a histórias que nada tem que ver com elas? Será que as pessoas que dirigem a campanha do PS não conseguiam, num país arrasado pela precariedade, encontrar alguém que verdadeiramente estivesse a viver o drama do desemprego prolongado ou da emigração forçada e que estivesse disposto a dar a cara? Será que não anteciparam que entrar neste tipo de manipulações equivale a espetar com um míssil balístico no pé? Estas pessoas parecem ignorar o poder das redes sociais e a sua capacidade de transformar estes casos em anedotas virais. E o resultado está à vista: Edson Athayde debaixo de fogo, Ascenso Simões abandonou o barco e as tropas de Passos Coelho instrumentalizaram o caso com mestria, fazendo mesmo com que alguns portugueses se esquecessem que foram aldrabadas pelo primeiro-ministro na campanha de 2011.

É no mínimo bizarra a incapacidade do PS em usar as muitas mentiras com que Pedro Passos Coelho se fez eleger contra ele. Os anéis que não eram para vender, os impostos que não eram para a aumentar, os salários e as pensões que não eram para cortar. Haverá melhor argumento para destruir o que resta da credibilidade deste governo radical? A sério que ninguém pensou nisso? Passem por cá, o Aventar explica como se faz. Limpinho limpinho.

O Partido Socialista atravessa tempos conturbados. O caso Sócrates afunda-o, a pesada herança do anterior governo afunda-o, o alinhamento envergonhado com o diktat alemão afunda-o e esta campanha desastrosa poderá ser a estocada final num partido que se apresenta como alternativa apesar de se mostrar incapaz de descolar nas sondagens e de capitalizar com os erros e mentiras das pessoas no poder. Já vimos este filme na Grécia. Outrora um partido de poder, que se alternava com a Nova Democracia no governo, o PASOK é hoje um pequeno partido reduzido a 5% do eleitorado. Portugal pode não ser a Grécia mas o PS arrisca-se a ser o próximo PASOK. E já vai tarde.

P.S. Entretanto parece que os moralistas da direita também manipularam cartazes. A situação é diferente mas suspeito que a senhora no cartaz também não foi consultada.

Comments

  1. Rui Moringa says:

    Este PS enferma dos mesmos vícios do PSD. Foram capturados por interesses que vão para além da politica. Pelo poder financeiro e por seitas designadas com o eufemismo de sociedades discretas.
    Basta observar os indigitados para deputados que aparecem nas listas e as suas relações com escritórios de advogados e empresas.
    Basta observar quem são os frequentadores das lojas da viúva.
    E perguntar quem paga a festa das eleições-propaganda?
    E perguntar quem financia estes dois partidos e o CDS?
    Só cai quem quer ou quem é negligente.
    Já dei para este peditório…

  2. AntónioF says:

    Caro João Mendes,
    a esse desejo que formula está implicito um outro, o de que o BE possa, eleitoralmente, representar o que o Syriza representou na Grécia…

    Atendendo à realidade sociológica portuguesa permita-me o conselho: tire o cavalinho da chuva, ou se quiser, atendendo a que estamos em Agosto, tire o cavalinho do sol pois ainda pode apanhar uma insolação.

    P.S.: Quem diria, caro João Mendes, que a sua linha de argumentos é semelhante à dos seus amigos «insurgentes»:
    http://oinsurgente.org/2015/08/09/com-fianca/#comments

    • Que nem de propósito são também grandes apoiantes do Bloco. Boa AntónioF, apanhou-me!

      Por mim a mudança até pode ser com o Livre, com o Marinho Pinto ou com o PAN. Todos eles são melhores que o bloco central de negócios. E sim, eu sei, o cavalinho socialista tem gozado forte e feio do sol de Agosto mas quer-me parecer que os tempos que se avizinham são de tempestade. A colheita de décadas de ventos semeados. Pode ser que, contudo, ainda sobre um tacho para si, tenha fé! E confiança!

      • AntónioF says:

        Caro João Mendes,
        pelo contrário, não o apanhei, o João é que se apanhou a si próprio e presumo que se tenha estatelado por completo, ao cumprido!
        Sei perfeitamente, ou melhor – julgo saber, quais são as «águas» em que os ditos «insurgentes» se movem, daí ter dito que a sua linha de argumentos é em tudo a ela semelhante.
        Basta visitar esse blog e outros parecidos, de corrente ideológica semelhante, para se poder ler argumentos idênticos, quiçá – ou não – num melhor, ou pior, português, a essência é toda ela igual, daí, neste aspecto, a vossa… amizade.

        Não deixa de ser estranho que para o João, à esquerda, a mudança não se faz com o PCP. Curioso, não é? Na minha opnião este partido irá «papar» grande parte do eleitorado do BE.

        Caro João, sobre a sobra do sobredito tacho, presumo que sobre para si! Eu estou arredado de todo e qualquer movimento partidário, sou um cidadão livre e independente na plenitude da palavra. Os tachos que eu e a imensidade do português anónimo procura, são os tachos de cozinha para todos os dias poder ter que dar de comer aos filhos!

        • Não me revejo minimamente no Insurgente. O que não significa que não possa ocasionalmente concordar com algo que lá seja escrito. Mas não costuma acontecer, prefiro o Ladrões de Bicicletas.

          Eu disse que à esquerda a mudança não se faz com o PCP? Onde está isso escrito que eu não vi? E se eles vão ou não papar o eleitorado do BE, isso é o que veremos. Será a vontade popular, soberana. Mas sabe o que eu gostava? Gostava de ver o eleitorado de esquerda a fugir do PS para o PCP e o BE e que estes dois partidos se entendessem e procurassem alternativas comuns para fazer frente aos tempos difíceis que vivemos. Isso sim era algo que eu gostaria de ver.

          De resto caro senhor, o seu discurso é o discurso de um socialista zangado que não gostou do que leu. Paciência.

          • AntónioF says:

            Sobre o PCP, caro João Mendes, o João não disse nada, disse sim, como se recordará, que «a mudança até pode ser com o Livre, com o Marinho Pinto ou com o PAN» o que me levou a concluir que exclui esse partido de qualquer alternativa à esquerda.
            Adiante!
            O meu discurso não é de ninguém zangado, é sim de alguém que não delira perante os seus desejos e que tem presente, na sociedade portuguesa, o peso eleitoral de cada uma das forças partidárias.
            Digo-lhe, assim, quase com toda a certeza, que uma das forças partidárias que vai ser derrotada no próximo dia 4 de Outubro vai ser o BE (a outra seria o PP mas como fez um bom negócio isso não se vai ver). O eleitorado BE, em meu entendimento, vai-se deslocar em grande parte para o PCP. Por muito que deseje, caro João Mendes, a realidade portuguesa não permite o aparecimento de Syrizas.

            Sou uma pessoa independente de esquerda: já votei PS, já votei CDU e recentemente votei Livre. O meu voto foi sempre direccionado para quem, naquele momento, estivesse no lado certo da história! Curiosamente, nunca achei que o BE estivesse nesse lado!

          • AntónioF says:

            Pois…
            passado este tempo todo, caro João, – não sei se irá ler este comentário – venho dizer que, como o tempo se encarregou de esclarecer, me enganei nas minhas previsões. De facto não foi o BE o grande derrotado das últimas eleições – muito menos ser «papado» pelo PCP, foi sim um dos grande vencedores.
            Porém estava certo num ponto, a mudança à esquerda fez-se sim, graças ao PCP e às declarações do seu secretário-geral nessa noite. O que seria de Portugal se isso não tivesse sido feito? Teria o BE lançado um desafio idêntico quando no debate televisivo Costa – Catarina esta se mostrou reticente a tal cenário? (Recordo as razões fundacionais d’O Livre)
            Sim, Portugal mudou!
            Mudou para melhor, porque finalmente houve dois partidos que puxaram o PS para a esquerda, em vez de como tinha acontecido até então, o empurrar para direita!
            A solução para o futuro, em meu entender – vamos ver o que acontece – passa irremediavelmente pelo aprofundamento das relações entre estes três partidos de matrizes distintas.

    • Isso é paranóia. Eu referi esses 3 como poderia ter referido quaisquer 3. Imagino que o António F esteja habituado a tacticismos políticos que calculam cada vírgula que colocam numa frase mas bateu á porta errada.

      Eu não desejo não deixo de desejar coisa nenhuma. Aliás, até desejo: que os partidos do bloco central sejam reduzidos a pesos-pluma, para ver como se aguentam eles sem os milhões que recebem todos os anos do Estado e sem conseguir alimentar os boys todos. Ia ser uma festa! E não percebo porque raio me cola ao BE mas OK, com jeito estou a falar com um destes parolos da jota aqui da terra que não tem mais o que dizer. Mas é engraçado que eu também já votei em diferentes partidos, mediante, e vou usar o seu argumento, quem estivesse do lado que eu considerava o lado certo da história. E já vi o BE desse lado. Já o PS…

      • AntónioF says:

        Não, caro João Mendes, não está a falar com alguém habituado a tacticismos politicos, a politica não faz parte activa na minha vida, mas o rigor das palavras sim!

        Por falar em palvras, permita-me que lhe deixe estas, uma antiga – mas como verificará, presente – reflexão que, de certa forma, vai ao encontro, do anseio daquilo que escreve:
        «A questão é a do socialismo
        Abril, Fevereiro de 1976

        Do alto da sua tribuna, o presidente da Assembleia da República não vê a Nação: vê (quando estão todos) 263 deputados que, pela graça da aritmética, a representam. Está a Direita, está o Centro, está a Esquerda. Ninguém precisa de (se) interrogar sobre o que seja a Direita, ninguém acha oportuno averiguar se o Centro o é de facto, mas todos nos inquietamos com a Esquerda, com o passado, o presente e o futuro da Esquerda. Falta saber (o tempo o virá a dizer, por força) se essa inquietação é sinal de saúde ou de doença, da Esquerda e de quem para ela se volta interrogativo, com uma preocupação porventura autêntica, mas não destituída de algum comprazimento. Outra vez em Portugal se tornou mais fácil falar das coisas do que fazê-las, outra vez (passe a banalidade da alusão) cuidamos mais de discutir o sexo angélico do que de investigar os modos de levar os anjos a fazer filhos, sejam os ditos anjos machos ou fêmeas.
        A questão que importaria pôr (segundo entendo) não é a da Esquerda, mas a do Socialismo. E isto sabendo que mesmo a troca não esclareceria radicalmente o «objecto» em análise: afinal, se sobre a Esquerda muito se borda, sobre o Socialismo muito se remenda. Mas, neste nosso caso português, obrigados que fomos, durante duas gerações, a falar de Esquerda por não poder dizer Socialismo, mal me parece que voltemos a hábitos antigos: há aqui um (decerto) involuntário escamoteamento do problema central, talvez um gosto (escolástico?) de sabatina, um jogo floral que não será para passar o tempo, mas durante o qual o tempo passará irremediavelmente. Ora, se somos pobres de muita coisa, também o somos de tempo. E se não temos sido brilhantes administradores de divisas, pior o teremos sido dos nossos minutos.
        A questão, insisto, é a do Socialismo. E o Socialismo, dizem-no os manuais, e não poderia ser senão isso, é a propriedade colectiva dos meios de produção, e o mais que politicamente, ideologicamente e economicamente daí decorre, ou entretanto para aí concorreu. Posto o que (linear será, mas exacto) começa a tornar-se claro que a linha que separa a Esquerda da Direita, isto é, a fronteira que divide o campo político que quer o Socialismo do campo que o não quer, passa pelo interior do Partido Socialista. Não é isto novidade para ninguém, mas o inquérito obriga a repeti-lo.
        Desta maneira creio que se torna evidente um dos motivos da dificuldade de encontro e diálogo das forças políticas que se reclamam de Esquerda, e portanto de Socialismo: interclassista, como declaradamente o é e com algum oportunísmo se gaba, o Partido Socialista nunca poderia ser, todo ele, socialista. A questão do «socialismo democrático», tão agitada para lucros de propaganda eleitoral e proveitos de batalha ideológica, é uma falsa questão: juntar a «socíalismo» o adjectivo «democrático» não representa nem esclarecimento nem rigor nem adicionação de qualidade: é puro compromisso, é plataforma intima, é tentativa de conciliação entre classes dentro de um partido que, por isso mesmo, exibe ou esconde o seu programa consoante a parte do eleitorado a que se dirige.
        Por aqui se concluirá que, segundo entendo, a questão da Esquerda, logo a questão do Socialismo, tem de passar por uma definição do Partido Socialista no que toca ao lugar que ocupará (ou não) na futura luta, ou, se a linguagem parecer demasiado bélica, no futuro empenhamento das forças de Esquerda. A grande responsabilidade do Partido Socialista tem sido a de paralisar, pela sua mesma contradição intima, a irrecusável definição: é possível, por isso, afirmar que, no sentido mais rigoroso do termo, o Partido Socialista adiou o Socialismo, Porque o adiou dentro de si próprio.
        Imaginemos, porém, que a definição se faz, que coeso ou após divisão um Partido Socialista emerge, e o desenho político da Esquerda ganha nitidez suficiente e contorno organizável. Imaginemos, também, que, pelo contrário, todo o Partido Socialista se desloca para a direita, deixando, como pontualmente já deixou, nesse movimento, algumas franjas competentes mas sem relevância bastante para constituírem, elas, o Partido Socialista. No primeiro caso, teremos diante dos olhos, pela primeira vez desde Abril de 74, a expressão política real da vontade socialista global, conservando-se o esquema organizacional partidário nascido com a revolução; no segundo caso, veremos melhor e avaliaremos o tempo perdido, e também a dimensão do equívoco que foi a vida política portuguesa: saberemos que andámos a viver de palavras quando nos deveríamos ter alimentado muito mais de actos. Num caso e noutro, o relógio marcará a hora das decisões: definida a Esquerda (não fixada para o resto dos séculos, mas coerente e coincidente nas linhas básicas de um projecto comum), definir-se-á como força(s) política(s) para o Socialismo. Começaremos então a saber (ou saberei eu, se outros já o sabiam antes) do que andamos a falar.
        Mas uma coisa é possível adiantar desde já, e essa não é nova nem sequer específica do nosso País: a questão da hegemonia política partidária. O argumento já clássico entre nós (extensivo, até, ao sector sindical) é o duma pretensa hegemonização que o Partido Comunista procuraria estabelecer em todas as formas de aproximação com outras forças políticas. A afirmação faz-se uma e muitas vezes, e fica no ar, condiciona os juízos e portanto as decisões: é um sintoma da insegurança de quem assim se queixa ou acusa, de falta de confiança nos recursos próprios ou na sua consistência ideológica. Enquanto o fantasma da hegemonização não for afastado, a Esquerda (tomada, repito, como vontade socialista conjunta) não se aproximará, não será frente, não se empenhará conjuntamente como tal. Viverá díspersa como convém à Direita e, como à Direita convém, lutará entre si.
        Profundamente, essa é a crise da Esquerda, e o advérbio significa, neste lugar, que muito do que se passa na política portuguesa é do foro psicológico: andam por aí abundantes complexos de Édipo, fúrias assassinas contra o Pai, e frustrações de toda a ordem (não é por acaso que o processo político tem atraído tanto a atenção de psicanalistas, mas talvez não seja também por acaso que os próprios psicanalistas têm passado ao lado da questão essencial, que é, para o caso, e neste meu ver de leigo, a do Partido Comunista como agente de «produção psicológica», quer individualmente quer colectivamente).
        Mas existe de facto uma crise da Esquerda? É óbvio que sim. Porém, não se trata de uma crise mórbida, efeito de bactéria ou vírus introduzido num corpo saudável, e agora febril, também não é uma crise de crescimento, ou melhor, para o crescimento – a perturbação, o desconcerto, a desarmonia do corpo que invade cada vez mais o espaço e tem de adaptar-se a ele e a si próprio; será antes uma crise não de identidade, mas para a identidade. A Esquerda portuguesa, como um todo, não se conhece entre si, nem se reconhece no conjunto. Este é o obstáculo imediato, barreira que é necessário ultrapassar, sob pena grave: a de atirar para muito longe, por nossas próprias e inábeis mãos, a esperança do Socialismo.
        Encontremo-nos, pois, e confrontemos. Sabendo cada um o lugar que ocupa, agora, no sector da Esquerda que for o seu, sem sobrevalorização nem subvalorização do que, efectivamente, esse sector representar como expressão colectiva. E tenhamos em vista que o objectivo é o Socialismo. A Esquerda não é um fim em si, um modo vitimizante ou triunfalizante de estar no mundo: é uma estrutura, um ínstrumento, uma organização. Que, como todas as coisas, serão julgados pelos resultados. E nós de caminho.»

        SARAMAGO, José – Folhas políticas : 1976-1998. Lisboa : Caminho, 1999. p. 13, 16

  3. A barricada só tem dois lados, por muito que alguns queiram descobrir um terceira lado.
    O desaparecimento dessa tal terceira via é inevitável, como o foi com o tal eurocomunismo.

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