Fanatismo ideológico pós-eleitoral

WS MLA

Satisfeito com a recondução da coligação PSD/CDS-PP ao poder, Wolfgang Schäuble fez eco da narrativa de Jean-Claude Juncker, que na manhã seguinte ao acto eleitoral em Portugal afirmava, através do porta-voz da Comissão Europeia, que

Os resultados desta eleição confirmam o desejo da maioria dos portugueses em prosseguir o caminho das reformas.

O sinistro ministro das Finanças alemão, em linha com o seu funcionário luxemburguês, reforçou a ideia

Isto mostra que uma política pode ter sucesso, e ser apoiada por uma maioria, mesmo que imponha medidas duras à população.

Em sintonia com os anteriores, o impronunciável Jeroen Dijsselbloem, presidente do Europgrupo, referiu que

De alguma forma, são boas notícias que um Governo possa ganhar eleições depois de implementar medidas duras que eram necessárias.

E rematou

Não acho que haja razão para uma grande mudança de políticas actualmente.

A ver se nos entendemos: os resultados desta eleição dão a vitória aos partidos da coligação. Isso é inequívoco. Tal não significa, porém, que a maioria dos portugueses pretende, como referiu a Comissão ou Schäuble, “prosseguir o caminho das reformas” e que essas reformas e “medidas duras” sejam apoiadas pela maioria. Não sei se estes indivíduos tiveram a oportunidade de olhar para os resultados do sufrágio, mas a verdade é que a maioria dos portugueses votou à esquerda do espectro e que a coligação teve um resultado inferior ao resultado isolado do PSD em 2011, ficando abaixo dos 39%.

O resultado do sufrágio não significa, portanto, que os portugueses apoiam a precariedade laboral, impostos altos, redução das funções sociais do Estado, nomeadamente na Saúde, Educação e Acção Social, política de privatizações a preço de saldos e, entre outras, o empobrecimento generalizado. Isto não são reformas, são cortes cegos. E ainda que todos aqueles que votaram PàF fossem a favor de tais obscenidades – aqueles que sabiam que a coligação Portugal à Frente mais não era que um consórcio entre PSD e CDS-PP – é sempre bom recordar que falamos de 2.071.376 pessoas e nós por cá, mais coisa menos coisa, ainda somos 10 milhões.

Independentemente da sua filiação partidária, estou certo que a esmagadora maioria dos portugueses não deseja a austeridade ou tão pouco pagar com cortes, aumentos de impostos e alienação de património comum as aventuras de políticos e banqueiros irresponsáveis, corruptos e criminosos. O que não implica necessariamente fazerem escolhas eleitorais nesse sentido, que podem ser motivadas pelo medo, pela desinformação, pela propaganda ou por simples filiação partidária e sentimentos de ódio face a um inimigo que não o é. Declarações como estas mais não são que o habitual fanatismo ideológico da elite que nos comanda desde Berlim e Bruxelas, que não descansará enquanto não nos transformar numa colónia de férias de precários mal remunerados dependentes de caridadezinhas. Com o nosso alto patrocínio pois claro!

Comments

  1. O “PS” é de esquerda ?
    Muito me contam…

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      O tal que dizia há duas semanas que BE e CDU faziam o jogo da direita. Mas alguém tem dúvida que a actual chefia Europeia (seja ela quem seja) faz o que faz em Portugal porque o PS esteve sempre ao lado do PSD/CDS? O PS só muda de discurso quando está em campanha eleitoral. Só para enganar meninos …

  2. Edgar says:

    O fanatismo foi “pré”, é “pós” e vai continuar. Vivemos no império da desinformação e da manipulação.
    Uma mentira repetida muitas vezes…

  3. Nightwish says:

    Então, a crise e a austeridade não acabaram? Lá se vai a teoria de que daqui a um ano se demitem para ter maioria absoluta…

  4. José almeida says:

    Não estou totalmente de acordo João Mendes. O PS domina a política desde o 25 de Abril. Vai virando à esquerda e à direita, baralhando o eleitorado. No momento actual, e neste contexto, poderá haver a possibilidade de o PS ter saber quem são as melancias e os melões. Ou aceitam dividir o partido dentro da parlamento ou vamos para eleições antecipadas. Aí, a situação ficará clara, ou ganham os mesmos PuFs ou cria-se um ambiente “Siryza” no país. Estas eleições ainda não acabaram! Até lá “aguenta povo”.

  5. Ana Moreno says:

    Não me diga que não sabia – nem todos o que nela votaram – que a PàF ía continuar com a “política de austeridade”!!! Afinal o país é ainda mais surrealista do que eu pensava (ou desinformado, se preferir). Bem avisei que o voto na PàF ía ser interpretado como ok, continuamos muito bem comportados a aguentar, nós, os seguidores do “aluno exemplar”, não somos como os teimosos dos gregos. Onde está agora a ver o “fanatismo ideológico” do pessoal do mesmo clube???? É tudo uma questão de coerência… E lá nisso os conservadores dão à esquerda lições de mestre…

    • joão lopes says:

      o unico interesse das eleições portugueses(daí a presença de alguma comunicação social estrangeira) era mesmo para saber se os portugueses eram bons alunos(e são ,daí a vitoria do partido abstencionista),e como se portaram “bem” levam com mais um bocadinho de austeridade(agora às claras,ou seja mais brutal, porque o ps vai-se juntar ao partido da austeridade) ate porque “não há alternativa”.

      • José almeida says:

        Espero que não tenha razão. Há mais alternativas. Vamos ver como se comporta o PS.

        • joão lopes says:

          os portugueses são maiores e vacinados,não são crianças(embora pareçam,lembra-se dos 11 milhoes de Nº de TM para 10 milhoes de habitantes?),e quanto a mim não fiquei surpreendido nem quero adaptar a realidade á minha opinião.agora não concordo com a abstenção nem com quem se abstem(embora perceba a posição) porque o mais dificil da vida é tomar posições onde ate nos podemos enganar,mas estão tomadas.agora aqueles que se estão nas tintas,e ainda mandam bocas de cafe não passam de cobardes.e portugal está cheio de cobardes e chicos espertos e gente que so sabe falar,falar,falar…

          • José almeida says:

            Mereceu o meu “Like”.
            Como bem diz, respeita os abstencionistas. Por isso mesmo respeito o que escreveu, embora não perceba porque lhes chama cobardes se os respeita. Acho que os dados sobre a abstenção deve ser entendida como os do desemprego, ou seja, as abstenções aumentaram porque emigrou muita gente que não votou e estava nos cadernos eleitorais. Daí eu comparar ao dados do desemprego. Ainda em relação aos abstencionistas e votos em branco, é a esquerda que terá que arranjar soluções, confiança e liderança para os demover. Isto vai ter que acabar um dia….. ou talvez não……!

          • Nascimento says:

            Bem dito. Um abstencionista não passa de um cobarde, que nos intervalos manda umas bocas….

        • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

          Espere sentado. É apenas um conselho embora tenha a certeza que vai mesmo esperar… Portanto, que seja da forma mais cómoda.
          Há quarenta anos que andam a pregar a esquerda, os únicos democratas, os anti-extremistas e cada vez caem mais para a direita. Agora têm uma característica que sempre foi demonstrativo do oportunismo dessa gente: Já falam de esquerda … Pois, dá jeito. Vergonha é que há pouca, mas entretanto, vamos pintando a bandeira e tirar aquela mão miserável e substituí-la por uma rosa … e concorrendo com vários candidatos para o mesmo lugar para que a direita ganhe confortavelmente… E depois, quem faz o jogo da direita é o BE e a CDU. Pois é…

          • José almeida says:

            Vou esperar sim, mas espero que não seja por muito tempo. O PS terá que se definir. Estavam, eles, a ver a luz ao fundo do túnel, mas era o Alfa. Sim, o pendular. Eles se viabilizarem o governo vai ser uma tragédia que os seus votantes jamais esquecerão. O espetáculo segue dentro de momentos com a comunicação do Cavaco….

    • Nightwish says:

      Claro que há muita gente que não sabia, e que acha que já não há crise nem cortes na TINA. Espere pelo orçamento e verá as reacções.

  6. Ana Moreno says:

    E como a esperança é a última a morrer e os nossos “hermanos” têm bem mais coragem e energia (até da criminosa, lamentávelmente), resta agora fazer figas para que o resultado das eleições em Espanha seja menos surreal e possa contribuir para um pequeno deslocamento das relações de força na UE; Portugal já perdeu, por agora, a oportunidade… ai os brandos costumes….

  7. Jaculina says:

    Mais de 70% votaram a favor da austeridade e dos troikanos. O resto é conversa para enganar papalvos.

  8. Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

    Caro José Almeida.
    Tenho a certeza que o PS, mesmo depois de dizer do orçamento o que Maomé não disse da Bíblia, vai aprová-lo com a direita. E tenho a certeza que na sua “angelical e habitual espírito de concórdia”, vai viabilizar o governo de direita. E mnesmo que se abstenha isso nada mais, nada menos é que a viabilização.
    Vai uma aposta? 🙂
    Desde Soares que assim trabalham excepto nas alturas em que fizeram governo com o PSD e com o CDS. Aqui casaram-se mesmo.

    • José almeida says:

      Caro Ernesto Ribeiro,
      Evidentemente que o PS vai viabilizar e não aprovar o orçamento. Foi notório nos últimos dias de campanha que nem o PS nem os PuFs queriam a maioria absoluta, mas o PS não contava perder as eleições. Ambos baixaram as cuecas e viraram o rabo. Rabo com rabo não dá. Nem para lésbicos. O problema é que a Europa quer orçamento aprovado e decisões, por isso há que rever em alta os ordenados da Polícia e GNR, comprar mais carros anti-motim e canhões de água porque isto vai ser duro até ao 2o e inevitável resgate. O pais está num caos que só este período eleitoral conseguiu anestesiar.Até lá, espero que a esquerda se entenda, e não convoque comícios em diferentes locais para defender os mesmos interesses.
      Por estes motivos, não aposto! Abraço.

  9. Rui Moringa says:

    Por isso votei CDU.
    Ao menos estes não enganam. São marxistas e querem-nos fora do Euro.
    Nunca deveríamos ter entrado. Foi com a mão do PS que entramos nessa aventura do Euro.
    Era leite e mel a escorrer todos os dias…E nada de banca rota, era para evitar banca rota,,,
    Vigaristas…

  10. Abel B. says:

    É óbvio que a maioria dos portugueses, mesmo muitos dos que votaram PSD/CDS, não querem continuar com a austeridade, mas as afirmações desses senhores não podiam ser outras.
    O Passos Coelho teve a maioria dos votos porque, na minha modesta opinião, muito do seu eleitorado é dos meios rurais onde, apesar de tudo, menos se faz sentir a austeridade. Acresce que a maioria dos eleitores, sobretudo os do Norte (de onde sou), é de idade avançada e sempre tiveram como referência os partidos da direita nos quais votam sempre, independentemente das circunstâncias (seguindo a máxima: “os outros não fazem melhor”).
    Há ainda a considerar a massiva desinformação dos órgãos de informação, com os seus comentadores, ao serviço do PSD e que facilmente toldam a mente daqueles que têm como companhia diária os canais generalistas da televisão portuguesa.
    Outro factor que creio ter tido peso é o facto de boa parte dos portugueses (aqueles que directa ou indirectamente não sofreram consequências dessa política) terem uma opinião muito positiva sobre a “reforma” do estado feita pelo governo.

  11. Filipe says:

    O PS vai ter que decidir se apoia a coligação ou a boicota. Não é possível jogar nos dois lados do terreno.

    • Ernesto Martins Vaz Ribeiro says:

      Jogar nos dois lados do terreno, tem sido a especialidade desses caramelos.
      Só são de esquerda quando estão em campanha eleitoral. Porque haveria de mudar se as pessoas são sempre as mesmas (até nisto o PS é pendular)…

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