Empregos para os rapazes

Jobs

Já não há muito a acrescentar sobre os boys que gravitam e gravitaram em torno da governação da coligação PSD/CDS-PP. Liderado pelo homem que não queria ser eleito para dar emprego aos amigos, o actual governo fez milhares de nomeações, entre amigos e boys partidários, do ex-patrão de Passos Coelho na Urbe ao enxameamento da Segurança Social, passando pelos inúmeros assessores recrutados directamente nas fileiras da JSD e da JP que partilham a imunidade face à inevitável austeridade e que se passeiam em boas máquinas de alta cilindrada, com o alto patrocínio de um povo cada vez mais precário. A lista é imensa e está mais do que esmiuçada. Só não vê quem não quer e quem usa as palas azuis e laranjas.

Mas há sempre um episódio novo para contar. Porque apesar dos sacrifícios, apesar da reforma de Estado que não aconteceu, optando-se antes por insistir no aumento de impostos e nos cortes salariais, e apesar da violenta cruzada contra os direitos dos trabalhadores portugueses, “novilinguisticamente” designada por competitividade, continuam a existir paraísos laborais imunes a tudo isto, onde critérios como a competência, a experiência ou o mérito não são, na grande maioria dos casos, tidos em consideração. O caso da nomeação de supostos especialistas de 21 e 22 anos para a comissão de acompanhamento ao memorando da Troika é ilustrativo disso mesmo.

De acordo com o site do Dinheiro Vivo, o governo destruiu 72.694 empregos no sector público entre Dezembro de 2011 e Junho de 2015. Um corte que ronda os 10% da totalidade dos postos de trabalho da Administração Pública (AP) antes do período analisado. Acontece que, e o jornal cita a Síntese Estatística do Emprego Público, divulgada na passada Quinta-feira, o impacto destes cortes não foi sentido da mesma forma em todos os sectores da AP. Em contra-ciclo com extinção cega de postos de trabalho no sector público, os chamados cargos de confiança política, essencialmente nomeações para gabinetes ministeriais, comissões ou cargos políticos, escaparam à razia e até cresceram no período analisado: 27 contratações para gabinetes ministeriais (crescimento de 2,8%) e 140 para estruturas de missão (crescimento de 1,4%).

É expectável que, até ao final desta legislatura, ocorram mais nomeações. Existem muitos favores por pagar e a mama do Estado, generosa e farta, tem sempre espaço para mais um amigo da rapaziada que manda. Mas ainda que estes números possam parecer pouco relevantes, poderá aplicar-se aqui o mesmo princípio que se aplica ás imensas mordomias de que dispõe a nossa classe política: se é certo que não é o valor que se gasta em carros de luxo ou ajudas de custo principescas que terá impacto que se veja na situação do país, não é menos verdade que o exemplo que passa cá para fora é o pior. Como se podem pedir sacrifícios à maioria quando uma pequena elite continua a ver acima das possibilidades do país? Como pode um governo extinguir postos de trabalho de forma continuada enquanto os assessores e outros indivíduos importados da jota e da cúpula partidária se continuam a multiplicar pelo aparelho de Estado? Simples: porque somos uma sociedade mansa e engolimos estes abusos com a mesma facilidade como que engolimos a suposta inevitabilidade do nosso empobrecimento.

Não tem que ser assim.

Comments

  1. orquidea says:

    Pois è. Na verdade há muitos jobs for boys, Na verdade foram erradicados muitos postos de trabalho enquanto foram criados muitos outros para altos cargos que se destinaram aos amigalhaços. Tudo isto é injusto. Mas, já viu algum politico fazer diferente? Todos fazem o mesmo. Até no exercício de poder mais simples e mais próximo isso acontece.Primeiro a família e os amigos ou a simples troca de favores.
    É uma questão de cultura de honestidade que a humanidade ainda não requereu. Vejamos o que se passa nos outros países que estão na berra: Brasil ( e pensar que Lula era um operário com quem o povo se identificava ), Estados Unidos ( Thrump) nas sondagens bem cotado, Guiné Bissau, China ( com um capitalismo mitigado)… e por aí em diante.
    Precisamos é de uma mudança de paradigma no conceito político, de uma nova forma de fazer política mais próxima das pessoas. As injustiças, sejam elas quais forem, não são apanágio deste ou daquele partido. São ,sim de todos e mesmo de quem os elegem.

    • O facto de ser assim noutros pontos do globo não é argumento suficiente para que baixemos os braços. Posso nunca assistir a uma mudança no meu tempo de vida mas não será por isso que me resignarei.

      De resto é importante salientar que a experiência que tenho, enquanto português, é a de ver 3 partidos associados a este tipo de esquemas. Julgarei os restantes no dia em que chegarem ao poder. Por agora não o farei para agradar aqueles que se esforçam por colocar os restantes no mesmo saco que os seus.

  2. Filipe says:

    De facto, com o mal dos outros posso eu bem. Só gostava, se calhar é pedir muito, que um dia este país, possa dar um exemplo ao mundo, ao nível da politica.

  3. orquidea says:

    Quanto a mim não agrada nem desagrada. Não me revejo em nenhum partido, nem à esquerda nem à direita. Apenas me limito a observar e analisar o decorrer da ação e das opiniões. Quanto a baixar os braços também não o faço. Faço a política caseira à minha maneira e diariamente. Já não me desespero a tentar mudar aquilo que, por muito que tentem, nunca se conseguirá mudar, venha quem vier. Não acredito em milagres nem em deuses que mudem tudo à sua vontade e semelhança.
    O mundo foi, é e continuará a ser sempre assim. Os Homens serão sempre diferentes entre si e cada um terá sempre a sua opinião.

  4. Os postos criados pela anterior administração, comparada com esta, fazem inveja aos mais cépticos. Mas como sabemos todos os que pagamos impostos, fica-nos sempre muito caro quando os demagogos começam a brandir esses números do emprego, que criaram ou vão criar, porque apesar dos 72 694- 167 =72524 eliminados, teremos a noção, que para que os impostos possam baixar, teremos que privatizar muitos mais, ou então temos os serviços gratuitos, que todos acham que devem ter e pedimos dinheiro a Merkl ou transformamos os jardins e quintais em árvores das patacas; eu já plantei uma mas ainda não deu patacas!! Há uma terceira via mas de tão fantasiosa não a acho viável: reduzir os impostos e melhorar o ensino, saude e justiça gratuita..há e aumento das reformas!!!

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  1. […] Explica-se de forma muito simples. Medo de perder o poder e o que ele traz, nomeadamente, o enxameamento da administração pública. Em 2011, Passos Coelho garantiu que não ia enxamear a Administração Pública de quadros do PSD. Viu-se. […]

  2. […] e o homem que não queria ser eleito para dar emprego aos amigos foi tudo menos austero no que a empregos para os rapazes diz respeito. Para memória futura, é seguir este link que encontrei n’Uma Página Num Rede […]

  3. […] que o PSD tem sido uma “bengala útil” para Pacheco Pereira ganhar a vida.  O PSD tem sido efectivamente uma “bengala útil“, não para Pacheco Pereira mas para mui…. Duarte Marques concluiu, uma vez mais de forma genial, afirmando que o cartão de militante de […]

  4. […] sociais, que a poucos poupa, não causou indignação entre aqueles que assobiavam para o lado enquanto o anterior governo distribuía, a amigos e companheiros, por exemplo mas não só, centenas de nomeações na Segurança Social, mas que agora não perde a […]

  5. […] isto apesar de ter entupido a Segurança Social de boys dos partidos então no poder. Não faltaram empregos para os rapazes, fossem eles o ex-patrão do próprio Passos ou os famosos jovens jotinhas que, com as tenras […]

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